Papa apela a trégua olímpica

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Papa apela a trégua olímpica

O Papa enviou, no passado dia 19 de Julho, uma mensagem para os próximos Jogos Olímpicos, em Paris, convidando a uma “trégua”, segundo a tradição da antiguidade grega, para procurar caminhos de paz.

“Nestes tempos conturbados, em que a paz mundial está seriamente ameaçada, espero fervorosamente que todos respeitem esta trégua na esperança de resolver os conflitos e restaurar a harmonia”, refere o Papa no texto dirigido ao arcebispo de Paris, D. Laurent Ulrich.

Francisco reza para que Deus “ilumine as consciências dos governantes” e abençoe os esforços dos “construtores de paz”.

Os Jogos Olímpicos de Paris decorrem entre hoje e 11 de Agosto, e os Jogos Paralímpicos de 28 de Agosto a 8 de Setembro.

A mensagem papal apresenta o evento como “uma ocasião imperdível para que todos aqueles que vêm de todo o mundo se descubram e se valorizem mutuamente, para quebrar preconceitos, para fomentar a estima onde há desprezo e desconfiança, e a amizade onde há ódio”.

“Os Jogos Olímpicos são, pela sua própria natureza, um evento de paz e não de guerra”, sublinha o Santo Padre.

Tradicionalmente, a ONU decreta uma trégua olímpica, que começa sete dias antes dos Jogos Olímpicos e se conclui sete dias após os Jogos Paralímpicos (este ano é de 19 de Julho a 15 de Setembro).

O Papa associou-se à Missa de abertura da “trégua olímpica” na igreja de La Madeleine, em Paris, que decorreu na manhã do dia 19. A celebração eucaristica foi apresentada pela arquidiocese local como “um momento de oração pela paz e pelo fim dos conflitos durante os Jogos Olímpicos”.

“Peço ao Senhor que derrame os seus dons sobre todos aqueles que vão participar de uma forma ou de outra – sejam eles atletas ou espectadores – e também que apoie e abençoe aqueles que os vão acolher, especialmente os fiéis de Paris e não só”, indica a mensagem, divulgada pela Sala de Imprensa da Santa Sé.

O Pontífice destaca o papel das comunidades católicas no acolhimento dos participantes nestes Jogos Olímpicos, ao “abrir de par em par as portas das suas igrejas, escolas e casas”. “Acima de tudo, abram as portas do coração, testemunhando Cristo que vive nelas e comunica a sua alegria, através da gratuidade e da generosidade do seu acolhimento a todos”.

O Papa saúda ainda o facto de se terem promovido iniciativas em favor da participação das “pessoas mais vulneráveis, especialmente as que se encontram em situações muito precárias”. Segundo Francisco, o desporto é “uma linguagem universal que ultrapassa fronteiras, línguas, raças, nacionalidades e religiões”, com a “capacidade de unir as pessoas, de encorajar o diálogo e a aceitação mútua”.

“Os Jogos Olímpicos, se forem verdadeiramente ‘jogos’, podem, pois, constituir um ponto de encontro excepcional entre os povos, mesmo os mais hostis. Os cinco anéis entrelaçados representam este espírito de fraternidade que deve caraterizar o acontecimento olímpico e a competição desportiva em geral”, sustenta.

OPORTUNIDADES PARA A PAZ

Uma semana antes da publicação da carta dirigida ao arcebispo de Paris, foi divulgado o livro “Jogos de Paz – A alma das Olimpíadas e Paraolimpíadas”, cujo prefácio é da autoria do Papa Francisco. Nele, afirma que “as Olimpíadas e as Paraolimpíadas são oportunidades para a paz”, entre outras considerações. “Hoje a minha esperança é que o apelo por uma trégua desencadeada pela linguagem popular olímpica comum, compreensível para todos, em todas as latitudes, possa ser aceite”, escreve o Papa.

No prefácio, Jorge Mario Bergoglio salienta que estes Jogos são “uma oportunidade para a paz”, num “momento histórico particularmente sombrio” do mundo, logo no início do prefácio do livro de Vincenzo Parrinello.

O Santo Padre acredita que o “autêntico espírito olímpico e paralímpico” com as suas “histórias humanas de redenção e fraternidade” possa ser um “canal diplomático original” e um “antídoto” para pôr fim à violência e à guerra.

Em 2021, o Comité Olímpico Internacional acrescentou a palavra “juntos” (“Communiter”) ao lema olímpico: “Citius, altius, fortius” (“Mais rápido, mais alto, mais forte”).

“Olimpíadas e Paraolimpíadas, portanto, com o estilo ‘Communiter’: nessa perspectiva, a palavra-chave para o desporto, hoje mais do que nunca, é ‘proximidade’. É a primeira sugestão que, como ‘treinador do coração’, sempre proponho à Athletica Vaticana para delinear a essência da sua presença de compartilhamento: correr, pedalar ou jogar junto com todos os desportistas”, explica o Papa.

Tanto Francisco, a nível pessoal, como a Santa Sé, a nível institucional, “encorajam e apoiam o movimento olímpico e paralímpico” com a “proximidade” através do Dicastério para a Cultura e a Educação e a “Athletica Vaticana”, por exemplo. Um incentivo que remonta a época de São Pio X, conclui o Papa, que “recebeu Pierre de Coubertin e deu vida no Vaticano, entre 1905 e 1913, a eventos desportivos internacionais com a participação de jovens com deficiência, amputados e cegos”.

Neste contexto, Francisco realçou a importância de garantir “a mesma dignidade” a todos os atletas olímpicos e paraolímpicos, e destacou a prestação de atletas com deficiência que o deixam sempre impressionado, “embora fortemente feridos na vida”, mas também os atletas refugiados com as suas experiências de redenção, como da “nadadora olímpica síria que empurra o bote em mar aberto até a ilha de Lesbos salvando dezoito pessoas”.

O livro “Jogos de Paz – A alma das Olimpíadas e Paralimpíadas”, escrito em Italiano, foi organizado pelo director desportivo Vincenzo Parrinello e editado em colaboração com a “Athletica Vaticana” e a Livraria Editora Vaticana.

O cardeal português D. José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação (Santa Sé), que também contribuiu para a nova publicação – reúne histórias de 85 protagonistas do desporto olímpico e paralímpico –, participou na apresentação do livro que teve lugar no Estádio Olímpico de Roma, a 17 de Junho.

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