Olhando em Redor

Qual o impacto?

O assunto tem estado na ordem no dia e a ANIMA tem tido grande responsabilidade em não fazê-lo cair no esquecimento: as corridas de galgos devem acabar no Canídromo!

O tema não é novo e arrasta-se há vários anos, porém, ganhou dimensão internacional quando houve maior consciencialização sobre a forma como muitos galgos, outrora de competição, terminam o seu ciclo de vida. A imprensa já denunciou casos de sistemáticos abates, algo desproporcional para a condição dos animais, tendo em conta que muitos deles nem sofriam qualquer tipo de doença. No fundo, são descartados assim que acaba a sua utilidade desportiva.

Tem havido mobilização contra a renovação do contrato para a concessão da exploração de corridas de galgos atribuído à Yat Yuen, tendo já vários sectores da sociedade vindo a terreiro apoiar a reversão daquele espaço a favor de infra-estruturas desportivas, culturais e sociais ou, até mesmo, integradas.

Uma dessas acções foi a petição promovida na internet pela ANIMA que reuniu cerca de 340 mil assinaturas, estando agora em perspectiva uma vigília em frente à sede do Governo agendada para o dia 30 de Setembro. O protesto silencioso promovido pela ANIMA será igualmente realizado em 26 cidades de todo o mundo.

Segundo o Hoje Macau, há deputados a concordar com o encerramento do Canídromo, tais como Si Ka Lon, Kwan Tsui Hang, Melinda Chan e Pereira Coutinho. Também Lam U Chit, urbanista e membro do Conselho do Planeamento Urbanístico, defendeu o encerramento do Canídromo. Já para não falar de um grupo de celebridades internacionais – Peter Egan, Shannon Elizabeth, Sally Pearson e Dave Borkowski, entre outras – que subscreveu uma carta ao Chefe do Executivo, Chui Sai On, apelando ao fim das corridas de galgos, conforme noticiou o South China Morning Post.

«Você [Chui Sai On] tem uma oportunidade única para acabar com este sofrimento e dar um exemplo positivo ao mundo inteiro. Por favor, dê voz aos galgos e acabe com a concessão do Canídromo», referia a carta, numa iniciativa promovida pela “Grey2K USA Worldwide”, que combate as corridas de galgos no mundo.

Lionel Leong, secretário para a Economia e Finanças, já prometeu um estudo sério sobre o assunto, com o envolvimento da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos, que irá convidar algumas entidades académicas a fazer uma análise exaustiva sobre o impacto do Canídromo nas zonas em redor, sendo depois tomada uma decisão.

Tendo em conta o que estará em análise, é fácil perceber que a concessão não será renovada, por vários motivos. Apresento, apenas, os principais: 1 – O Canídromo, embora possa representar uma era em termos históricos, está desfasado da realidade actual, pois é o único recinto de corridas de galgos na Ásia.

2 – O espaço terá melhor utilidade se for aproveitado para infra-estruturas desportivas, culturais ou sociais (sou a favor de instalações para o desporto de competição).

3 – O Canídromo tem dado prejuízo à entidade exploradora e as corridas não atraem espectadores, sejam locais ou turistas.

4 – Quando entrar em vigor a futura “lei de protecção dos animais” o Canídromo (e o Jockey Club de Macau, para os cavalos) estará sob maior escrutínio da sociedade.

Havendo uma decisão que passe pela renovação da concessão, Lionel Leong (ou Chui Sai On) terá muito que explicar à opinião pública sobre os critérios adoptados pelo Governo (ou por quem fez o tal estudo de impacto) para fundamentar a sua decisão. Por enquanto, resta esperar pelo desenrolar dos acontecimentos.

 

Nas entrelinhas 

Num artigo de opinião publicado nesta mesma secção em Junho último, no qual abordei a possibilidade da Sands China (subsidiária da Las Vegas Sands) ter os dias contados em Macau, escrevi a determinada altura: «se a Wynn Resorts quiser sobreviver no território terá inevitavelmente que se aliar a parceiros chineses, tal como fez a Melco Crown (Lawrence Ho) e a MGM (Pansy Ho). Convém assim perceber se a concretização dos rumores sobre um plano de fusão entre a Wynn Resorts e a MGM Resorts Internacional será apenas, ou não, para um maior encaixe de receitas (a principal fatia do bolo vem de Macau)». De igual forma, questionei: «E a Sands China irá fazer o mesmo?».

A resposta chegou esta semana com o anúncio de Wilfred Wong Ying Wai como novo presidente e director de operações da Sands China, substituindo a partir de 1 de Novembro Rob Goldstein, que tem assegurado interinamente a presidência da empresa praticamente desde o início de 2015. Sem me alongar nos considerandos, apenas digo que os sinais estão aí para quem os quiser ver: Wilfred Wong foi membro da Assembleia Popular Nacional entre 1997 e 2012, tendo ainda ocupado outros cargos públicos ou empresariais de grande relevo em Pequim e Hong Kong.

Tal como referiu à Bloomberg o analista do Grupo Union Gaming, Grant Govertsen: «Acredito que ter uma pessoa chinesa influente no leme do barco será um elemento positivo, já que surge no momento da renovação das concessões, já para não falar de outras aprovações ao longo do caminho».

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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