Conferência debate legado artístico dos jesuítas em Macau
Disseminaram o Evangelho, fundaram e construíram igrejas, fizeram da arte e da arquitectura um veículo para chegar ao coração do outro. Em regiões como Goa e Macau, o legado artístico e arquitectónico dos jesuítas é, ainda hoje, quase tão importante como a mensagem religiosa com que a Companhia de Jesus procurou converter e evangelizar a Oriente. A questão dá o mote a uma conferência na próxima quarta-feira, na Universidade de São José.
A relevância e a singularidade da abordagem estética promovida pelos discípulos de Santo Inácio de Loyola vai estar em discussão na próxima quarta-feira, no campus da Ilha Verde da Universidade de São José, no âmbito da conferência “Arte Jesuíta em Macau: entre Goa e o Japão”. A iniciativa, promovida pelo Instituto Ricci de Macau, tem Cristina Osswald – uma das mais reputadas especialistas da actualidade na história da Companhia de Jesus – como oradora, e propõe uma leitura da arte jesuítica como o resultado de um processo único de intercâmbio cultural e religioso entre o Japão, a China, a Índia e a Europa.
«Esta conferência é uma oportunidade para recapitular um projecto que desenvolvi e que vou continuando a alimentar de acordo com as minhas possibilidades. É um projecto que surgiu em 2018, a convite do Instituto Ricci de Macau. Foi nesse âmbito que durante seis meses preparei este projecto. O meu objectivo é, exactamente, abordar Macau na confluência do Ocidente e do Oriente», explicou Cristina Osswald, em declarações a’O CLARIM. «A minha tese de doutoramento tinha sido sobre Goa, mas depois, por causa do filme “Silêncio” e também de outro projecto em que estou envolvida relacionado com o Japão, comecei a interessar-me com mais profundidade pelo Japão. Esta conferência é exactamente sobre Macau como um ponto de confluência entre o Ocidente, a Índia – embora isso não seja assim tão óbvio – e um Oriente que se estende até ao Japão», acrescentou a investigadora do Instituto Ricci.
Em Macau, o legado jesuíta não é tão diverso como em Goa, mas é substancialmente mais rico e emblemático. A fachada das Ruínas de São Paulo é ainda hoje um testemunho imponente de uma abordagem sincrética, sem par em qualquer outro lugar do mundo. «Se calhar em Macau esse legado é bem mais óbvio. Goa tem a Basílica do Bom Jesus, onde está o corpo de São Francisco Xavier e, nesse sentido, o espaço acaba por ser mais emblemático. Macau tem o braço [do Santo], até porque São Francisco Xavier, como se sabe, morreu bem perto daqui, na ilha de Sanchoão», recordou a também docente do Instituto Politécnico de Macau.
«A nível urbanístico e arquitectónico, a perspectiva é outra. Eu diria que São Paulo é mais emblemático, tem um impacto maior do que propriamente a Basílica do Bom Jesus. Há outras igrejas em Goa, como por exemplo Santana de Talaulim, mas nível de estrutura e da relação com a cidade, São Paulo é mais imponente», rematou Cristina Osswald.
Marco Carvalho