Que o homem não seja descartado
O Papa Francisco encontrou-se com os participantes do seminário internacional “Por uma economia cada vez mais inclusiva” – tema abordado na sua exortação apostólica Evangelii gaudium – realizado na Casina Pio IV, no Vaticano. Publicamos o discurso improvisado pelo Pontífice.
“Agradeço ao Senhor Cardeal Presidente as suas palavras, agradeço-vos a companhia, o convite, o trabalho. É tão importante o que fazeis: reflectir sobre a realidade, mas meditar sem medo, fazê-lo com inteligência. Sem medo e com inteligência. Isto é um serviço.
Um de vós falava-me dos três reducionismos, mas eu falarei só do primeiro: o reducionismo antropológico. Penso que este momento coincida com o tempo mais significativo do reducionismo antropológico. Acontece com o homem o que se verifica com o vinho quando se torna bagaceira: passa por um alambique organizativo. Já não é vinho, é outra coisa: talvez mais útil, mais qualificada, mas não é vinho! Relativamente ao homem acontece a mesma coisa: o homem passa por este alambique e acaba – e isto digo-o seriamente! – perdendo a humanidade e torna-se um instrumento do sistema social, económico, sistema onde predominam os desequilíbrios. Quando o homem perde a sua humanidade, o que nos espera? Acontece o que digo numa linguagem comum: uma política, uma sociologia, uma atitude ‘do descartável’: descarta-se o que não serve, porque o homem não está no centro. E quando o homem não está no centro, há outra coisa no centro e o homem está ao serviço dela.
Portanto, a ideia é salvar o homem, no sentido que volte para o centro: da sociedade dos pensamentos, da reflexão. De novo levar o homem para o centro. E isto é um bom trabalho, e vós já o fazeis. Estou-vos grato por este trabalho. Vós estudais, reflectis, fazeis estes congressos com este objectivo, para que o homem não seja descartado. Descartam-se as crianças, porque o nível de natalidade – pelo menos aqui na Europa – todos sabemos; descartam-se os idosos, porque não servem. E agora? Descarta-se toda uma geração de jovens, e isto é gravíssimo! Tomei conhecimento de um número: 75 milhões de jovens, com menos de 25 anos; sem trabalho. Os jovens ‘nem-nem’. Nem estudam nem trabalham. Não estudam porque não têm a possibilidade, não trabalham porque não há trabalho. É outro descarte! Qual será o próximo descarte? Detenhamo-nos a tempo, por favor!
Agradeço-vos. Agradeço-vos a ajuda que ofereceis com o vosso trabalho, com a vossa reflexão para recuperar esta situação desequilibrada e para recuperar o homem e levá-lo para o centro da reflexão e da vida. É o rei do Universo! E esta não é teologia, não é filosofia – é a realidade humana. Com isto, vamos em frente. Obrigado, obrigado verdadeiramente. Obrigado!”