FUNDAÇÃO AIS APRESENTOU RELATÓRIO “PERSEGUIDOS E ESQUECIDOS?”

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FUNDAÇÃO AIS APRESENTOU RELATÓRIO “PERSEGUIDOS E ESQUECIDOS?” SOBRE A OPRESSÃO DOS CRISTÃOS ENTRE 2017 E 2019

A ameaça mantém-se. Em muitos países, em muitos lugares no mundo, a sobrevivência do Cristianismo está em causa. Com excepção dos principais países do Médio Oriente, nomeadamente Síria e Iraque, em que a perseguição aos cristãos diminuiu notavelmente após a derrota militar do Daesh, o auto-proclamado Estado Islâmico, não há sinais de abrandamento da violência sobre esta comunidade religiosa. Todos os restantes países analisados pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) apontam para a continuação ou agravamento da perseguição aos cristãos, sendo que o continente africano adquire cada vez mais relevo neste mapa de terror. O facto de o Daesh ter sido derrotado na Síria e Iraque – apesar de haver sinais de ressurgimento do grupo jihadista –, isso não significa que as consequências das suas actividades terroristas não continuem a fazer-se sentir. O impacto da tentativa de genocídio dos cristãos provocou um enorme fluxo migratório e uma indisfarçável crise de segurança, além de que acentuou a pobreza extrema que já se fazia sentir em várias áreas nesta vasta região. A lenta recuperação e reconstrução de aldeias, igrejas e casas de cristãos destruídas pelos jihadistas pode significar, alerta o relatório da Fundação AIS, um passo relevante para o “desaparecimento do Cristianismo” nesta região. Os jihadistas não acabaram com a presença cristãs mas deixaram uma forte semente de destruição, de pobreza e de medo que está a fazer a sua caminhada. “A contagem decrescente” para o fim da presença cristã nesta região “parece imparável”. Esta situação traduz uma realidade algo contraditória. É que, diz o relatório da AIS, “a comunidade internacional mostra uma preocupação sem precedentes em relação à perseguição” aos cristãos. No entanto, “as medidas tomadas até à data poderão não ser suficientes para garantir o futuro da presença da Igreja” nesta região.

Se a derrota do Daesh aliviou o garrote terrorista sobre os cristãos na Síria e Iraque, o mesmo já não se passa por exemplo em África onde são se têm multiplicado os atentados em igrejas, paróquias e escolas cristãs. Pode dizer-se quase que todo o continente está infectado pelo vírus jihadista. Da Nigéria, na África Ocidental, a Madagáscar, na África Oriental, os cristãos “estão ameaçados por islamitas que procuram eliminar a Igreja, seja pelo uso da força, ou por meios desonestos, incluindo subornar pessoas para que se convertam”. Uma situação que também se aplica à Ásia. “A perseguição contra os cristãos agravou-se sobretudo na Ásia Meridional e Oriental. Esta é agora a região mais crítica a nível de perseguição”, constata o Relatório da Fundação AIS, dando alguns exemplos, como os ataques a igrejas no Sri Lanka e nas Filipinas que traduzem uma ameaça que tem origem não só no extremismo islâmico, mas também do nacionalismo populista e dos próprios regimes autoritários, como é o caso da China e da Coreia do Norte, mas também da Eritreia ou Sudão, por exemplo. O crescente nacionalismo tem vindo a traduzir-se num aumento da ameaça contra os cristãos e todos os grupos minoritários em países como a Índia, Sri Lanka e Mianmar (a antiga Birmânia). D. Joseph Couts, arcebispo de Karachi, no Paquistão, escreve, no Relatório da Fundação AIS, que os cristãos são a comunidade religiosa mais perseguida no mundo. Essa perseguição acontece sob muitas formas. Há a violência terrorista que funciona com a força bruta das armas, e há a perseguição mais subtil que resulta da discriminação, das ameaças, da extorsão, dos raptos e conversões forçadas, da negação dos direitos ou das restrições à liberdade. O Paquistão continua a ser um dos países onde os cristãos mais sofrem. Apesar do reforço das medidas de segurança, os ataques continuam a ocorrer e são uma ameaça permanente. Diz D. Joseph Couts que “os grupos militantes tornaram-se difíceis de controlar, deixando-nos assim num estado de constante tensão, por termos sempre presente que algures, nalgum momento, vai haver outro ataque. Onde e quando, ninguém sabe”… Vai haver outro ataque. Não se sabe onde nem quando. Esta realidade questiona brutalmente a coragem dos cristãos no Paquistão, assim como em tantos outros países do mundo.

NIGÉRIA: DEZ ANOS DE TERROR

Há dez anos, o Boko Haram era uma seita. Transfigurou-se. Agora é um dos mais temíveis grupos terroristas à face da Terra. E os cristãos são um dos seus alvos preferenciais. Hoje, apesar de continuar a actuar na região nordeste da Nigéria, onde pretende implantar um “califado” à semelhança do que o Daesh fez na Síria e Iraque, o Boko Haram já expandiu a sua zona de actuação para alguns países da região, como os Camarões, Chade e Níger.

Nesta década de terror, o Boko Haram já fez milhares de vítimas. As Nações Unidas estimam que mais de 27 mil as pessoas mortas pelos terroristas, mas há observadores que avançam com um número bem maior, cerca de setenta mil, mas há ainda a considerar que aproximadamente dois milhões de nigerianos foram forçados a fugir de suas casas, perdendo haveres, formas de sustento. Fugiram para não serem mortos. Afirmando que a educação ocidental é pecado, o Boko Haram tem lançado ataques contra escolas, ameaçando instituições de ensino, lançando o terror sobre os estudantes, procurando espalhar em toda a região a marca indesejável da ignorância que é sempre o maior aliado do medo.

Nestes dez anos de violência terroristas, a Igreja Católica tem sido um dos alvos preferenciais do Boko Haram. A par dos ataques contra esquadras, mercados e escolas, os terroristas transformaram capelas, igrejas e centros paroquiais em alvos muito concretos. As dioceses de Maiduguri, Yola e Taraba têm estado no epicentro da actuação do Boko Haram.

Paulo Aido 

Fundação AIS

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