Medicamento dá dor de cabeça
O próximo mês de Julho marca o arranque dos preparativos com vista a regressarmos ao nosso barco no final deste ano.
O facto de sermos uma família de três, com uma menor a bordo, torna o planeamento da viagem mais complicado, pois temos de acautelar os meses que a criança vai estar fora do ensino oficial. Não que achemos necessário o dito ensino oficial, mas infelizmente as leis e a burocracia assim o exigem. A Maria vai deixar a escola “física” a meio do ano lectivo. Se tudo correr dentro dos prazos previstos, irá regressar nas últimas semanas do ano escolar. Para nós, o mais importante é não perder a festa de fim de ano e a respectiva cerimónia de graduação no Ensino Pré-Primário.
Para além dos critérios relacionados com a criança e o seu ensino, há um outro detalhe que não tínhamos de ter em conta quando demos início à nossa aventura em 2014: o estado de saúde da NaE. Apesar de tudo indicar que se encontra estável, necessita de constante monitorização e, mais importante ainda, de medicação diária e mensal.
Relativamente à medicação diária do foro oncológico, a situação está resolvida, dado que o seu médico assistente pode receitar medicamentos até seis meses. Sendo também ele um apaixonado por barcos, que vê com bons olhos o nosso regresso à água, tem reforçado a prescrição trimestral para que haja sempre excedente em casa.
Já a medicação mensal, uma vez que é injectável, não pode ser receitada e guardada em casa. Em Portugal apenas no local onde se efectua o tratamento é que se pode ter acesso a este tipo de medicamento, pelo que temos andado ocupados a pesquisar onde e como adquiri-lo nos vários países e territórios das Caraíbas. Até ao momento, sabemos que em Curaçao há a mesma medicação e que pode ser comprada na farmácia mediante receita médica. A prescrição do oncologista do Instituto Português de Oncologia em Coimbra é suficiente. Quanto ao preço, a conversa é outra. Como é impossível contornar este “pormaior”, teremos mesmo que pagar do nosso bolso, ao contrário do que acontece em Portugal, onde todo o tratamento é gratuito. Mais caro do que em Curaçao só em Saint Martin, tanto do lado holandês como francês, sendo que também se pode adquirir na farmácia por meio de receita prescrita em Portugal.
Em Martinica o panorama é outro: o preço é mais em conta – cerca de metade – e é igualmente possível adquiri-lo nas farmácias, mas infelizmente a NaE não pode ter acesso ao medicamento, se não estiver a ser tratada no Hospital Médico da ilha, conforme nos foi explicado por um dos funcionários desta unidade de ensino.
Visto serem estas as ilhas onde devemos passar os meses que irão anteceder a nossa travessia rumo a Portugal, pensamos que não haverá necessidade de continuar a trocar e-mails com as autoridades de outras ilhas na região. Até porque, na sua maioria, trata-se de infra-estruturas médicas mais “frágeis”, em comparação com as das ilhas que servem de ligação à Europa.
Com base nestes dados e nos valores que conhecemos, estamos a ponderar aderir a um seguro de saúde em Portugal que nos possa ajudar a minorar os encargos, nomeadamente os relacionados com o acesso a médicos e enfermeiros. É que mesmo que tenhamos o medicamento será preciso recorrer a um médico ou enfermeiro para o administrar correctamente.
Quem nunca preparou uma viagem desta envergadura dificilmente entende a importância de todos os detalhes e da quantidade de tempo gasto para evitar erros. Claro está que é impossível organizar um projecto com estas características, estando de antemão à espera que tudo corra consoante o programado. Há que ter em conta o maior número possível de variáveis, para que se algo falhar possamos ter mais uma ou duas opções por forma a minimizar os efeitos negativos.
Neste aspecto, para além do preço, temos de ponderar o facto de acontecerem imprevistos que nos impeçam de estar em determinado local em determinada altura, ruptura de estoque, dificuldade no acesso a cuidados médicos, etc., etc. Como tal, temos de estar ao corrente do que se pode comprar em cada ilha e assim programar as etapas com o objectivo de estarmos a cada trinta dias num hospital ou centro de saúde.
O lado bom da questão é não ser um medicamento estritamente necessário. O próprio médico assistente já pondera interromper a sua toma. Aliás, a NaE já esteve um mês de “jejum” e tudo indica que em nada afectou o linear decorrer do tratamento em curso. Mais complicado seria não termos acesso à medicação diária. Aí sim, penso que nem o médico responsável nos daria permissão para estarmos fora durante tanto tempo.
Entretanto, como a nossa vida não é apenas o barco, até dia 24 de Julho iremos andar no Reino dos Algarves a servir comida tailandesa aos veraneantes. Há dois eventos públicos que irão contar com a nossa presença: um em Lagos e outro em Portimão.
Em Agosto regressamos ao Sul, desta vez para assegurarmos o “catering” de uma festa de noivado de um indiano com uma cingalesa – dois canadianos de nacionalidade, cuja família tem uma moradia de férias em Portugal. Serão seis dezenas de convivas, num evento de três horas.
João Santos Gomes