«O mundo é chinês. Na China e fora dela».
O superior-geral dos Missionários do Verbo Divino esteve na semana passada em Macau, tendo feito uma visita de cortesia ao bispo D. Stephen Lee. O CLARIM aproveitou a oportunidade para falar com o padre Heinz Kuluecke sobre a missão no mundo e a importância que a China tem para a congregação que dirige. «O mundo é chinês. Não só na China, como também fora dela», disse.
O CLARIM – Esteve pela primeira vez em Macau há 32 anos. Que mudanças verifica desde então?
PE. HEINZ KULUECKE – É verdade. Foi há 32 anos. Desta vez venho como líder da congregação dos Missionários do Verbo Divino para visitar os membros que estão em Macau. Verifiquei em primeiro lugar que há agora muitas pessoas em Macau. Há muitos turistas. A cidade tornou-se viva, em comparação com que vi há 32 anos. No âmbito da fé, visitei então todas as igrejas e encontrei pessoas no interior. Todavia, parece-me que agora há mais e mais pessoas sentadas nas igrejas, ocupando o seu tempo em silêncio e em oração.
CL – Teve hoje [12 de Abril] um encontro com o bispo de Macau. Pode revelar-nos o que abordaram?
P.H.K. – Foi uma visita de cortesia. Não foi em trabalho, caso contrário utilizaríamos os canais oficiais de comunicação. Até mesmo o superior-geral [dos Missionários do Verbo Divino] não decide nada sozinho. E o senhor bispo também consulta a sua equipa caso grandes mudanças sejam postas em prática. A principal preocupação é a Diocese [de Macau] e os Missionários do Verbo Divino poderem envolver-se ainda mais e estarem em sintonia com o trabalho pastoral e as paróquias para as quais fomos convidados. Além disso, a educação tem um papel importante. E, claro, Macau tem grande interesse para nós porque o nosso primeiro amor e missão como congregação aconteceu na China.
CL – Estão presentes em 84 países. Quais deles visitou recentemente? E que desafios enfrentam?
P.H.K. – Já visitei todos os 84 países, mas o mais recente foi o Uganda, onde há pessoas a viver em campos de refugiados. Não lhes chamam campos, mas povoados, porque essas pessoas esperam ficar mais tempo. Iniciámos esta missão há cerca de cinco anos no Sudão do Sul. Após o início da guerra as pessoas fugiram para o Uganda. O núncio do Uganda, monsenhor Michael Bloom, é nosso confrade e pediu-nos que acolhêssemos os refugiados do Sudão do Sul no Uganda. É um desafio. É um dos maiores campos de refugiados em África e no mundo. Neste momento são cerca de um a 1,4 milhões de refugiados.
CL – Trabalhou como missionário nas Filipinas a partir de 1986. De que forma mudou a sua compreensão pela missão ao servir neste país?
P.H.K. – A revolução aconteceu em 1986. Significa isto que [Ferdinand] Marcos foi deposto e deste então diferentes Governos assumiram as rédeas do poder. As Filipinas cresceram consideravelmente em termos populacionais. Quando cheguei em 1986 a população rondava os 68 milhões. Hoje são cerca de 105 milhões, ou até mais. O que mais mudou? A pobreza. Se a população cresceu rapidamente, mas a economia e as infra-estruturas não conseguiram acompanhar esse crescimento, obviamente que muitas pessoas foram empurradas para a margem [da sociedade].
CL – Que comentário faz ao modo de governar do Presidente Rodrigo Duterte?
P.H.K. – Tem uma maneira única de governar. Foi escolhido pelo povo. Neste momento as Filipinas passam pelo grande desafio de manter o seu status quo na região e na Ásia. Os desafios vêm dos discursos de Duterte e também dos acordos, por exemplo, com os Governos asiáticos e assim por diante. O grande desafio para o Presidente Duterte é convidar investidores a gerarem emprego nas Filipinas.
CL – A China tem um papel cada mais preponderante no mundo, e não apenas na Ásia. Abre-se ao mundo, mas fecha-se internamente nas questões religiosas…
P.H.K. – Na verdade, o mundo está todo à espera. Estamos a acompanhar de perto os desenvolvimentos no Vaticano, que por sua vez está em constante comunicação com a China. E estamos todos à espera, todas as congregações religiosas. É benéfico se o Vaticano continuar este diálogo com o Governo da China. Vamos depois ver qual será o resultado. Esperamos que seja positivo e que a China também se abra realmente e permita o crescimento da fé cristã.
CL – Que relevância e desafios tem a República Popular da China para os Missionários do Verbo Divino?
P.H.K. – A China está a expandir-se. Dado que estamos presentes em 84 países, encontramos sempre e temos tido contacto com chineses em qualquer parte. Os nossos missionários em Angola, na América do Sul e Central, em Moçambique e em muitas outras partes do mundo estão a pedir-nos missionários que falem Chinês para atender às necessidades espirituais – porque também há outras necessidades – dos chineses espalhado pelo mundo. O mundo é chinês. Não só na China, como também fora dela.
CL – Qual é o seu traço familiar específico, tendo em conta as quatro dimensões características da espiritualidade e foco dos Missionários do Verbo Divino?
P.H.K. – Quando assumi a administração dos Missionários do Verbo Divino, juntamente com a minha equipa escolhemos o lema de viver perto das pessoas e colocar o último em primeiro. Ou seja, cuidar dos pobres que sofrem, expresso no lema “Justiça, Paz e Integridade da Criação”, porque Deus cuida dos pobres e da criação.
Nascido para servir (caixa)
O padre Heinz Kuluecke, de nacionalidade alemã, foi professor de Filosofia na Universidade de San Carlos, em Cebu, antes de se tornar provincial dos Missionários do Verbo Divino da Província do Sul das Filipinas. Em 2012 foi eleito superior-geral, ficando responsável por seis mil missionários. Em Cebu trabalhou para os pobres, em especial com as famílias a viver em bairros degradados, as crianças de rua e as vítimas de tráfico humano.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA