Reflexão

Europa, terra de missão, de volta aos primórdios do Cristianismo?

Um estudo do Pew Research Center (**), com sede nos Estados Unidos, demonstra que, na Europa, Deus está cada vez mais longe da crença e da vida dos europeus, apesar de a identidade cristã permanecer importante para a maioria.

Seguindo, à letra, um texto da Rádio Renascença, dos inquiridos no estudo, 91% são baptizados e 81% foram educados na fé cristã, mas apenas 71% se afirmam cristãos. Desses, só 22% mantêm uma prática religiosa regular. Alguns dizem que se “distanciaram gradualmente da religião”, outros que “deixaram de acreditar nos ensinamentos religiosos”, e houve quem se tenha afastado devido a “escândalos ou posições adoptadas pela Igreja em relação a temas sociais”. Por países, a percentagem dos que se dizem cristãos é elevada e o primeiro lugar do pódio vai para Portugal, com 83%, seguido de Itália, Irlanda e Áustria, com 80% cada, 77% na Finlândia, 75% na Suíça, 73% no Reino Unido e 71% na Alemanha.
Em Espanha desce para os 66%, 65% na Dinamarca e 64% em Franca, 55% na Bélgica, 52% na Suécia, 51% na Noruega, e 41% na Holanda. Em todos houve um aumento dos que se dizem “não praticantes” e “sem religião”. Em Portugal, onde a Igreja Católica é maioritária, há 35% de “cristãos que vão à Igreja”, 48% “não praticantes” e 15% “sem religião”. A Holanda é o país com menos cristãos praticantes (apenas 15% vão à Igreja) e com mais pessoas “sem religião” (48%). Na Finlândia, apesar da percentagem elevada dos que se dizem cristãos, apenas 9% vão com regularidade à Igreja, havendo 68% “não praticantes”.

De uma forma geral, a identidade cristã da Europa continua a ser considerada importante na maioria dos países, onde muitos inquiridos continuam a educar os filhos como cristãos (70% da população geral, 97% dos “cristãos praticantes” e até 87% dos “não praticantes” garantem que sim). Mas há diferenças que se vão acentuando entre os que, tendo fé, a vivem de maneira diferente: 64% dos cristãos que vão com frequência à Igreja acreditam na descrição bíblica de Deus, mas os “não praticantes” tendem a acreditar num “poder superior ou força espiritual” (51%)…

Estamos numa Europa, a fugir cada vez mais de um Cristianismo querigmático onde o primeiro anúncio de Cristo morto e ressuscitado se dilui numa prática individualista, sem referência ao Cristo total e à comunidade. Urge, pois, activar uma pastoral missionária de iniciação cristã dos que ainda se dizem “cristãos”, e ousar uma evangelização de primeiro anúncio ao estilo apostólico dos primeiros tempos, seguida de uma caminhada catecumenal que leve os europeus a optar livre e conscientemente por Cristo e pela sua Igreja. Para serem muitos ou mesmo maioria? Não necessariamente. Para serem luz e sal nesta Europa que necessita de uma recarga de sentido para a vida e de maior abertura ao outro.

ARTUR DE MATOS 

Director da revista Boa Nova – actualidade missionária

(**) Estudo conduzido em quinze países europeus (Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Holanda, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça e Reino Unido), com base em 24 mil entrevistas telefónicas a adultos, realizadas entre Abril e Agosto de 2017.

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