A Mulher da História da Salvação.
A Virgem Maria, Mãe de Deus, desde a Igreja Primitiva, foi muito amada e tida como dádiva excelsa de Deus para toda a humanidade. Ela no seu ventre imaculado, foi a “porta” por onde Deus feito homem entrou no mundo. Maria, foi o primeiro sacrário entre nós, a primeira morada de Nosso Senhor Jesus Cristo. Deus na sua divina misericórdia, no Seu plano de Salvação e resgate da humanidade, caída pelo pecado original, deu-nos uma Família Celeste, e nessa família temos conhecimento, pelas escrituras e tradição da Igreja, de arcanjos, anjos, os santos e Maria, Mãe de Deus. Juntos intercedem por nós, e em comunhão adoramos e louvamos Deus trino: Pai, Filho e Espírito Santo.
O dogma que declara verdade de fé que Maria é Mãe de Deus foi proclamado pelo Concílio de Éfeso, no ano 431. Maria recebeu o nome de “Theotokos”, palavra grega que significa “Mãe de Deus”, tendo sido considerado insuficiente o título de “Christotokos”, ou seja, “Mãe de Cristo”.
Jesus dirige-se a sua mãe chamando-a de mulher duas vezes no Novo Testamento, e aqui, ao contrário do que muitos possam pensar, Ela é enaltecida por Ele, pois a Igreja crê que Jesus nos aponta para a mulher que faz parte da História da Salvação, citada nas sagradas escrituras logo no livro de Génesis: «Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta esmagar-te-á a cabeça e tu tentarás mordê-la no calcanhar» (Gen 3, 15). Maria, a Mulher, está presente nas escrituras até ao último livro do Apocalipse: «Depois, apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida de Sol, com a Lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça. Estava grávida e gritava com as dores de parto e o tormento de dar à luz» (Ap 12, 1-2). A Santíssima Virgem Maria faz parte do combate e derrota do grande dragão, Satanás, o causador da queda do homem, da criação de Deus.
A Virgem Maria é assim exaltada pelo Senhor, pois ela é mais que Sua mãe terrena, ela foi escolhida por Deus no plano salvífico, fazendo parte da nova aliança para a reconciliação de todo o homem com Deus, por isso, chamando-lhe mulher à Virgem Maria, Jesus inclui-a como um dos elementos chave em toda a escritura: ao Seu lado, ao lado dos apóstolos e dos profetas. Maria é fonte viva da palavra, desde sempre reconhecida por ter sido agraciada por Deus, assim como fonte teológica de estudo – Mariologia – e devoção por parte da Igreja Católica Apostólica Romana.
A Santa Missa e Nossa Senhora
Os católicos acreditam na presença real de Jesus Cristo na santa missa, assim também acreditou Nossa Senhora, pois depois da ascensão de Jesus ao céu (Lc 24, 50-53) começou a primeira Igreja como nos descreve o evangelista Lucas no Actos dos Apóstolos, onde o pão se voltou a partir, e se partilhou junto com o vinho: corpo, sangue alma e divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, no mistério da transubstanciação.
Deixemo-nos inspirar e meditemos nas palavras do padre Roberto Lettieri, na contemplação da santa missa em comunhão com a Virgem Maria: «Nossa Senhora tem que entrar na sua vida, um homem e uma mulher eucarística não vive sem a Mãe de Deus. A encíclica Ecclesia de Eucharistia do Papa João Paulo II sobre a Eucaristia, “Jesus sacramentado”, no Capítulo VI com o título ‘Na Escola de Maria, Mulher “Eucarística”’, o santo padre faz uma comparação maravilhosa: quando recebemos o corpo de Jesus, o padre diz: – corpo de Cristo, e o fiel diz: – amém. O Santo Padre compara esse amém com a aceitação pelo “faça-se” na resposta de Nossa Senhora no dia da anunciação do Anjo Gabriel: ‘Maria disse, então: Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra’ (Lc 1, 38).
É preciso ter um coração eucarístico, uma alma eucarística. Todas as vezes que vemos Jesus na mão do sacerdote lembremo-nos de Nossa Senhora. Ela também disse o seu amém.
Nossa Senhora é certeza do amor eucarístico na vida da Igreja. O santo Papa diz na encíclica: “Impossível imaginar os sentimentos de Maria, ao ouvir dos lábios de Pedro, João, Tiago e restantes apóstolos as palavras da Última Ceia: ‘Isto é o meu corpo que vai ser entregue por vós’ (Lc 22, 19)”.
Temos que ser Marianos, o verdadeiro católico tem que ser Mariano, tem que amar Maria, não só porque a Igreja ensina, mas por experiencia eucarística. Os grandes homens e mulheres adoradores de Nosso Senhor Jesus Cristo, eram e são Marianos».
Como nasceu a oração da Ave Maria
Maria é o mais belo presente de Deus para os homens, muitos santos a chamam de “O tesouro do Senhor”.
Era comum os cristãos criarem pequenas orações inspiradas nas escrituras, para saudar a Virgem Mãe. No dia de encerramento do Concílio de Éfeso, depois de palavras admiráveis dos Padres Conciliares, que enalteceram as virtudes e as prerrogativas especiais da Virgem Maria, o Papa Celestino I, emocionado e com lágrimas nos olhos, ajoelhou-se perante a assembleia e respeitosamente saudou Nossa Senhora: «Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém».
Na continuidade dos anos esta saudação foi unida àquela que o Arcanjo Gabriel fez a Maria (Lc 1, 26-38), conforme o Evangelho escrito por São Lucas: «Ave cheia de graça, o Senhor está contigo!» (Lc 1, 28), e ainda a uma outra saudação que Isabel fez a Maria, quando Ela foi a casa da sua prima para ajudá-la nos últimos três meses de gravidez. Isabel ao saudar Maria disse: «Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre» (Lc 1, 42). Estas três saudações deram origem à oração da Ave Maria.
São Luis Maria Grignion de Montfort, no seu “Tratado da Verdadeira Devoção à Maria Santíssima”, que em 2012 completou 300 anos, diz-nos: “Deus pai juntou todas as águas e chamou-as mar; juntou todas as suas graças e chamou-as Maria”.
Recordemos as palavras de Nossa Senhora à sua prima, depois de Isabel ter sido movida pelo Espírito Santo em palavras de louvor a Maria (Lc 1, 41-45). Nossa Senhora dá-nos um exemplo de fé na sua relação com Deus. Humildemente se entregou, louvando em “oração”: «A minha alma glorifica o Senhor, e o meu espírito exulta em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade da sua serva. De hoje em diante todas as gerações hão-de me chamar bem-aventurada. Porque fez em mim grandes coisas o Todo-poderoso. E santo é o seu nome: a sua misericórdia estende-se de geração em geração sobre aqueles que o temem (…)» (Lc 1, 46-56).
Miguel Augusto