Projecto da Actas dos Mártires: Antero e Fabiano
SANTO ANTERO
(21.XI.235 – 3.I.236)
O 19.º Papa era de origem grega e teve um reinado muito curto. No entanto, deu um importante contributo para a historiografia cristã.
Vimos como os primeiros escritores cristãos tentaram manter registos dos acontecimentos a que assistiam. Mas, para além das narrativas genuínas, havia também algumas obras temperadas com lendas piedosas. Por isso, foi necessário fazer um esforço para distinguir as verdadeiras crónicas dos escritos apócrifos (cf. PAIS DA IGREJA n.º 8). Este trabalho já tinha começado no tempo do Papa São Clemente I (92-99), o 4.º Romano Pontífice. Ele havia nomeado notários para redigir as Actas dos Mártires (relatórios dos processos judiciais em que os mártires eram julgados). E o que é que o Papa Antero fez? “Recolheu cuidadosamente dos notários as actas dos mártires e dos leitores, e depositou-as na igreja” (Liber Pontificalis).
Não sabemos ao certo se o Papa Antero morreu mártir, mas a tradição diz que foi sepultado na cripta papal das Catacumbas de Calisto.
SÃO FABIANO
(20.I.236 – 20.I.250)
Fabiano nasceu em Roma. A sua eleição teve algo de milagroso que Eusébio de Cesareia (o primeiro historiador da Igreja – cf. PAIS DA IGREJA n.º 23) nos conta.
“Diz-se que Fabiano, depois da morte de Antero, veio do país com outros e ficou em Roma, onde chegou ao cargo de forma milagrosa, graças à graça divina e celeste. Quando os irmãos estavam todos reunidos com o objectivo de nomear o sucessor do episcopado, e muitos pensavam em pessoas notáveis e ilustres, Fabiano, que lá se encontrava, não veio à mente de ninguém. Mas, de repente, segundo contam, uma pomba desceu do alto e pousou sobre a sua cabeça, como clara imitação da descida do Espírito Santo em forma de pomba sobre o Salvador; então todo o povo, como que movido por uma inspiração divina, com toda a avidez e com uma só alma gritou: ‘Digno!’ e sem mais delongas pegou nele e colocou-o no trono episcopal” (História Eclesiástica, VI, 29).
Durante a maior parte dos anos em que Fabiano foi Papa, os cristãos gozaram de alguma paz. Isto permitiu à Igreja crescer e construir-se. Esta paz seria interrompida no final do pontificado de Fabiano pela perseguição de Décio.
Enquanto a paz prevaleceu, Fabiano continuou a trabalhar no que Antero já começara. Encarregou os subdiáconos de colaborar com os notários na recolha das Actas dos Mártires.
Foi ele que levou para Roma os corpos de São Ponciano e Santo Hipólito (cf. PAIS DA IGREJA n.º 18). Ponciano foi sepultado nas Catacumbas de Calisto e Hipólito num cemitério ao longo da Via Tiburtina, que mais tarde receberia o seu nome.
As Catacumbas de Calisto foram “ampliadas e embelezadas. As abóbadas foram adornadas com pinturas. Uma igreja ergueu-se sobre o cemitério” (Brusher e Borden, “Popes Through the Ages”, pág. 40).
Décio tornou-se imperador em 249 e, durante doze meses (até à sua morte), obrigou os cristãos a oferecer sacrifícios aos deuses sob pena de morte. O Papa Fabiano, juntamente com outros cristãos notáveis, foi martirizado durante esta perseguição e foi sepultado nas Catacumbas de Calisto.
Infelizmente, a relativa paz de que gozavam os cristãos tinha tornado muitos deles complacentes e fracos, e estes abandonaram a Fé nesta altura. Outros fugiram e esconderam-se. Alguns deles tornaram-se eremitas ou anacoretas (os eremitas podem ir de um lugar para outro, mas os anacoretas vivem em reclusão num lugar definido).
Pe. José Mario Mandía