A voz dos especialistas
Em resultado de uma maior aceitação dos tratamentos das medicinas alternativas, particularmente da Medicina Tradicional Chinesa, O CLARIM falou com dois especialistas que são professores nesta área em Portugal.
Começámos por entrevistar Wu Qi, natural da China, casado com uma portuguesa. Com mais de quarenta anos de experiência em Medicina Chinesa, Wu Qi trabalha em Portugal desde 2004.
O especialista chinês considera que na última meia-dúzia de anos houve uma maior adesão por parte da população portuguesa, afirmando inclusivamente que a nível político tem havido uma notável abertura. «No último ano surgiu a regulamentação [do sector] e muitas pessoas que exercem Medicina Chinesa têm cédula profissional», referiu. A proposta para a abertura de farmácias chinesas em alguns dos hospitais públicos – ideia avançada pelo Ministério da Saúde no final de 2016 – é disso exemplo.
Também falámos com Larry Ibarra, especialista chileno que pratica Medicina Chinesa em Portugal desde 2005, ano em que começou a leccionar cursos relacionados com a sua experiência profissional.
Larry Ibarra tem igualmente notado uma grande aceitação por parte dos pacientes, sendo na sua maioria profissionais do ramo da Saúde. Muitos já têm de antemão um conhecimento mais aprofundado sobre acupunctura e fitoterapia, bem como sobre outras terapias consideradas não-convencionais. «Nos últimos anos tem-se notado uma massificação na aplicação destes métodos terapêuticos», sublinhou.
Quanto às iniciativas do Governo, Larry Ibarra é menos optimista que o colega chinês: «Têm havido algumas iniciativas isoladas por parte de algumas instituições hospitalares, no sentido de aplicar algumas terapêuticas não-convencionais. No entanto, parece-me que existe ainda um longo caminho a percorrer para uma inclusão mais profunda da Medicina Chinesa em Portugal».
Já Wu Qi reconhece que os próprios médicos da Medicina Ocidental encaram hoje esta actividade com melhores olhos: «Actualmente, um número maior de médicos consegue ver melhor esta profissão e recorre cada vez mais à acupunctura e à fitoterapia». Aliás, são os colegas ocidentais que começam a aconselhar os pacientes para estas práticas milenares.
Apesar de tudo, há ainda muito caminho a percorrer, pois embora haja uma maior aceitação da Medicina Chinesa é a «eficácia dos tratamentos que leva as pessoas a divulgarem os resultados, acabando por trazer outras pessoas».
A mesma percepção tem Larry Ibarra, que acentuou o facto das pessoas que procuram os seus tratamentos pertencerem a todas as camadas sociais, não havendo um sector da população que se destaque em relação aos outros.
O especialista chileno pratica Medicina Chinesa há vinte anos, sendo que no início da carreira exercia outras actividades. Passou a dedicar-se a tempo inteiro em 1998.
Já Wu Qi nasceu no seio de uma família de médicos de Medicina Chinesa. Para ele, ser médico é o resultado da evolução natural da vida académica, visto todos os familiares dominarem esta área do Conhecimento. O facto da Medicina Tradicional Chinesa ter mais de cinco mil anos de história, muita literatura e muitos casos de sucesso, também pesou imenso na escolha. «É um conhecimento provado pela história e pelos relatos dos pacientes. É uma área do Conhecimento e um ramo das Ciências Naturais» explicou.
Larry Ibarra defende que a divulgação passa por dar a conhecer as vantagens, devendo o Governo criar um conjunto de medidas com vista à aplicação massiva destas terapêuticas. «A tarefa cabe ao Ministério da Saúde», atirou.
O Instituto Europeu de Estudos Tradicionais Chineses, onde ambos os especialistas são docentes, permite que todos os interessados possam ter acesso aos tratamentos, nomeadamente através de convénios que facilitam o acesso gratuito por parte de pessoas com baixos rendimentos.
Larry Ibarra, ao contrário de Wu Qi, não descende de médicos, mas já os seus familiares recorriam ao uso de plantas medicinais, pelo que desde muito novo contacta com esta realidade. Sempre se interessou por Medicina Chinesa e pela forma como esta cura as doenças sem produtos químicos. Aos onze anos iniciou-se nas artes marciais, já com a intenção de mais tarde poder vir a tratar doentes de forma natural, e aos treze anos estudava massagem tradicional chinesa. Pouco tempo depois entrou no mundo da acupunctura. Ainda no Chile teve a oportunidade «e sorte» de estudar com mestres chineses, o que o ajudou a aprofundar os conhecimentos.
Em 2003 visitou pela primeira vez a China, para estudar acupunctura e massagem chinesa. Em 2004 foi a vez de visitar Portugal, indo como assistente de um professor de Medicina Tradicional Chinesa.
Confesso apaixonado da cultura milenar chinesa, Larry Ibarra fala, lê e escreve Chinês para que possa aceder às fontes. Nos últimos anos, a par das actividades lectivas e da prática da Medicina Chinesa, dedica-se à tradução, de Chinês para Português, de livros de Medicina Chinesa.
João Santos Gomes