As Cruzadas
As Cruzadas foram movimentos organizados para libertação de terras, na medida em que muitos territórios cristãos começaram a ficar ocupados por um povo, os turcos, inicialmente nómadas, mas que a partir do Século XI se estenderam sem limites nem fronteiras.
Impelidas por preocupações humanas fundamentais, como a fé, a identidade dos povos e a sua segurança, estes movimentos só podem ser compreendidos no próprio contexto histórico. Fora do tempo, como agora acontece, usa-se e abusa-se de interpretações levianas, adoptadas e adaptadas de acordo com os enquadramentos que lhes querem dar, do ponto de vista religioso, económico ou político.
Com muita frequência, algumas mentes exaltadas, na intelectualidade ocidental, tem dado largas à sua imaginação para recriarem o cenário que lhes convém, condenando estes movimentos religiosos que caracterizam a Idade Média. Talvez por isso, grande parte da informação destes movimentos que chega até nós é falso, deturpado, enganador, sendo mais uma tentativa de sugestionar ou mesmo induzir revolta sobre eles. Aliás a própria palavra “Cruzada” é um termo franco-castelhano, que só se tornou popular na Inglaterra do Século XVIII, entrando na linguagem anglo-saxónica como sinónimo de uma boa causa vigorosamente porfiada, desde o pacífico evangelismo cristão até à temperança militante.
Existiram vários movimentos, hoje definidos como Cruzadas, todos com características próprias e objectivos bem definidos, quer dentro da Europa, quer para o Oriente Médio. Se umas tinham como fim combater heresias, como aconteceu em França com os cátaros, outras procuravam desinstalar o infiel muçulmano das terras santas que, abusivamente, tinham ocupado.
As circunstâncias políticas, a identidade cultural e o facto de os imperadores serem considerados líderes das Igrejas, quer romana, quer bizantina, são circunstâncias que impeliram a uma união estratégica de defesa das fronteiras, dos povos e da religião.
Para compreender bem estes movimentos é necessário recorrer a obras cuja referência seja, de certo modo, neutra e nos orientem e informem com maior abrangência. É bom não ficar pela superficialidade, nem dar ouvidos a quem opina com muita leveza e aparente convicção, pois a realidade foi mais ampla, mais rica e mais complexa. Não se pode generalizar estes movimentos que foram todos diferentes; alguns tiveram consequências imprevistas, mas sempre foram expedições militares organizadas pelos povos da cristandade ocidental, nomeadamente normandos e franceses, apoiada pelos Papas, com o objectivo de recuperar os locais sagrados do Cristianismo, que tinham sido ocupados por um povo de outra religião.
As Cruzadas para Ocidente e Oriente foram uma inevitável defesa de terras, de povos e de religião.
Repor a verdade, libertando-a das muitas distorções e difamações que os séculos posteriores lhe acrescentaram, é o imperativo ético que subjaz a esta crónica, suscitando a premência de uma abordagem mais profunda e clarificadora.
Enrique Villanueva
Historiador e investigador