Olhando em Redor

Crise democrata

O assunto não é novo e vem à baila de tempos a tempos. O campo pró-democrata de Macau está dividido e as clivagens são difíceis de esconder. A fractura é evidente entre os históricos da Associação Novo Macau (ANM), Ng Kuok Cheong e Au Kam San, e a nova geração conduzida por Jason Chao e quejandos.

O episódio mais recente tem a ver com a adesão dos deputados Ng e Au ao grupo cívico “Iniciativa para o Desenvolvimento Comunitário de Macau”, fundado recentemente por Tong Ka Io, que chegou a ser presidente da ANM, tendo saído em Setembro de 2014 após um conflito com o então presidente Sou Ka Hou (demitiu-se no mês passado para continuar os estudos em Taiwan).

Quem tem acompanhado a vida política da RAEM sabe perfeitamente que o modus operandi de Ng Kuok Cheong e de Au Kam San é diferente de Jason Chao (vice-presidente da ANM), de Sou Ka Hou (quando integrava a Novo Macau) e de Scott Chiang (actual presidente).

Por exemplo, o radicalismo de algumas posições tomadas por Jason Chao, seja na ANM, seja na “Macau Consciência” ou na “Juventude Dinâmica”, não só tem deixado constrangidos os dois históricos, como estes foram incapazes de travar a inconveniente bola de neve que cresceu na associação por eles fundada.

A contribuir para o distanciamento entre a velha guarda e a nova geração está também o resultado aquém do esperado nas legislativas de 2013, porque a divisão em três listas não obteve o resultado esperado, ao falhar a reeleição de Paul Chan Wai Chi e a não ser eleito o quarto elemento dos pró-democratas (Jason Chao entraria nas contas).

Os erros de “casting” sucedem-se em catadupa, assim como a incerteza quanto às intenções dos mais jovens que integram a ANM, porque a sua actuação está por vezes desfasada da realidade chinesa de Macau, restando saber qual a sua verdadeira fonte de inspiração.

O divórcio é inevitável, mas falta saber quando irá acontecer. É ponto assente que a facção de Jason Chao terá depois grande dificuldade em reunir um apoio maciço junto do eleitorado, porque os votantes mais tradicionais, tendo em conta os dois estilos, serão fieis ao conservadorismo de Ng Kuok Cheong e de Au Kam San.

Para recuperarem do descalabro que se afigura nos índices de popularidade, Jason Chao e Scott Chiang poderão agitar ainda mais as águas em vários sectores da sociedade, por forma a cativarem alguma franja do eleitorado jovem ainda a descobrir essa “coisa” tão em voga no mundo ocidental chamada democracia.

Seria útil que Jason Chao e Scott Chiang não deturpassem os valores democratas, com algo que lhes permita dizer e fazer o que bem lhes apetece, ao confundirem activismo com radicalismo e esquecerem que a liberdade de uma pessoa acaba quando começa a liberdade de outra.

 

Sem impacto

A Associação para a Reunião Familiar pediu esta semana ao Governo de Macau para atribuir o direito de residência aos filhos maiores de idade que vivem do outro lado das Portas do Cerco, ameaçando protestar na Praça de Tiananmen se as autoridades locais não aceitarem as suas exigências.

«Temos à volta de 60 anos e não temos medo de ser detidos e de estar presos», assegurava o presidente daquela associação, Cheang Mao Fong, por altura da entrega de uma carta na sede do Governo local a solicitar uma reunião com o Chefe do Executivo. Segundo o Ponto Final, outra carta foi entregue no Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau.

Por muito que compreenda o sofrimento destas famílias, há um pormenor que deve ser explicado ao senhor Cheang: a intenção de protestar na Praça de Tiananmen será tarefa quase impossível, pois o grupo terá primeiramente que passar por um controlo de acessos, onde quaisquer artigos suspeitos serão apreendidos.

Mesmo que chegue à praça e comece a tecer palavras de ordem, temo que num ápice sejam completamente abafadas pela intervenção dos militares que zelosamente guardam o local, não passando o momentâneo ruído de um pingo de água a cair no imenso oceano.

O senhor Cheang tem depois de perceber que a gravidade dos actos a que se propõe cometer só irá dificultar um entendimento entre as partes. Se já é bastante difícil face à natureza do problema, com esta atitude ficará irremediavelmente sem qualquer solução à vista.

 

O maior culpado

A crise dos refugiados na Europa é um assunto bastante delicado face a tudo o que está em jogo. Por um lado, são vidas humanas que merecem a nossa atenção. Por outro, é o dever dos Estados de se protegerem contra a ameaça dos infiltrados islamitas radicalizados.

A senhora Merkel está aproveitar a situação para dotar a sua Alemanha de mão-de-obra barata de que o País necessita para os trabalhos que o grosso dos alemães dispensa, sendo certo que a triagem ser-lhe-á sempre favorável. Daí a sua sensibilidade para o problema dos refugiados.

Este será uma entre muitas conclusões a tirar, mas o cerne da questão ainda está por aflorar: por que razão os Estados Unidos, afinal, os principais causadores de toda esta vaga de refugiados, não se chegam à frente e acolhem a maior parte dos que fogem para a Europa em perigosas travessias pelo mar?

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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