D. JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA

O outro é uma «oportunidade de salvação»

D. JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA FALA SOBRE A SEMANA SANTA, NO CONTEXTO DA PANDEMIA

O cardeal D. José Tolentino Mendonça afirmou que as autoridades do tempo de Jesus sentiram medo do Nazareno e disse que, no «teatro da angústia» da actualidade, o outro não é um inimigo mas o «acontecer da salvação».

«Neste momento difícil, crítico, austero, há uma coisa que percebemos e está no centro da lição de Jesus: é que a salvação nos chega pelo outro», referiu o bibliotecário e arquivista da Santa Sé no itinerário da Semana Santa que por estes dias partilha com a Agência ECCLESIA.

«Nós só nos salvaremos se os outros não nos infectarem, se os outros viverem com responsabilidade, se os outros respeitarem a nossa vida», lembrou o cardeal madeirense.

Para D. José Tolentino Mendonça, a pandemia Covid-19 gera na sociedade caraterísticas que são como as de uma guerra, nomeadamente «o número elevadíssimo de vítimas, o fechamento das fronteiras e a triagem daqueles que chegam».

O arcebispo apontou, no entanto, que «numa guerra o inimigo é o outro» e o «medo» está «personificado no outro», ao contrário do que acontece no contexto de uma pandemia, onde o outro é uma «oportunidade» para a «salvação».

«Olhamos para o outro não como uma ameaça, mas como uma oportunidade de graça, como uma oportunidade para esse acontecer de salvação. Esta transformação do olhar, esta visão nova, é alguma coisa que Jesus pede aos seus, é alguma coisa que a grande lição da Semana Santa e do Tríduo Pascal nos faz aprender», sublinhou.

No comentário diário que o cardeal Tolentino Mendonça faz na Agência ECCLESIA durante a Semana Santa, as «figuras do medo» marcaram a apresentação desta segunda-feira, analisando a «ameaça» com que Jesus era considerado pelas autoridades do seu tempo.

Para o arquivista e bibliotecário da Santa Sé, as razões para a ameaça que Jesus gerava está no modo como «fala de Deus» e na «reivindicação de que é Filho de Deus», no facto de ter transformado o culto «sacrificial num culto essencial» e mudado o «regime da religião», também por se colocar «exterior à própria lei» questionando o seu sentido e ainda por despertar «um risco social».

Interpelado sobre a presença de Deus no contexto da actual pandemia, D. José Tolentino Mendonça disse que «Jesus está próximo» e Deus «se faz vizinho» da existência, e chega onde as «mediações eclesiais não conseguem chegar».

«Este desejo de Deus tecido pela ausência, num formato completamente diferente do que estamos habituados, não deixa de ser uma forma de relação», acentuou.

«Eu não tenho dúvidas que a quantidade e a qualidade da oração que hoje se faz no mundo é muito superior àquela do tempo anterior à pandemia», concluiu.

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