GUARDIÕES DAS CHAVES – 30

GUARDIÕES DAS CHAVES – 30>

A ameaça contínua dos bárbaros e do monofisismo: Hilário e Simplício

SÃO HILÁRIO

(19.XI.461 – 29.II.468)

Hilário, o 46.º Pontífice Romano, foi um dos delegados papais que o Papa Leão enviou ao tumultuoso Sínodo de Éfeso, em 449 (“o concílio dos ladrões”). Infelizmente, Dióscoro, Patriarca de Alexandria, exerceu grande influência a favor dos monofisitas, que elogiavam Eutiques e condenavam São Flávio, Patriarca de Constantinopla. Os seguidores de Dióscoro agrediram fisicamente Flávio, o que levou à sua morte em 11 de Agosto de 449. Hilário teve de fugir e finalmente conseguiu regressar a Roma, mas com grande dificuldade.

Hilário, já na qualidade de Papa, “confirmou os três sínodos de Niceia [325], Éfeso [431] e Calcedónia [451] e o Tomo do santo bispo Leão” (Liber Pontificalis).

Recordemos que Niceia condenou o arianismo e defendeu a natureza divina de Jesus Cristo; e que Éfeso condenou o nestorianismo e confirmou que Maria é Mãe de Deus; e, ainda, que Calcedónia rejeitou o monofisismo e defendeu as duas naturezas em Jesus Cristo.

Além disso, o Papa Santo Hilário “manteve a supremacia e a liderança da Santa Sé Católica e Apostólica” (Liber Pontificalis). Resolveu problemas relativos à Igreja na Gália e também em Espanha. Desta forma, fortaleceu a governação da Igreja, a fim de preservar a hierarquia.

Hilário trabalhou para manter a disciplina da Igreja, exigindo que os candidatos ao Sacerdócio tivessem um certo nível de cultura e proibindo os Papas e bispos de nomear os seus sucessores.

Entre os projectos de construção e decoração de Santo Hilário estão os oratórios que construiu no baptistério de São João de Latrão, um em honra de São João Baptista e outro a São João Evangelista, a quem atribuiu a sua fuga de Dióscoro. Sobre a porta deste oratório, Hilário escreveu as palavras “Ao seu libertador, o Beato João Evangelista, Bispo Hilário, Servo de Cristo” (Brusher & Borden, “Popes through the Ages”, pág. 92).

SÃO SIMPLÍCIO

(3.III.468 – 10.III.483)

O Papa Simplício teve de atravessar tempos difíceis. Foi durante o seu Pontificado que o Império Romano Ocidental caiu. De facto, quando se tornou Papa, grande parte do Império já tinha sido invadida pelos bárbaros: os visigodos em Espanha; os francos e outras tribos na Gália; os vândalos em África; os pictos e escoceses, os anglo-saxões e os saxões na Grã-Bretanha. Em 476, Odoacro, que vinha de uma tribo germânica e era adepto do arianismo, tornou-se o primeiro rei bárbaro da Itália. Apesar das suas origens e crenças, respeitava a Igreja. O Papa Simplício conseguiu, assim, manter a autoridade papal no meio das mudanças políticas.

O Império Oriental era outra questão e estava perturbado pelo problema doutrinário do monofisismo (Cristo tem apenas uma natureza divina – já condenado pelo Papa Leão e pelo Concílio de Calcedónia) e também por algumas disputas sobre jurisdição. Foi uma batalha difícil, porque o Santo Padre teve de enfrentar as forças combinadas da autoridade secular (o imperador oriental Zenão) e dos líderes religiosos (os Patriarcas Acácio de Constantinopla; Pedro, o “Fuller”, de Antioquia; e Timóteo Eluro, também conhecido como “Timóteo, o Gato” ou “Timóteo, a Doninha”, de Alexandria). Timóteo foi sucedido por Pedro Mongo. Como vimos, os monofisitas argumentavam contra o nestorianismo, que ensinava duas Pessoas em Cristo, mas iam ao extremo oposto de ensinar não apenas uma Pessoa, mas também uma natureza – a natureza divina – em Cristo. O Imperador Zenão e o Patriarca Acácio redigiram um documento chamado “Henotikon” (Henótico), que tentava seguir um caminho intermediário entre o monofisismo e o nestorianismo, mas o Papa Simplício rejeitou-o porque não seguia o que o Papa Leão e o Concílio de Calcedónia haviam ensinado.

A firmeza do Santo Padre na doutrina correcta mostra como as palavras de nosso Senhor a Pedro se cumprem em todas as épocas: «Simão, Simão, eis que Satanás já recebeu autorização para vos peneirar como trigo! Eu, entretanto, roguei por ti, para que a tua fé não se esgote; tu pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos!» (Lucas 22, 31-32).

Pe. José Mario Mandía

LEGENDA: Papa São Simplício

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