Mais uma vez o futebol português demonstrou que é um grande, senão o maior, arregimentador de massas populares, para além de outras “massas” que podem rivalizar com as produzidas pelas grandes indústrias portuguesas…
Não sou um grande “amante da bola”, embora não perca os jogos da Selecção Nacional, porque o “bichinho” patriótico assim o exige. No entanto, o desfecho dos jogos da Primeira Liga portuguesa estava tão empolgante, que não resisti a ver as reportagens televisivas dos jogos do Sporting e do Benfica e da enorme festa dos adeptos deste último, após a conquista do tão desejado título de campeões nacionais.
Das capitais dos distritos do continente e ilhas, passando pelas vilas e aldeias, até à capital, países de língua portuguesa e junto da emigração, a atmosfera de satisfação dos muitos milhares de adeptos do clube estava vermelha de emoção, de camisolas e bandeiras, que pintavam os écrans televisivos de um colorido “vermelhão” e de uma sonora gritaria que não deixou ninguém indiferente.
Alguns intelectuais (e eu, não o sendo, não estou em total desacordo) consideram o futebol um produto de alta toxicidade social, destinado a desviar a atenção dos povos, nomeadamente dos mais pobres, dos seus problemas fundamentais. No entanto, o futebol, está consagrado universalmente como um dos maiores desportos de entretenimento de massas, quer em países ricos ou pobres e em populações tão diferenciadas e distribuídas por tantos continentes, não anulando as suas atitudes políticas, que julgo demasiado simplista esta análise para ser completa.
O que é que faz correr tanta gente?
No campo, são naturalmente 22 jogadores a correr atrás de uma bola, tentando marcar golos na baliza do adversário. Mas será só isto que leva os espectadores aos estádios e ao clubismo exacerbado? É, mas não só!
No terreno de jogo, além dos jogadores e das suas exibições, o comportamento das equipas de arbitragem é também um motivo de ódios e paixões, que alimenta os comentários mais díspares das massas associativas, na defesa dos seus interesses clubísticos, aproximando-os dos respectivos grupos. Mas não é apenas o comportamento da arbitragem que provoca este tipo de reacções.
A indústria mediática (televisões, jornais, revistas, blogues, etc.) tem desenvolvido e especializado uma agenda permanente de espaços para o futebol, que está muito para além do que se passa dentro das quatro linhas, descobrindo e alimentando um filão de audiências bem remunerado pela publicidade. Discursos inflamados, acusatórios e tantas vezes a roçar os impropérios de linguagem, entre dirigentes, treinadores e comentadores desportivos, sobre temas que ultrapassam as próprias exibições dos clubes, aguçam permanentemente a rivalidade entre eles e, necessariamente, entre adeptos, tornando tantas vezes secundário o comportamento desportivo das equipas nos jogos e dando lugar à vulgarização dos discursos e provocações inúteis.
Noutro ângulo de análise, verifica-se que há clubes com muito mais aderentes que outros. Serão as vitórias dos clubes que estão na origem da maior adesão dos cidadãos a um determinado clube? Sim, mas não só!
Se os grandes clubes de hoje são um reflexo das suas vitórias anteriores e dos meios que dispõem, trazendo mais adeptos a querer estar no seio dos vencedores, não é menos verdade que, pese embora esses clubes tenham abandonado o estatuto de meras associações e se tenham tornado empresas cotadas na bolsa, a história, a região ou localidade onde se inserem os clubes, as tradições familiares e, sobretudo, o sentimento de pertença a um grupo, enquanto comportamento social normal do cidadão, faz com que muitos adeptos preservem e evidenciem a sua ligação a um clube, mesmo que ele não atinja o apogeu das vitórias.
Por isso e tendo em consideração a especificidade deste campeonato, que opôs o Benfica ao Sporting na conquista do título e salientando o que é essencial numa competição desportiva, parabéns ao Sporting pelo excepcional campeonato que fez e parabéns ao Benfica pela sua perseverança e determinação na conquista do troféu.
LUÍS BARREIRA