Ser feliz é aceitar as circunstâncias da vida

RECEITA PARA ENFRENTARMOS A PANDEMIA E OUTRAS CONTRARIEDADES

Ser feliz é aceitar as circunstâncias da vida

Há dias fazia uma caminhada indo ao encontro de uma amiga de longa data para um almoço de Natal. Estava feliz. Há tantos anos que nos conhecíamos. Tínhamos atravessado toda uma série de bons e menos bons momentos ao longo dos anos. Ainda que às vezes distantes, a amizade manteve-se. Cheguei cedo. Aproveitei para disfrutar a belíssima paisagem que usufruía no Jardim do Torel. Sentada num banco do jardim, que tinha um poema escrito, ouvi os sinos tocar, observei as gaivotas a esvoaçar, admirei o rio Tejo ao longe, observei os aviões a passar. As crianças no recreio soltavam gritos de alegria. O sol de inverno aquecia-me o coração. Na verdade, a cidade a meus pés brilhava em todo o seu esplendor. Alguns barcos circulavam ao longe. Questionei interiormente: “E Tu Jesus onde estás?”. Sinto a Tua presença em todos os locais. No sol que me aquece o coração, nos gritos das crianças, nos transeuntes que passam. Consegui acalmar o desassossego que me invadia nesta varanda aberta para o mundo e para a vida. Que belo momento de descanso. Os acordes de uma guitarra integrados na paisagem recordavam a beleza da cultura enquanto parte integrante da nossa vida que nos traz um pouco do céu à terra.

Vieram-me ao pensamento as palavras do Papa Francisco sobre o silêncio: «Devemos aprender de José a cultivar o silêncio: aquele espaço de interioridade nos nossos dias nos quais damos ao Espírito a oportunidade de nos regenerar, de nos consolar, de nos corrigir». O silêncio de José não é mutismo, é um silêncio cheio de escuta, um silêncio laborioso, um silêncio que faz emergir a sua grande interioridade. Como seria bom se cada um de nós conseguisse recuperar esta dimensão contemplativa da vida aberta pelo silêncio… O filósofo Pascal observou que “toda a infelicidade dos homens provém de uma só coisa: não saber ficar tranquilo num quarto”. Considerei que na verdade às vezes andamos numa actividade enorme, sem pausas, sem momentos de silêncio. O Papa acrescentou: «A profundidade do coração cresce com o silêncio, silêncio que não é mutismo mas que deixa espaço para a sabedoria, a reflexão e o Espírito Santo. Não tenhamos medo dos momentos de silêncio. Isso far-nos-á muito bem». Entretanto recebo uma mensagem da minha amiga que já se encontrava à minha espera. Que bem que me causou este espaço de silêncio!

E durante o almoço colocámos as novidades em dia. O ano tinha sido extremamente complicado. Acabámos por recordar que “ser feliz é aceitar as circunstâncias da vida”. No Natal Deus quer que estejamos alegres e felizes pese embora as contrariedades existentes. Ou seja, a nossa vida tem um sentido. As dificuldades também. Não devemos esquecer que quem faz anos é Jesus. Que bom que nasça mais uma vez no nosso coração! E o seu nascimento não foi o ideal no meio de tantas dificuldades. O Filho de Deus não teve uma casa com todo o conforto, mas sim uma gruta e reclinou a cabeça numa manjedoura, envolto em panos. Mas usufruiu certamente de muito amor e alegria. Que maravilhoso exemplo que nos dá a Noite Santa. E Maria que esteve logo disponível para O acolher. Bem, temos mesmo de procurar ser felizes nas circunstâncias concretas em que vivemos, aceitando a vontade de Deus. E a conversa continuou fluindo alegremente recordando agora os bons momentos vivenciados. Que reencontro maravilhoso!

Quando deixei a minha amiga pensei como era importante levar a alegria aos outros ainda que as nossas circunstâncias pessoais não sejam as melhores. É difícil, mas não impossível. Nesta época natalícia surgem quase sempre problemas familiares de vária ordem, que nos causam alguma tristeza. Mas é importante encontrar mecanismos de defesa quando não conseguimos resolver as questões em causa. O melhor mesmo é deixar as nossas preocupações no regaço de Maria com muita fé, e pedir-lhe a sua intercessão e ajuda. Maria, enquanto Mãe e Medianeira de Deus, não deixará certamente de nos escutar e de interceder por nós, guiando-nos para os caminhos da paz. Jesus nascerá para cada um de nós tornando-nos Filhos de Deus logo herdeiros do Céu. Enquanto Pai, ama-nos como somos com os nossos defeitos, qualidades, limitações… Deus nunca chega tarde para socorrer os seus filhos. Ter plena confiança em Deus, com os meios humanos que seja necessário colocar, que nos dão uma fortaleza singular e uma serenidade especial perante os acontecimentos e as circunstâncias adversas. «Tu és Senhor a minha fortaleza». Maria ensinar-nos-á, nestes dias repletos da paz do Natal e sempre, a comportar-nos como Filhos de Deus. Recordo algumas citações alusivas à Nossa Mãe do Céu: «Como a videira deitei formosos ramos e as minhas flores deram formosos e ricos frutos. Eu sou a mãe do amor formoso, do temor, da ciência e da santa esperança. Maria proclama que a chamarão bem-aventurada todas as gerações, porque fez em si grandes coisas aquele que é Todo-poderoso, cujo nome é santo e cuja misericórdia se estende de geração em geração, a todos que o temem» (Lc., 1, 4-50).

Que a Mãe de Deus nos ajude e nos pegue pela mão guiando-nos nos caminhos em que “ser feliz é aceitar as circunstâncias da vida”.

Maria Helena Paes 

Escritora

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