PRÓXIMA PARAGEM: LAROCHETTE

PRÓXIMA PARAGEM: LAROCHETTE

Cidade com nome de castelo cristão

Em época de neve, a qual vai caindo – intermitentemente – no Luxemburgo, temos andado numa busca desenfreada de casa; de um local a que possamos chamar “nosso” e que nos sirva de base no final de cada dia. Até ao momento, um quarto de hotel tem desempenhado esse papel. Se bem que até tem servido, faz-nos falta ter mais do que duas divisões para toda a família.

Entre os locais que conhecemos, o Luxemburgo é dos que se tem apresentado mais difícil para alugar casa. A escassez faz com que a procura seja complicada e, aliado a isso, temos de contar com o facto de ser o senhorio a decidir a quem arrenda a casa. Não basta ter dinheiro! Regra geral, há dezenas de interessados que têm de apresentar um dossiê com contratos de trabalho (apenas contratos permanentes são aceites), recibos de vencimento, etc. Para se ter uma ideia, andamos desde Novembro a apresentar dossiês e a visitar apartamentos. Sem exagero, já visitámos mais de três dezenas de apartamentos, um pouco por todo o País. Dado que queríamos algo com dois quartos, fora da cidade e com estacionamento, a procura foi-se arrastando. Contudo, finalmente, encontrámos o que pretendíamos e devemos mudar muito em breve.

No dia em que vos escrevo, ainda não temos o contrato assinado, mas foi-nos garantido (temos de acreditar!) que o apartamento que descobrimos é mesmo para nós, tanto mais que já nem se encontra disponível no mercado.

Se tudo correr dentro do planeado, iremos viver a cerca de trinta quilómetros do centro da Cidade do Luxemburgo, esperando que esta opção nos garanta paz de espírito, ar puro e acesso à natureza, por forma a melhor aproveitarmos os dias de folga ou com menos afazeres.

Desde o início foi nossa intenção ficarmos afastados dos aglomerados da Comunidade Portuguesa, para que o meu trabalho jornalístico não fosse por ela influenciada. Coincidentemente, acabámos por ir parar à cidade que mais portugueses tem em termos de percentagem, em todo o País!

Sempre pensei, assim como muitas das pessoas que conheço, que as cidades com mais representatividade portuguesa estivessem no Sul, nomeadamente, Differdange, Esch-sur-Alzette e outras na mesma zona, onde tradicionalmente a Comunidade Portuguesa se vem instalando nas últimas décadas, pela abundância de empregos e procura de mão-de-obra. Porém, também em termos de percentagem, segundo nos confirmou uma funcionária do Turismo de Larochette, é mesmo esta pequena cidade a que tem mais portugueses. Na realidade, basta olhar em redor para vermos a forte presença lusa que marca o local. Até frango de churrasco, à moda da Praia de Mira, ali se consegue comprar, à beira da estrada (à semelhança do que acontece em muitas das nossas praias), mesmo num dia repleto de neve!

Trata-se de uma cidade com pouco mais de dois mil e 200 habitantes, sendo que mais de 45 por cento da população é de nacionalidade portuguesa. A urbe remonta ao Século XII, época a que data a construção do seu castelo, denominado “Larochette”, e os seus senhores, os Van der Feltz. No Século XVI, infelizmente, um incêndio destruiu grande parte deste castelo, o qual está localizado num monte sobranceiro ao rio Ernz Branco. Em 1979, depois de vários séculos ao abandono, o Governo do Grão-Ducado decidiu adquirir o castelo e deu início a alguns trabalhos de recuperação. Actualmente, o edifício já pode ser visitado. Abre as portas ao público por altura da Páscoa e encerra em Outubro, todos os dias entre as dez da manhã e as seis da tarde. De acordo com o Governo, os planos de reconstrução são para continuar, mas pelo que se pode ver o andamento dos trabalhos é deveras lento e penoso. Merecia um pouco mais, apraz dizer.

É bem provável que nos próximos dias já estejamos instalados, o que nos permitirá conhecer melhor a região. Pelo que temos observado, a natureza envolvente é avassaladora, com montanhas e vales que merecem ser explorados a pé e de bicicleta, assim que as condições meteorológicas o permitirem.

A história deste local é bastante interessante e o facto da maioria da população residente ser portuguesa dá-nos ainda mais a chance de descobrir histórias para vos contar em próximas edições, mais não seja sobre a presença dos portugueses e de como esta tem influenciado a História Contemporânea do Luxemburgo, principalmente desde o Século XXI. A parte mais visível desta realidade são os muitos cafés, restaurantes, supermercados e associações de matriz portuguesa com que diariamente nos vamos cruzando. É toda uma História que esconde acontecimentos que merecem ser contados e registados para o futuro, para além da História oficial em torno da Monarquia do País, dos monumentos e das conquistas e perdas territoriais resultantes das inúmeras guerras travadas no Centro da Europa.

Nos últimos dias visitámos a zona onde iremos viver e ficámos deslumbrados com a natureza e toda a exuberância que esta nos oferece, principalmente quando vimos o manto branco que se estendia pelas encostas das montanhas e pelos vales que circundam a cidade, e que cobria os pinheiros (de Natal, como lhes chama a Maria). Como o apartamento tem duas varandas é legítimo pensarmos que iremos ter muitas oportunidades para desfrutar de todo este quadro natural. Para já, estamos satisfeitos em saber que a cinco minutos de casa temos à disposição tudo o que é necessário para a vida de qualquer família: supermercados, estações de serviço, escolas, centros de saúde ou hospitais, jardins e restaurantes.

João Santos Gomes

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