Jovens em aliança com o Papa.
O Papa convocou os jovens de todo o mundo à Praça de São Pedro, para estarem presentes na missa dominical do passado dia 24 de Abril, dedicada ao Jubileu da Misericórdia, tendo estes respondido de forma positiva ao chamamento de Francisco. O CLARIM foi testemunha da alegria e cor levada para Roma por milhares de jovens, desde o aeroporto de Fiumicino, até ao Vaticano, ao longo de dois dias.
Primeira paragem: Estação Central de Roma, mais conhecida por Termini, local onde confluem as duas linhas de metro que servem a cidade e a rede de transporte ferroviário que liga a capital ao resto da Itália.
O corrupio no exterior da estação não denuncia qualquer festividade. Roma é, porventura, a urbe mais visitada do mundo, pelo que os muitos turistas que se concentram junto dos autocarros ou que percorrem as ruas adjacentes são um dado diariamente adquirido.
Depois de termos estado na basílica de São Paulo (extramuros) em 2014, por ocasião das canonizações dos Papas João Paulo II e João XXIII, um dos objectivos de mais uma presença d’O CLARIM em Roma é visitar as basílicas de Santa Maria Maior, São João de Latrão e de São Pedro.
Caminhamos, pois, em direcção a Santa Maria Maior, sob um sol que começa a dar sinal de querer aquecer, ou não estivéssemos na Primavera.
Descemos a Via Cavour até às traseiras da basílica, onde um vendedor de “sticks” para telemóvel nos aborda com alguma insistência – as “selfies” são uma praga também na Europa – quase que nos perseguindo até à porta da frente do local de culto. Embora seja cedo, a Praça Maria Maior está repleta de pessoas, não se conseguindo distinguir o comum cidadão italiano dos turistas e peregrinos.
Surgem então os primeiros sinais de que algo importante está para acontecer na cidade. Na fila para a entrada na basílica, que não é feita sem a passagem por um detector de metais, dezenas de jovens aglomeram-se, cumprindo as ordens de alguém mais velho.
Num primeiro olhar parece estarmos perante grupos de amigos, mais ou menos organizados, que de forma espontânea decidiram passar uns dias na antiga capital do Império Romano. No entanto, a frase nas t-shirts que envergam ou nas fitas colocadas na cabeça revelam o propósito da viagem – “Misericordiosos como o Pai”, o lema do Ano Jubilar da Misericórdia. De corpo e alma vieram para estar com o Papa. Pertencem a movimentos católicos, são escuteiros, voluntários, almas que procuram na Igreja uma resposta aos desafios do quotidiano.
Terminada a visita a Santa Maria Maior, onde tivemos a oportunidade de participar em missa realizada numa das capelas que a compõem, seguimos para a basílica de São João de Latrão. Talvez o facto de se encontrar um pouco afastada do centro da cidade possa explicar a quase ausência de jovens e um menor número de visitantes em comparação com outras atracções turísticas.
O nosso próximo destino é o bairro de Trastevere, para onde nos dirigimos tomando um caminho secundário, por entre muros altos de propriedades senhoriais. A meio do percurso somos surpreendidos com cânticos em Castelhano entoados por jovens que se encontram no átrio de uma pequena igreja. A letra e a melodia são acompanhadas por coreografias, numa alegria contagiante.
Trastevere faz lembrar o Bairro Alto de Lisboa, com a diferença de ser mais limpo e cuidado, e não ter vida apenas de noite. Há muitas opções para almoçar, ou para simplesmente matar a sede, há lojas, igrejas e alguma animação de rua.
Saciada a fome, dirigimo-nos para o Campo das Flores (Campo de’ Fiori), cujo mercado é dos mais afamados da cidade. Ali cruzamo-nos com centenas de jovens – uns sentados, outros a circular pela praça – devidamente vigiados pelos seus monitores. Mas ainda não é aqui que tudo se desenrola, como viemos a descobrir passados alguns minutos.
Levados pela corrente formada pela multidão que ocupa as ruas, desembocamos na Praça Navona, onde milhares de jovens estão concentrados, proporcionando um ambiente alegre a quem por ali passa. Há de tudo um pouco, desde grupos exclusivamente femininos, até movimentos liderados por irmãs e frades, passando por voluntários ligados a organizações sem fins lucrativos. Reinam os cânticos ao som das guitarras, as fotografias tiradas para a posteridade e acções de solidariedade e de promoção do Ano Jubilar da Misericórdia.
O nosso périplo haveria de terminar no dia seguinte, junto aos muros do Museu do Vaticano, já depois de terminada a missa dominical, presidida pelo Papa Francisco, não havendo milímetro de relva na Piazza del Risorgimento que não tivesse ocupado por jovens fiéis.
Esperança no futuro
No momento em que o Ocidente, particularmente o mundo cristão, sente a ameaça do extremismo islâmico, a resposta dos jovens ao chamamento do Papa é um sinal de esperança à continuidade dos valores defendidos pela Igreja.
As recentes concessões dos líderes europeus ao Islão, em detrimento da liberdade – conquistada durante séculos – da cultura e do modo de vida ocidentais, têm enfraquecido os valores cristãos que norteiam o mundo civilizado, com graves consequências para o futuro das sociedades livres e igualitárias.
Sendo que os jovens são o garante das próximas gerações, o amor de Francisco pelos mais novos poderá levar a que o actual processo de islamização da Europa seja travado em prol do humanismo cristão.
O elevado número de jovens que se deslocou a Roma nos últimos dias poderá ser encarado como um balão de ensaio para a próxima Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que este ano tem lugar na Polónia, em Cracóvia, a terra natal do Papa João Paulo II.
Depois do sucesso da JMJ de 2013, realizada no Rio de Janeiro, a edição de Cracóvia é encarada com grande expectativa, uma vez que coincide com o Jubileu da Misericórdia, ao qual os jovens têm aderido de forma efusiva, como comprovou o último Domingo em Roma.
José Miguel Encarnação
em Roma