O Patuá de Macau segundo o Linguista Carlos Figueiredo

Influências de África e das Filipinas.

Há a ideia generalizada que o Patuá de Macau é influenciado pelo Português, Chinês, Malaio, Cingalês, Inglês, Tailandês, Japonês e por algumas línguas da Índia. Mas para Carlos Figueiredo, linguista e docente do Departamento de Português da Universidade de Macau, o crioulo do território também apresenta traços de línguas africanas e do Espanhol, via contactos comerciais com os colonizadores das Filipinas.

«É preciso entender que no século XVI, e seguintes, não eram só os portugueses que viajavam nas caravelas para a Índia Portuguesa, e daqui para outras paragens asiáticas.

Muitos dos que vinham com os portugueses eram escravos de África. Estes escravos eram já falantes de um Afro-Português com características que o distinguiam do Português Europeu, e estará também na génese do Português-Afro-Asiático que emergiu na Índia e em Malaca», disse a’O CLARIM Carlos Figueiredo.

«Os traços de línguas africanas chegaram ao crioulo de Macau pelo Papiá Kristang de Malaca, enquanto os do Espanhol terão vindo do contacto entre mercadores espanhóis das Filipinas e mercadores de Macau», acrescentou o linguista.

Carlos Figueiredo é co-autor da obra “Projecto Libolo”, com dois volumes, que vai ser apresentada em Macau no próximo mês de Maio, em data e lugar ainda a definir, depois de ter sido lançada em Julho de 2016 no Libolo.

O primeiro volume, intitulado “Linguística, História, Antropologia e Ensino no Kwanza-Sul, Angola”, escrito por Carlos Figueiredo e por Márcia Santos Oliveira, uma das investigadoras e professora da Universidade de São Paulo, explica o projecto em si e apresenta as equipas de investigação nas diferentes áreas de intervenção, o que já foi feito e o que a equipa pretende realizar no futuro.

O segundo volume, “Retratos do Libolo”, escrito por Carlos Figueiredo, apresenta a geografia, a história pré-colonial, colonial e pós-colonial e a antropologia desta região angolana.

«Trata-se de um projecto internacional e multicultural composto, neste momento, por dezoito investigadores de Macau, como é o meu caso, e de universidades brasileiras de São Paulo, de Brasília, do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, do Maranhão, da Bahia e do Pará», referiu o docente da Universidade de Macau.

O interesse pelo Libolo aconteceu por várias razões. Primeiro, porque foi onde Carlos Figueiredo nasceu, tendo conhecido muito bem a região. Depois, porque ao estudar o Português falado pela comunidade de descentes de escravos instalada na Praia de Almoxarife, em São Tomé e Príncipe, encontrou semelhanças lexicais e ao nível das estruturas gramaticais com o Português falado no Libolo.

O investigador atribuiu tais semelhanças ao fluxo de escravos levados no passado do Libolo para o Brasil e para as Caraíbas, via entreposto de São Tomé. A obra tem a chancela da Chiado Editora. O “Projecto Libolo” é parcialmente patrocinado pela Universidade de Macau.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodaniehk@hotmail.com

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