O Quinto Cisma: Bonifácio I e o Antipapa Eulálio
SÃO BONIFÁCIO I
(28/29.XII.418 – 4.IX.422)
A eleição do 42.º Bispo de Roma foi um acontecimento tumultuoso e começou com um cisma, o quinto na História da Igreja.
Após o funeral do Papa Zósimo, em 27 de Dezembro de 418, um arquidiácono chamado Eulálio liderou um grupo de clérigos, diáconos e leigos na tomada da Basílica de Latrão (São João de Latrão) e não permitiu a entrada de um número maior de clérigos. Esta facção elegeu Eulálio como Pontífice Romano. O resto do clero reuniu-se na igreja de Teodora no dia seguinte, 28 de Dezembro. Lá, elegeram o idoso padre Bonifácio, que hesitou em aceitar a eleição.
Bonifácio era “muito estimado pela sua caridade, erudição e bom carácter. No Domingo, 29 de Dezembro, ambos foram consagrados, Bonifácio na basílica de São Marcelino [basílica de Júlio], apoiado por nove bispos provinciais e cerca de setenta padres; Eulálio na Basílica de Latrão [basílica de Constantino, na presença dos diáconos, alguns padres e o bispo de Óstia, que foi chamado do seu leito de doença para assistir à ordenação” (Peterson, J.B. 1907. Papa São Bonifácio I. In “The Catholic Encyclopedia”. http://www.newadvent.org/cathen/02658a.htm). Lembraremos que era tradição o bispo de Óstia consagrar o novo Bispo de Roma. De acordo com o Liber Pontificalis, “houve dissensão entre o clero durante sete meses e quinze dias”.
Naquela época, o prefeito de Roma, Símaco, era a favor de Eulálio e pediu ao imperador Honório (que ainda estava em Ravena) que reconhecesse Eulálio como o novo Papa. Honório expulsou Bonifácio da cidade.
Mas os seguidores de Bonifácio apelaram ao Imperador, que convocou um sínodo de bispos italianos em Ravena, em Fevereiro de 419. Não conseguiram resolver a questão e decidiram adiar para Junho, quando um concílio de bispos de Itália, Gália e África poderia ser convocado. Entretanto, o sínodo “ordenou que ambos os pretendentes deixassem Roma até que uma decisão fosse tomada e proibiu o regresso sob pena de condenação. Com a aproximação da Páscoa, a 30 de Março, Aquileu, bispo de Spoleto, foi designado para conduzir os serviços pascais na Sé Vacante. Bonifácio foi enviado, ao que parece, para o cemitério de Santa Felicidade, na Via Salária, e Eulálio para Antium (Âncio). Em 18 de Março, Eulálio voltou corajosamente a Roma, reuniu os seus partidários, reacendeu a contenda e, desprezando as ordens do prefeito para deixar a cidade, tomou a Basílica de Latrão no Sábado Santo (29 de Março), determinado a presidir às cerimónias pascais. As tropas imperiais foram obrigadas a expulsá-lo e a permitir que Aquiles conduzisse as cerimónias. O Imperador ficou profundamente indignado com esses procedimentos e, recusando-se a considerar novamente as reivindicações de Eulálio, reconheceu Bonifácio como Papa legítimo (3 de Abril de 418). Este último voltou a Roma em 10 de Abril e foi aclamado pelo povo” (Peterson, J.B. 1907. Papa São Bonifácio I. In “The Catholic Encyclopedia”. http://www.newadvent.org/cathen/02658a.htm).
O que aconteceu a Eulálio? Foi nomeado bispo de outra diocese. Por sugestão de Bonifácio, o imperador Honório decretou que, sempre que as eleições papais fossem contestadas, os candidatos não deveriam ser reconhecidos, mas sim deveria ser realizada uma nova eleição.
O Papa Bonifácio também continuou a lutar contra o pelagianismo. Ele pediu a Santo Agostinho que escrevesse um tratado sobre o assunto e falou com o imperador Honório para exigir que todos aceitassem a condenação de Pelágio e Celéstio.
Bonifácio morreu em 422 e foi sepultado numa capela que ele mesmo construíra no cemitério de Santa Felicidade.
Pe. José Mario Mandía