Ordem no Universo

Três corolários

Durante as duas últimas semanas falámos da ordem que encontrámos no Universo, uma ordem que aponta em dois sentidos: um “para cima” e outro “para baixo”.

O sentido que aponta para cima leva-nos a uma Fonte Inteligente, e o que aponta para baixo fala-nos de nós próprios e do nosso relacionamento com o mundo.

No entanto podemos discordar, como o Papa Bento XVI, sobre o que dizia o antigo filósofo grego pré-socrático, Heráclito, do Universo: «O melhor dos universos não passa de um monte de lixo amontoado ao acaso».

Hoje gostaríamos de dar a conhecer as consequências de tudo o que discutimos até agora.

 

IMENSO É O PODER DO DESENHADOR

Uma coisa é fazer-se o Desenho, outra é torná-lo realidade. Isto lembra-me a história do cientista que desafiou Deus. Ele declarava ter conseguido desenvolver toda a tecnologia necessária para criar um Ser Humano. Deus aceitou o desafio. E quando o cientista começou a juntar algum barro, Deus disse-lhe: «Não vás tão depressa, tens que conseguir o teu próprio barro».

Quantos de nós não temos em mente muitos planos maravilhosos, mas quantos desses planos é que se concretizam? O Universo fala-nos não apenas do Planificador Inteligente, mas de um Planificador com o poder de fazer as coisas acontecerem.

A quantidade de energia contida no Universo (pensem apenas no que a bomba atómica fez a Hiroshima) mostra-nos um incrível Poder subjacente.

A Suprema Sabedoria que planeou tudo é também o Poder Supremo que executou a Obra. Ele é o nosso Paizinho Todo Poderoso!

 

A VIDA HUMANA TEM UM SENTIDO

«O Homem não é um átomo perdido num universo ao “calhas”», conforme escreveu o Papa Bento XVI na carta encíclica “Caritas in Veritate”. E ele apenas repetia um pensamento já verbalizado sobre este tema, durante a sua inauguração como Pontífice Romano a 24 de Abril de 2005: «Nós não somos um produto casual e sem sentido da evolução. Cada um de nós é o resultado de um pensamento de Deus. Cada um de nós é desejado, cada um de nós é amado, cada um de nós é necessário».

Mas onde vamos encontrar esse sentido? No Logos – a Palavra feita carne, através da qual o Universo foi criado (João 1:3). No entanto podemos ter reticências sobre o deixar Jesus Cristo entrar na nossa vida.

Temos medo que Ele se intrometa nos nossos planos e destrua os nossos sonhos. «Não tenhais medo. Cristo conhece “o que é o Homem”. Apenas Ele o sabe» (São João Paulo II, na homilia da sua Missa Inaugural a 22 de Outubro de 1987). Sempre que nos encontramos numa encruzilhada – algo que costuma acontecer frequentemente na vida – é bom que abramos o Livro que nos mostra o Caminho, «no qual estão guardados todos os tesouros da Sabedoria e do Conhecimento» (Colossenses 2:3). São Agostinho, nos seus momentos de maior dúvida, ouvia uma voz de criança que lhe dizia: “Tolle, lege” (toma e lê). E isso é exactamente o nós precisamos. E nunca nos arrependeremos de o fazer.

 

TEMOS QUE RESPEITAR E CUIDAR DA CRIAÇÃO

Os movimentos ecológicos não são uma ideia moderna. Deus usou-a “no início”, no Génese. «O SENHOR Deus pôs o homem no Jardim do Paraíso para cuidá-lo e mantê-lo» (Génese 2:15).

Deus não disse a Adão e Eva que eles podiam fazer ali tudo o quisessem. Eles tinham que cuidar do Jardim. Eles tinham que usá-lo, não abusá-lo.

Por isso São Josemaría Escrivá escreveu: «O Senhor quer que as suas crianças, aquelas que receberam o dom da Fé, proclamem a visão optimística original da criação, o amor pelo Mundo que está no centro da mensagem Cristã».

A partir daqui ele chegou a uma conclusão sobre a nossa vida diária: «Deve haver sempre entusiasmo na vossa vida profissional, e no vosso esforço para construir uma cidade terrena» (Forja, 703).

Deus criou a Natureza com um certo ordenamento, e esse ordenamento precisa de ser respeitado. O Papa Bento, escreveu: «Quando a Natureza, incluindo o ser humano, é vista apenas como o mero resultado de pura casualidade ou determinismo evolucionário o nosso senso de responsabilidade desvanece-se».

«Na Natureza o fiel reconhece o maravilhoso resultado do trabalho criativo de Deus, o qual nós podemos usar responsavelmente para satisfazer as nossas necessidades legítimas, materiais ou quaisquer outras, ao mesmo tempo que devemos respeitar o equilíbrio intrínseco da criação».

«Se esta visão se perder, acabaremos por considerar a natureza como um assunto intocável, ou pelo contrário abusaremos dela. Nenhuma dessas formas de encarar o assunto se coaduna com a visão Cristã da Natureza, como sendo um fruto da Criação de Deus» (Caritas in Veritate).

A Natureza tem as suas regras próprias, e é importante para nós conhecê-las. Vemos o que acontece quando as companhias madeireiras abatem florestas inteiras sem sequer as tentarem substituir, ou quando os pescadores destroem os recifes de coral à procura de pescado. Ou quando as fábricas vomitam poluentes para a atmosfera, ou ainda quando os médicos receitam incessantemente antibióticos… E esta lista poderia continuar…

O Papa Bento XVI ensinou-nos que «o meio ambiente natural é mais do que simples matéria prima para ser manipulada ao nosso bel prazer, antes é um maravilhoso trabalho do Criador contendo uma “gramática” que estabelece finalidades e critérios para o seu uso consciente, e não para a sua exploração desenfreada» (Caritas in Veritate).

A Natureza tem razões concedidas pelo seu Mestre. Por exemplo, há razões para que o ser humano tenha sido feito Homem e Mulher…

A tecnologia concedeu ao homem poder de dispor do seu próprio corpo. Esse facto foi um enorme passo para a raça humana. Mas também nos expôs a grandes tentações, de como usá-lo, decidir quem pode viver ou quem deve morrer. Uma grande tentação de “desenhar” a próxima geração: uma tentação muito grande de se ser como Deus (Genesis 3:5).

Pe. José Mario Mandía

(Tradução: António R. Martins)

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