Pouco lazer, muito consumismo
Foi inaugurado com pompa e circunstância o “The Parisian”, que promete pôr a concorrência no bolso em termos de afluência e popularidade. As “selfies” dos turista chineses defronte à Torre Eiffel em miniatura vão representar uma mais-valia para a Sands China, pois as fotos publicadas nas redes sociais vão funcionar como “marketing” a custo zero.
Infelizmente, assim como muitos outros empreendimentos afectos à indústria do Jogo, também o “The Parisian” está longe de representar o verdadeiro significado ou a essência de Macau.
Um claro indicador do que bastante nocivo sucede amiúde está relacionado com a falta de espaços de lazer com qualidade para usufruto da população, e turistas em geral, sem que esteja subjacente a pressão de consumir o que quer que seja.
O facto mais saliente diz respeito aos centros comerciais que estão fora e na esfera da indústria do Jogo. Grosso modo incutem nas pessoas a pressão de gastar dinheiro para os frequentar. E cingindo-me apenas ao caso mais emblemático, o modelo de negócio no “Sands Shoppes” (Venetian) assenta no consumismo desenfreado, essencialmente virado para quem é do exterior, esquecendo muitas vezes quem aqui vive.
Também o “parque temático” da Doca dos Pescadores não tem trazido mais-valias para Macau, pois está longe de ser um ícone do território, traduzindo-se tal fiasco no que foi, por exemplo, o famigerado vulcão, que prometia ser a atracção do empreendimento. Outros reparos poderiam ser apontados à falta de visão que norteia a Doca dos Pescadores, mesmo tendo em conta as circunstâncias que envolveram o desenrolar de todas as fases do projecto.
Embora goste muito de frequentar o MGM Macau, não fico indiferente à preocupação dos responsáveis em homenagear a cultura portuguesa, algo que constato na “Grande Praça” com a recriação da icónica estação de comboios do Rossio e com as pinturas dos azulejos de inspiração portuguesa, mas temo que pouco digam respeito à herança cultural dos portugueses de Macau, mas sim aos portugueses de Portugal.
Com idêntico cenário deparei-me aquando da recente visita guiada ao Wynn Palace, ainda antes da abertura oficial, porque a homenagem que Steve Wynn pretende fazer à cultura chinesa, embora seja de louvar, está longe de incluir elementos identificativos da cultura chinesa de Macau.
Os mesmos erros são recorrentes nos empreendimentos das restantes operadoras do Jogo – SJM, Melco Crown e Galaxy – seja na promoção dos variadíssimos aspectos culturais de Macau, seja na falta de espaços de lazer a salvo da pressão do consumismo.
É péssimo que assim seja! Com efeito, a pouca preocupação dos magnatas do Jogo (de etnia chinesa e estrangeiros), aliada à sua desenfreada ganância de olhar apenas para os cifrões, tolhe-lhes completamente o pensamento e as ideias sobre o real significado de Macau, desvirtuando por completo um território com séculos de História, assente em tradições e costumes, que embora estejam diante dos seus narizes não perceberam ainda o seu real significado.
Para todos estes senhores (e senhoras) o conceito de lazer deve estar inerente à jogatina nas mesas de Jogo (VIP ou não), a uma ida às lojas de marca para acalmar a adrenalina das frenéticas apostas nos casinos e a um repasto a condizer, e pouco mais. Nesta linha de ideias, percebem muito pouco de diversificação económica, ganhando também força a possibilidade de nada mais pretenderem do que o consumismo, acima de tudo!
E assim vão descaracterizando Macau – qual passeio dos alegres – com a complacência dos sucessivos Executivos da RAEM.
Outros destinos
É sempre enriquecedor visitar outros destinos para tecer comparações e perceber o quanto Macau caminha em direcção ao abismo. Ao percorrer o Ayala Center Cebu, um centro comercial no coração de Cebu City, nas Filipinas, deparei-me com um conceito estupendo, que faria as delícias dos que vivem e visitam Macau.
O empreendimento está dotado com lojas de marca direcionadas para vários ramos (vestuário, acessórios, produtos tecnológicos, etc.), com restaurantes e dois supermercados de qualidade, e um bom cinema no interior, assim como uma área de restauração mista com restaurantes, “coffee-shops” e bares com acesso para o interior e para a zona das esplanadas, que se prolonga por vários pisos.
No centro do complexo há um espaço de lazer a céu aberto com bancos e árvores onde se pode ler um livro ou estar descontraidamente com os amigos. Ali respira-se lazer e consumismo de forma salutar, dado quenenhum deles se impõe ao outro.
Já no “Asiatique The Riverfront”, em Banguecoque, deparei-me com uma grande panóplia de lojas voltadas para o comércio tradicional tailandês, tanto na área da restauração, como do vestuário, das bijutarias e de variadíssimas artes culturais.
O “The Bangkok Eye” tem grande sucesso entre turistas e nacionais tailandeses, podendo os utilizadores da roda gigante ter uma panorâmica geral da cidade e do rio Chao Phraya, algo que de noite ganha especial relevância pela sua beleza. Ainda não percebi por que não há uma espécie de “The Macau Eye”, por exemplo, na Doca dos Pescadores!
Já que por aqui há o hábito de copiar o que existe lá fora, refiro que as soluções de Cebu City e de Banguecoque são apenas dois exemplos que poderiam ser perfeitamente adoptado no território, porque muitos outros de excelência existem em Pequim, Londres, Hong Kong, Singapura e Kuala Lumpur, entre outros lugares.
Por esta, e por outras, não admira que o período médio de permanência de visitantes, turistas e excursionistas seja pouco elevada em Macau – em Julho último os visitantes permaneceram 1,2 dias (valor idêntico ao período homólogo de 2015), segundo dados dos Serviços de Estatística e Censos, enquanto o período médio de permanência de turistas e excursionistas foi de 2,1 e 0,2 dias, respectivamente.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
pedrodanielhk@hotmail.com