À procura dos que estão cheios de misericórdia.
Celebrar a Misericórdia é o tema da próxima Jornada Mundial da Juventude, em Cracóvia. Um acontecimento mundial que já reuniu milhões de jovens ao redor do Papa e que em 2016 regressa à Polónia, terra de São João Paulo II, o mentor desta iniciativa. De Portugal seguem representações de todas as dioceses.
Parece que foi há pouco tempo que nos espantámos com as imagens de um Papa dentro de um Fiat Idea. Mas já foi há dois anos, quando Francisco se deslocou ao Brasil para a participação na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a sua primeira enquanto Papa. Milhões de pessoas foram vistas nas ruas do Rio de Janeiro para o convívio com aquele que, na altura, tinha acabado de ser eleito Sumo Pontífice da Igreja Católica.
Três anos depois, em 2016, o mundo da juventude volta a reunir-se para estar com o Papa, agora em Cracóvia, na Polónia, terra de São João Paulo II, que, pela segunda vez na história da JMJ, acolhe o evento.
Não existindo ainda perspectivas sobre o número de participantes, o padre Eduardo Novo, director do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil (DNPJ), tem altas expectativas. «Em Portugal, estamos a preparar as Jornadas de Cracóvia desde que regressamos do Rio de Janeiro. Teremos participações de grupos de todas as dioceses de Portugal, embora ainda não saibamos números definitivos. Estarão todos inscritos num macrogrupo da Conferência Episcopal Portuguesa, para facilitar a organização, mas depois cada grupo estará responsável por se organizar para as pré-jornadas e para as viagens», explica o sacerdote.
Este elevado número de participantes está ligado não só ao que é a JMJ, mas também ao local. «Vai ser a festa da fé, da fraternidade, da paz, da alegria e do amor que se faz com Deus. Do que tem sido possível escutar, augura-se uma participação maior, por ser na Europa, e por ser o país em que nasceu São João Paulo II, e muitos jovens têm uma ligação afectiva a este Papa», diz o padre Eduardo.
O preço médio da participação na JMJ ronda os 600 euros, segundo o DNPJ, estando dependente do valor dos transportes para Cracóvia, e os grupos que desejem participar são entusiasmados a organizarem-se para angariar os fundos para a viagem, como forma de permitir aos elementos com menor capacidade financeira a possibilidade de participação, e também como forma de irem preparando a actividade.
A preparação é, aliás, um requisito importante, no entender do padre Eduardo Novo. «É essencial que os jovens não cheguem de “pára-quedas” à JMJ, e que percebam que não vão apenas passear. Por isso, devem participar nas formações que estão a ser preparadas por nós ou pelos grupos e paróquias, para que o caminho seja mesmo de aprofundamento da fé», explica.
No que diz respeito ao DNPJ, haverá um «itinerário catequético», disponível em breve, que vai permitir fazer um caminho de preparação para a JMJ, assim como haverá o “Youth Travel”, «uma iniciativa de reflexão, acompanhamento e proximidade que iniciámos para o Rio de Janeiro e que agora iremos retomar». Tudo para que o evento não se esgote em si próprio sem produzir frutos.
Este é um receio que o padre João Chagas, responsável pelo sector da Pastoral Juvenil no Conselho Pontifício para os Leigos, não considera ser real, em virtude da experiência das JMJ anteriores. «O problema do esvaziar tem-se vindo a desmentir todos os anos, porque todos os anos há uma celebração local da juventude, no Domingo de Ramos. Todas as dioceses do mundo o fazem, a nível nacional, e isso é um impulso para a pastoral juvenil na diocese e no País. A JMJ gera formação, a nível nacional e diocesano, e em muitos lugares há paróquias que não tinham qualquer interacção com os jovens, e a partir de uma viagem a uma JMJ, os jovens movimentaram-se e daí surgiu um grupo paroquial. Muitos países não tinham pastoral juvenil, e foi criada por causa da JMJ. Ela não esgota o que é a pastoral juvenil, antes é um impulso», garante o sacerdote brasileiro.
O segredo do sucesso destes eventos, que se iniciaram pela mão de São João Paulo II há cerca de 30 anos, é o «colocarem os jovens no centro da atenção da Igreja». «João Paulo II fez os jovens sentirem que a Igreja olhava para eles, que os queria ouvir, e as JMJ acabam por ser um grito eloquente da Igreja que diz aos jovens “vocês são importantes e estão no centro da nossa solicitude pastoral”», explica o padre João Chagas. «É uma demonstração da confiança que a Igreja tem nas gerações jovens, e é importante que eles se sintam protagonistas. João Paulo II dizia sempre que os criadores da JMJ tinham sido os jovens, não ele», acrescenta.
Este responsável do Vaticano explica que as Jornadas são «um evento de fé» que toca não só os participantes, mas quem os vê. «No Rio, estive lá e participei da catequese com um grupo americano e fiquei um pouco a confessar. Vieram várias pessoas da cidade que não estavam a participar, mas que vendo aqueles jovens tão alegres e sem arranjar confusão, queriam saber o que era aquilo», conta.
Os grupos portugueses terão a possibilidade de fazer um período de pré-jornadas, numa diocese polaca que os acolha. «A experiência missionária em dioceses polacas permitirá ver como a fé é vivida e partilhada lá. Os programas são variados, e feitos por cada diocese, mas geralmente tem momentos de oração, visitas, momentos culturais e voluntariado em hospitais, casas com crianças, lares, procurar que haja troca de experiências que permitam que a fé rasgue fronteiras. As pré-jornadas permitem “aterrar” e facilitam a cultura de diálogo e encontro, porque é a noção de que não estou a caminhar sozinho, mas com outros, e vejo como é que eles vivem a sua fé», sustenta o director do DNPJ.
Quanto ao programa da JMJ, não deverá fugir do esquema tradicional. «O programa será idêntico ao habitual: catequeses matinais com os bispos em várias línguas e Eucaristia diária, com diversos temas; de tarde há concertos, exposições, momentos de oração e reflexão, há sempre um diálogo intrínseco entre a actividade com a oração, reflexão e acção, e teremos o nosso encontro dos portugueses com os seus bispos», enumera o padre Eduardo Novo.
Novidade será o tema da Misericórdia, a meio do Ano Santo dedicado ao mesmo tema. «Tudo aponta para o encontro pessoal com Deus, de saber quem é este Deus. A partir das revelações particulares de Jesus a Santa Faustina Kowaltska, saber quem é este Deus que me move e de que forma este Deus me leva a tomar atitudes e acções de construção de mim mesmo na reacção comigo, com os outros e com Ele. A visita ao Santuário da Divina Misericórdia, e o sentido de peregrinação, que pode ser uma analogia de como a nossa vida é uma peregrinação, e nesse sentido saber de que forma deixo que o próprio Deus Se revele e caminhe comigo, é outro dos aspectos a ter em conta nas Jornadas deste ano», conta.
Sabendo que nem todos irão poder participar nas Jornadas de Cracóvia. O DNPJ pede que «em cada diocese, movimento ou paróquias haja um momento de orarão e encontro, e que seja possível a transmissão dos encontros via Internet. Isso permite que os jovens se sintam representados e percebam que a união em oração ultrapassa fronteiras», diz.
O desafio está lançado e as expectativas são altas, como em todas as JMJ que já se fizeram e que já reuniram milhões de jovens ao redor do Papa ao longo destes 30 anos. Dos jovens de Portugal, quem se junta à festa?
Mensagem do Papa aos jovens (Caixa)
“Queridos jovens, Jesus misericordioso, representado na imagem venerada pelo Povo de Deus no santuário de Cracóvia a Ele dedicado, espera-vos. Confia em vós e conta convosco. Tem muitas coisas importantes a dizer a cada um e a cada uma de vós… Não tenhais medo de fixar os seus olhos cheios de amor infinito por vós e deixai-vos alcançar pelo seu olhar misericordioso, pronto a perdoar todos os vossos pecados, um olhar capaz de mudar a vossa vida e curar as feridas da vossa alma, um olhar que sacia a sede profunda que habita nos vossos corações jovens: sede de amor, de paz, de alegria e de verdadeira felicidade. Vinde a Ele e não tenhais medo! Vinde dizer-Lhe do mais fundo dos vossos corações: ‘Jesus, confio em Vos!’ Deixai-vos tocar pela sua misericórdia sem limites, a fim de, por vossa vez, vos tornardes apóstolos da misericórdia, através das obras, das palavras e da oração, neste nosso mundo ferido pelo egoísmo, o ódio e tanto desespero”.
RICARDO PERNA
Família Cristã