Papa diz ser urgente «respeitar» os povos indígenas
O Papa Francisco disse na passada segunda-feira, durante o discurso inaugural do Sínodo especial para a Amazónia, que é preciso «respeitar a história, as culturas, o estilo do bem viver» dos povos indígenas, sem os querer «domesticar».
«Os povos possuem uma sabedoria própria, consciência de si, têm um sentir, uma forma de ver a realidade, uma história, uma hermenêutica, e querem ser protagonistas da sua própria história», declarou, na sala do Sínodo, do Auditório Paulo VI, onde decorrem os trabalhos até 27 de Outubro.
Francisco questionou a divisão «civilização-barbárie», que foi usada para «aniquilar» os povos originários, e deu exemplos de «discriminação» que ainda existem no seu próprio país, a Argentina. «É o desprezo pelos povos», lamentou.
O Papa criticou quem «troça» dos indígenas e questionou mesmo os bispos presentes, a respeito de um comentário sarcástico que ouviu no Vaticano: «Que diferença há entre usar penas na cabeça e o tricórnio[chapéu eclesiástico]que usam alguns oficiais dos nossos dicastérios?».
A intervenção identificou como perigos para os povos amazónicos os projectos centrados em três ideias: «desflorestação, uniformização, exploração». «As ideologias são uma arma perigosa», advertiu Francisco.
O Pontífice precisou que esta assembleia especial sobre a região pan-amazónica, que engloba nove territórios nacionais, se vai centrar em quatro dimensões: pastoral, cultural, social e ecológica.
«Aproximamo-nos com coração cristão e vemos a realidade da Amazónia com olhos de discípulo» e com «olhos de missionários», afirmou.
Francisco pediu que os vários participantes – bispos, missionários, representantes indígenas e outros especialistas – se mantenham «alheios a colonizações ideológicas que destroem ou reduzem as idiossincrasias dos povos», sem o «afã empresarial» de apresentar programas, de «disciplinar» os povos amazónicos. «Isso não», insistiu.
Recordando alguns «fracassos» na história missionária, o Papa observou que, muitas vezes, um «centralismo homogeneizante e homogeneizador» não deixou surgir a «autenticidade da cultura dos povos».
O Sínodo de 2019 – acrescentou – quer ter uma perspectiva «paradigmática, que nasce da realidade dos povos», numa passagem do discurso, em Espanhol, sublinhada com uma salva de palmas pela assembleia.
«Não estamos aqui para inventar programas de desenvolvimento social ou de custódia de culturas, do tipo de um museu», prosseguiu.
Após considerar normal que haja «resistências», Francisco sublinhou que esta assembleia especial não é «um parlamento», nem uma demonstração de «quem tem mais poder nos media, nas redes sociais», pedindo prudência na comunicação, para evitar «um Sínodo de dentro e um Sínodo de fora».
In ECCLESIA