Uma ferramenta que não substitui a riqueza humana
Fruto duma reflexão e trabalho conjunto do Dicastério para a Doutrina da Fé e do Dicastério para a Cultura e a Educação, com a data da memória de São Tomás de Aquino, 28 de Janeiro, foi lançado o documento “Antiqua et nova” sobre a relação entre a inteligência artificial e a inteligência humana.
O seu objectivo é, principalmente, orientar crentes e não crentes sobre o que é a IA e as formas positivas com que pode ser usada, contribuindo-se para o progresso humano, mas respeitando sempre a dignidade da pessoa.
A IA não deve ser considerada como uma forma artificial de inteligência, mas como um dos seus produtos, uma oportunidade ou uma ferramenta complementar à inteligência humana.
A IA e a inteligência humana são essencialmente diferentes e a primeira nunca poderá, nem deverá, substituir a segunda; a pessoa humana e as suas escolhas livres são o agente moral que molda e define o que a IA deverá realizar. Esta não persegue os seus próprios fins, mas executa os propósitos intencionais que lhe são atribuídos pelo Ser Humano. Mesmo quando a IA escolhe novas maneiras de os atingir por si própria, as suas aplicações devem estar rigorosamente em conformidade com a dignidade da pessoa humana e com a sua realização integral.
Sendo um meio extraordinário para aumentar as nossas capacidades cognitivas e operacionais, deverá ser considerada como o resultado da engenhosidade do Ser Humano, criado à imagem e semelhança de Deus. Nesta perspectiva, os esforços para projectar e empregar sabiamente sistemas de IA fazem parte da tarefa de melhorar as condições de vida da Humanidade: os homens receberam de Deus o mandato de cooperar no Seu plano da criação por meio do trabalho humano. O progresso científico e tecnológico também participa plenamente nesta tarefa como complemento. Este progresso diz respeito a todo e a IA, como qualquer outra obra humana, deve contribuir para a solidariedade e desenvolvimento fraterno dos povos, não gerar divisões ou discriminações, não deixar ninguém para trás e beneficiar a todos, especialmente os mais necessitados.
Procurando orientar para o uso correcto da IA nos seus diversos campos de aplicação, a Igreja Católica propõe princípios que se assemelham na sua maioria com as recomendações formuladas no campo ético por importantes organizações internacionais.
A visão de IA que daqui emerge é equilibrada, referindo-se sempre ao Ser Humano, mas apropriadamente distinta dele.
O documento, depois de apresentar uma reflexão sobre a inteligência humana, que engloba a totalidade da pessoa humana e possuiu uma abertura desinteressada à Verdade, ao Bom e ao Belo, reitera que a IA é um mero instrumento que executa tarefas, mas incapaz de pensar.
A Inteligência Artificial não deve ser considerada como uma pessoa, não deve ser divinizada, nem substituir as relações humanas. Deve ser utilizada apenas como um instrumento complementar à inteligência humana sendo assim considerado falacioso o próprio uso da palavra “inteligência”.
Sendo o texto da “Antiqua et nova” composto por 117 parágrafos, nos quais aborda “as questões antropológicas e éticas” levantadas pela IA, apresenta e define os limites e oportunidades do desenvolvimento desta tecnologia em diversos campos, tais como na educação, economia, trabalho, saúde, relações internacionais e interpessoais e nos contextos de guerra, podendo ser considerado deveras oportuno a sua leitura e reflexão, na medida em que nos esclarece de forma simples e sucinta, sem recurso a opiniões que nem sempre ingénuas ou lineares.
Susana Mexia
Professora