Olhando em Redor

O poker nipónico

O Japão prepara-se para entrar numa nova era, após a aprovação de legislação para a abertura de casinos, o que terá inevitáveis consequências para o sector em Macau.

Tal como Singapura, o País do Sol Nascente vai ter de começar do zero, porque terá que construir de raiz os resorts-integrados, conforme aprovados por lei, a publicar dentro de seis a dozes meses, isto se não contarmos com a potente indústria do Pachinko.

Também o modelo a nortear a indústria do Jogo será um dos principais desafios para as autoridades japonesas. Quanto às zonas de jogo, deverão ficar restritas a Tóquio, Quioto e Osaka, o que representa no total uma área territorial mais vasta do que Macau, estando aqui subjacente uma maior capacidade para atrair vários tipos de apostadores.

O verdadeiro impacto que terá a abertura de casinos no Japão tem sido desvalorizado por importantes personalidades da indústria do Jogo na RAEM. Duvido que seja por desconhecimento, mas apenas porque há a intenção de não alarmar os mercados e assim evitar alguma crise no território e avultadas perdas no Hang Seng Index.

Entre 2020 e 2022, Donald Trump estará a terminar o seu mandato – caso não seja afastado por “impeachament” ou por alguma fatalidade – e concentrado em ser reeleito, enquanto a MGM, a Wynn Resorts e a Las Vegas Sands terão fortes possibilidades de operar, tanto em Macau, como no Japão (Steve Wynn poderá ter mais dificuldades, a julgar pelo diferendo que o opôs ao japonês Okada).

Também não são de excluir outras operadoras, tais como a Genting e a Caesars. Um ponto essencial para definir a conjuntura actual é saber quantas licenças ou concessões vão ser atribuídas.

Independentemente de tudo, é bastante provável que o Japão vá retirar mercado a Macau, através de operadoras que têm acesso ao mercado chinês, sem contar com uma menor afluência de apostadores nipónicos nos casinos da RAEM, o que voluntariamente ou involuntariamente resultará no enfraquecimento de uma fonte geradora de riqueza.

Se tivermos em conta que entre o Japão e Singapura, não só temos Hong Kong, Macau e Taiwan, como também as não resolvidas disputas territoriais no Mar do Sul da China, é fácil perceber o quanto oportuna será a indústria do Jogo nipónica para a Administração Trump poder jogar mais uma cartada, com o propósito de (tentar) enfraquecer a segunda economia mundial. Muito provavelmente, terá o apoio incondicional do actual Governo nipónico, que continua a ver o crescimento da RPC como uma ameaça à sua posição estratégica na região.

Por outro lado, há algo bastante importante a retirar da visita que o Primeiro-Ministro japonês efectuou, no passado mês de Novembro, ao Presidente-eleito dos Estados Unidos, em Nova Iorque. Algo que escapou à Imprensa mundial: Shinzo Abe e Donald Trump falaram sobre a indústria do Jogo na Ásia…

 

Echo Chan

O Secretariado Permanente do Fórum Macau tem uma nova secretária-geral adjunta: Echo Chan. O nome avançado há dias pode constituir surpresa para os mais distraídos. Depois de uma passagem fugaz pelo organismo, entre Março e Novembro de 2015, houve a espectativa que a sua substituição – invocou razões pessoais para sair – catapultasse o Fórum para outros voos.

Echo Chan não terá concretizado o suposto desejo de ir algures para o Continente Americano, porque não só continuou a ser presença assídua no Fórum Macau, como foi diligente a cumprir com ordens superiores ao nível dos trabalhos preparatórios para a 5ª Conferência Ministerial, realizada com assinalável sucesso na RAEM em Outubro do ano passado.

O regresso de Echo Chan é quase uma não-notícia, porque em boa verdade ela sempre esteve com um pé dentro (e outro fora) no Fórum Macau.

 

Mário Soares

Faleceu Mário Soares! A triste notícia, embora esperada a qualquer momento, pelas razões sobejamente conhecidas, despertou em mim sentimentos antagónicos.

Se por um lado reconheço que Mário Soares foi fundamental para a luta pela liberdade e para a defesa dos valores democráticos em Portugal, também sei que o seu deslumbramento após a Revolução dos Cravos levou a que cometesse erros e excessos vários que em nada o dignificaram enquanto figura da política nacional, afinal a única que tenciono aqui abordar.

Mário Soares foi um dos heróis que combateu com afinco o fascismo imposto pelo regime de Salazar, tal como foi Álvaro Cunhal. O antigo Primeiro-Ministro, e depois Presidente da República, também contribuiu decididamente para relançar o País no mundo, dado que o anterior legado se reportava à época dos Descobrimentos e culminou com a ascensão de outras potências europeias (inglesa, holandesa e francesa).

Figura ímpar da política nacional, o co-fundador do PS português fez amizades sólidas, mas também inimizades fidalgais. Mário Soares tem certamente um lugar reservado na História de Portugal. Respeito o seu percurso político, porque no essencial foi um vencedor, apenas derrotado pelo inevitável desaparecimento físico. Paz à sua alma!

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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