Chegam as boas intenções para tornar uma acção moralmente bondosa?
É a intenção ou o fim o único motivo que explica uma acção? Para além de nos interrogarmos: “O que fiz eu?” (finis operis), também temos que questionar: “Por que razão eu fiz isto?” (finis operantis). O finis operisé objectivo, enquanto o finis operantisé subjectivo. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) ensina no ponto 1752: “Em face do objecto, a intenção coloca-se do lado do sujeito que age. Porque está na fonte voluntária da acção e a determina pelo fim em vista, a intenção é um elemento essencial na qualificação moral da acção. O fim em vista é o primeiro dado da intenção e designa a meta a atingir pela acção. A intenção é um movimento da vontade em direcção ao fim; diz respeito ao termo do agir. É o alvo do bem que se espera da acção empreendida. Não se limita à direcção das nossas acções singulares, mas pode ordenar para um mesmo fim acções múltiplas: pode orientar toda a vida para o fim último. Por exemplo, um serviço prestado tem por fim ajudar o próximo, mas pode ser inspirado, ao mesmo tempo, pelo amor de Deus como fim último de todas as acções. Uma mesma acção pode também ser inspirada por várias intenções, como prestar um serviço para obter um favor ou para satisfazer a vaidade”.
E de que modo a intenção resulta numa acção bondosa ou maldosa? O CIC explica no ponto 1753: “Uma intenção boa (por exemplo: ajudar o próximo) não torna bom nem justo um comportamento em si mesmo desordenado (como a mentira e a maledicência). O fim não justifica os meios. Assim, não se pode justificar a condenação dum inocente como meio legítimo para salvar o povo. Pelo contrário, uma intenção má acrescentada (por exemplo, a vanglória) torna mau um acto que, em si, pode ser bom (como a esmola) [Mt., 6,24]”.
Em resumo: podemos, pois, enunciar os seguintes princípios.
1– Acções indiferentes:
(1.1) Quando a acção ou objecto é em si aparentemente indiferente, uma boa intenção torna a acção boa.
(1.2) Quando a acção ou objecto é em si aparentemente indiferente, uma má intenção torna a acção má.
Portanto, podemos dizer, a partir destes dois princípios, que embora a acção possa, abstractamente, ser considerada indiferente, quando a acção é deliberada (ou seja, realizada com conhecimento e consentimento), então ela é boa ou má.
2– Acções boas em si:
(2.1) Quando a acção ou objecto é bom, uma boa intenção torna-se melhor.
(2.2) Quando a acção ou objecto é bom, uma má intenção torna-se menos boa ou até mesmo má.
3– Acções más em si:
(3.1) Se a acção ou objecto é mau, uma boa intenção torna-se menos má, mas nunca completamente boa. Assim, nunca é lícito fazer algo mau, mesmo que a intenção seja boa.
(3.2) Se a acção ou objecto é mau, uma má intenção torna-se pior.
O Catecismo da Igreja Católica conclui no ponto 1756: “É, portanto, erróneo julgar a moralidade dos actos humanos tendo em conta apenas a intenção que os inspira, ou as circunstâncias (meio, pressão social, constrangimento ou necessidade de agir, etc.) que os enquadram. Há actos que, por si e em si mesmos, independentemente das circunstâncias e das intenções, são sempre gravemente ilícitos em razão do seu objecto; por exemplo, a blasfémia e o jurar falso, o homicídio e o adultério. Não é permitido fazer o mal para que dele resulte um bem”.
Pe. José Mario Mandía