Sinais de incerteza em Hong Kong.
Foi um dia solarengo e de temperatura amena que fui encontrar em Hong Kong, passadas que estavam menos de 24 horas do fecho das urnas, nas eleições intercalares da antiga colónia britânica. O bulício da cidade e os afazeres do dia-a-dia não deixaram qualquer tipo de dúvidas: para a maioria da população, mais do que os resultados eleitorais, o que interessa é fazer pela vida.
As eleições de Domingo último são reveladoras do quanto a sociedade está profundamente dividida. De um lado, o campo pró-Pequim venceu uma importante batalha, dado que os pró-democratas só conseguiram recuperar dois dos quatro assentos nestas eleições parciais, perdendo o direito de veto no LegCo (dois lugares continuam por preencher devido a uma batalha judicial).
Por outro lado, os pró-democratas continuam a lutar afincadamente contra o que dizem ser a interferência de Pequim no modo de vida da RAEHK, constituindo a vitória em Kowloon Oeste do candidato alinhado com o Governo, Vincent Cheng (49,9%), contra o pró-democrata Edmund Yiu (48,7%), um claro sinal do quanto ténue é a diferença entre as duas correntes. Se hoje o fiel da balança pende a favor do campo pró-Pequim, amanhã nada garante que “em condições normais” os pró-democratas possam ter mais peso à boca das urnas.
Fiquei com a sensação que estas eleições intercalares, embora constituindo um rude golpe para os pró-democratas, vão ter pouca influência no futuro político da Região. Ou seja, a mão de Pequim vai fazer-se sentir cada vez com mais força (tal como em Macau), enquanto o movimento pró-democrata, alavancado por uma expressiva parte da população, vai continuar com o seu braço-de-ferro, a nível interno contra as elites e num nível mais alargado contra o que diz ser a interferência de Pequim e consequente erosão da Lei Básica.
No ar pairam sinais de grande incerteza. Embora Hong Kong seja parte da China, há quem não veja com bons olhos a descaracterização desta praça financeira mundial, sendo algo que preocupa sobremaneira os jovens, pois não querem que a sua cidade se transforme à imagem de Shenzhen ou de outras que proliferam no continente chinês.
A situação económica de muitas famílias é também preocupante. Aqui há o grande receio que um Governo musculado, autoritário, não abone a favor das classes média e baixa, constituindo o sufrágio universal directo o único instrumento que os respectivos eleitores têm para expressar a sua revolta contra as oligarquias e os poderes instituídos.
Na mente de muitas pessoas há outro factor a ter em conta: o que irá suceder após 2037? Nada se sabe ainda, mas os receios são muitos. Não será por isso à toa, por exemplo, que os bancos de Hong Kong queiram reduzir, cada vez mais, o período dos empréstimos à habitação….
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
pedrodanielhk@hotmail.com