Papa apela ao combate espiritual.
O Papa Francisco alertou que «a barca da Igreja é atingida por ventos contrários e violentos», tendo lançado para este mês de Outubro – especialmente dedicado ao Rosário – um forte apelo à oração, nomeadamente contra Satanás, o inimigo número um da Igreja e de todos os cristãos. O apelo convida os fiéis, de todos os continentes, a rezarem o Santo Rosário todos os dias, pedindo à Virgem Maria e a São Miguel Arcanjo que protejam a Igreja do inimigo, nestes tempos difíceis. O Papa pede para se adicionar ao Terço a oração “Sob Vossa protecção”, à Santíssima Virgem Maria, e uma outra oração a São Miguel Arcanjo (composta pelo Papa Leão XIII). D. Stephen Lee, bispo de Macau, uniu-se ao Papa nesta senda. Para o efeito, fez publicar na edição d’O CLARIM da passada sexta-feira uma Cúria Diocesana respeitante ao tema. E o que sabemos nós sobre São Miguel Arcanjo e outras entidades angélicas?
São Miguel Arcanjo é, provavelmente, o mais famoso dos defensores de Deus e do Seu Povo contra o mal, este personificado no anjo rebelde Lúcifer, que optou por se afastar eternamente do Criador. Ao longo dos séculos, São Miguel Arcanjo tem sido representado na arte sacra, desde a pintura à escultura, aparecendo-nos com uma espada na mão e uma cabeça de dragão (símbolo de Satanás ou Lúcifer) debaixo dos seus pés.
O arcanjo Miguel, na Bíblia, aparece em Daniel (10:12), na Carta de Judas (1:9) e no Apocalipse (12:7). Em Daniel, o arcanjo Miguel é um príncipe que combate o mal. Na Carta de Judas, surge como o anjo do Senhor que, conforme Zacarias (Zc., 3:1-2), se opõe a Satanás.
De uma forma geral, o nosso relacionamento com os anjos é quase nulo. Agimos muitas vezes ignorando a existência destes seres angelicais. No entanto, as Sagradas Escrituras revelam-nos que existem verdadeiramente: são uma criação extraordinária de Deus, situada, hierarquicamente, entre o homem e o Criador. Muitos santos também nos recordaram, pela sua vivência, a importância da nossa relação com o nosso anjo protector – conhecido por anjo da guarda – que nos acompanha desde o ventre da nossa mãe.
Os anjos assemelham-se a Deus de forma quase perfeita; são inteiramente espirituais, não possuindo um corpo físico. O Homem, ao contrário, sendo formado por corpo, espírito e alma, assemelhar-se-á a Deus somente… no espírito e na alma.
Em regra, os anjos encontram-se no Céu, na presença de Deus todo-poderoso. Ali O contemplam, O adoram e O bendizem, estando unidos a Ele por toda a eternidade. Excepcionalmente, podem estar em outros lugares, inclusivamente na terra, executando ordens divinas. Adquirem, quando necessário, um corpo físico, como vemos na narrativa do livro de Tobias (Tobias 12:15), ou agindo num corpo celeste (Daniel 7:10; Isaías 6:2; Mateus 18:10; Apocalipse 5:11).
Pelo estudo dos anjos (Angelologia), verifica-se que estes seres angélicos estão presentes em muitos livros da Bíblia, começando pelos Querubins, que no livro do Génesis são colocados a vigiar o caminho para a árvore da Vida no jardim do Éden (Gn., 3:24), até ao Apocalipse, que apresenta os céus cheios de anjos.
No que diz respeito às diferentes hierarquias angélicas, a Bíblia menciona explicitamente os Serafins, Querubins, Tronos, Dominações, Principados, Potestades, Virtudes do Céu, Arcanjos e Anjos. Estas são as ordens que sabemos ao certo (Isaías 6:2; Hebreus 9:5; Colossenses 1:16; Efésios 1:21; 1 Tessalonicenses 4:15; Judas 1:9).
Os arcanjos são enviados por Deus em missão junto dos Homens, considerados os mais importantes intermediários. Os três arcanjos mais conhecidos são: Miguel (Quem como Deus), Gabriel (Força de Deus) e Rafael (Medicina de Deus). A Igreja celebra a festa destes arcanjos no dia 29 de Setembro.
A palavra hebraica usada para anjo é “Mal’ak”, que significa “mensageiro”. Em Grego esta palavra foi traduzida com o vocábulo “Anghelos”, de onde deriva “Anjo” em Português. O vocábulo, no Antigo Testamento, aparece 215 vezes e torna-se até nome de um dos profetas, Malaquias, que em Hebraico significa “Anjo do Senhor”.
SÃO MIGUEL E OS ANJOS CAÍDOS
A história de São Miguel Arcanjo está ligada ao relato da queda dos anjos no livro do Apocalipse. Deus criou-os, antes mesmo da criação do mundo, inseridos, de algum modo, no tempo, e ofereceu-lhes uma ocasião para demonstrar o seu amor. É importante lembrar que quando Deus criou os anjos estes não estavam na Sua presença. Ele revelou-se de alguma forma, mas não face a face, pois isso obstruiria a liberdade angélica: Deus é uma verdade tão atraente que, uma vez contemplada, elimina a capacidade de escolha das criaturas. Então, certa vez, para testar o seu amor, Deus deu-lhes uma provação. Sabe-se disto pela tradição da Igreja, mas também pelo ministério dos exorcistas, que expõe inúmeros factos que o demónio não suporta, como a encarnação do Verbo Divino, o aniquilamento e derrota de Satanás na Cruz, e por fim a posição de primazia de Nossa Senhora entre todas as criaturas. Foi por tais ideias que Lúcifer – um anjo possuidor de glória e beleza – juntamente com um terço dos anjos, caíram e foram retirados do Céu. «Com a sua cauda, varreu a terça parte das estrelas do céu e lançou-as à terra…» (Ap., 12:4). O relato da batalha travada no Céu está resumido no livro do Apocalipse de São João Evangelista: «Depois, travou-se uma batalha no céu: Miguel e seus anjos declararam guerra ao Dragão. O Dragão e os seus anjos combateram, mas não resistiram. E nunca mais encontraram lugar no céu: o grande Dragão, a Serpente antiga – a que chamam também Diabo e Satanás – o sedutor de toda a humanidade, foi lançado à terra; e, com ele, foram lançados também os seus anjos» (Ap., 12:7-9).
RELATO DE UM EXORCISTA
O padre exorcista José Antonio Fortea, teólogo espanhol especializado em demonologia, no seu livro “História do mundo dos anjos“, apresenta uma rica teologia angélica, em formato de ficção literária, para explicar por que São Miguel, mesmo sendo de uma hierarquia inferior, é aclamado como “Príncipe da Milícia Celeste”. O autor coloca na boca de um anjo a seguinte narração: “Dentre os anjos fiéis a Deus, no meio de todas essas lutas, houve um que se destacou. Não se tratava de um anjo superior, mas o seu amor era superior. Foi ele quem manteve mais viva a chama da fidelidade nos piores momentos da batalha, quando tudo estava escuro e parecia que metade dos anjos iriam rebelar-se. Foi destacado no bem e a sua fé iluminou a muitos. Foi ele quem no momento mais escuro, na hora mais terrível no qual as multidões começaram a duvidar, no meio do inicial silêncio geral gritou: ‘– Quem como Deus!’.
Foi assim que ficou o seu nome: Mika-El, Miguel. O lutador infatigável e invencível. Miguel continuava a destacar-se como guerreiro. A luz do seu veemente amor iluminou a muitos que estavam confusos. O seu amor arrebatador derrubou muitos que lutavam em favor do erro. Inclusive, aqueles que combatiam com Lúcifer reconheciam que nenhum dardo envenenado com suas razões poderia penetrar a couraça da sua fé inquebrantável. No meio da dúvida, ele foi imbatível.”
ORAÇÕES A PEDIDO DO PAPA
Oração a Nossa Senhora: “À Vossa protecção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita!”.
Oração a São Miguel Arcanjo: “São Miguel Arcanjo defendei-nos no combate. Sede o nosso refúgio contra as maldades e ciladas do demónio. Que Deus manifeste o seu poder sobre ele. Eis a nossa humilde súplica. E vós, Príncipe da Milícia Celeste, com o poder que Deus vos conferiu, precipitai no inferno Satanás e os outros espíritos malignos, que andam pelo mundo tentando as almas. Amém!”.
Miguel Augusto
com Aleteia e site do Padre Paulo Ricardo (professor de Teologia e evangelizador)
Legenda: São Miguel Arcanjo. Peça de Altar (painel central), pelo pintor holandês Gerard David, 1510.