No âmbito da reabertura da igreja de São José em Singapura (ver notícia em www.oclarim.com.mo), no mesmo ano em que se comemora o 110.º aniversário da sua construção pela Missão Portuguesa na cidade-Estado, recebemos uma carta do último missionário português que serviu a arquidiocese de Singapura, padre José Líbano Monteiro.
Fui para Macau em 1989. Comecei a fazer algumas viagens para Singapura, ido de Macau, no ano de 2005. Por volta de 2008, estabeleci-me na cidade-Estado com um visto de trabalho, como conselheiro de família, mas continuei como residente permanente de Macau. Só em 2018, me mudei para Portugal por razões de saúde.
Lembro-me, vagamente, nos anos 90, de dois sacerdotes portugueses, nascidos na Índia, que trabalhavam em Singapura na igreja de São José. Seriam os irmãos Guterres? Não me lembro. Seriam duma família que tinha um jornal em Macau. Já tinha ouvido falar da igreja de São José, pois o Monsenhor Manuel Teixeira tinha-lhe grande carinho do tempo em que lá esteve.
Já em Singapura, foi com alegria que conheci o Padre Miguel, chinês de Singapura, que era o reitor da igreja de São José, onde passei várias horas no confessionário e era lá que dava os meus conselhos para as muitas pessoas que vinham. Quando a igreja começou as obras, continuei esse trabalho na Catedral do Bom Pastor.
O Padre Miguel, da igreja de São José, foi quem me disse que a sua mãe o trazia, quando ele ainda criança, a essa igreja da Missão Portuguesa e participava nas procissões do dia 13 de cada mês. Mal sabia ele, dizia-me, que um dia seria o reitor deste templo.
Participei também em várias procissões e fiquei impressionado, não só pela devoção das pessoas que participavam na procissão, mas também pelas muitas velas que se acendiam nas varandas dos arranha-céus que se foram construindo à roda do recinto da igreja. Muitas famílias que viviam nesses andares, mesmo não crentes, queriam fazer parte da cerimónia.
Também por esses anos, fazia parte do presbitério da igreja o Padre Cristofe, francês, penso que era das Missões Estrangeiras de Paris (MEP), que ensinava órgão e assim também evangelizava. Eram também os talentos humanos do sacerdote que importava pôr a render, pois as pessoas que não tinham fé vinham atraídas pelos talentos musicais ou, simplesmente, pela simpatia desses sacerdotes.
As cerimónias da Semana Santa eram também memoráveis. Despregar Cristo da cruz era o mais impressionante pelo realismo e devoção com que se vivia esses momentos.
Também fui atraído pela simpatia das pessoas que nos ajudavam. Um dia, tive um furo no carro e não precisei de fazer nada. O pneu sobresselente foi rapidamente posto no lugar do outro e pude voltar a casa sem problemas. Tenho saudades desses tempos e regozijo-me com a remodelação da igreja.
Cumprimentos a todos daqui de Coimbra,
Abraço do Padre José Pedro Líbano M.