O apelo do Cardeal Tagle
Num espírito de alegria e expectativa, o Congresso Missionário Asiático, intitulado “Grande Peregrinação da Esperança 2025”, teve início a 27 de Novembro – Jornada Sinodal que reuniu cardeais, bispos, clérigos, religiosos e líderes leigos de toda a Ásia – e prolongou-se até ao passado Domingo.
Guiado pelo tema “Caminhando juntos como povos da Ásia… e seguiram um caminho diferente (Mt., 2, 12)”, a edição deste ano marcou um momento de renovação espiritual, diálogo e fraternidade.
Os organizadores – Federação das Conferências Episcopais da Ásia e Diocese Católica de Penang (Malásia, onde o Congresso teve lugar) – conceberam o evento como celebração de grande fé, expressada em muitas culturas, e como uma viagem de esperança e comunhão cada vez mais profunda com Deus, com a Criação e com a Humanidade.
O ponto alto do primeiro dia foi o discurso de abertura do cardeal filipino D. Luis Antonio Tagle, Pró-Prefeito da Secção de Primeira Evangelização do Dicastério para a Evangelização. Na palestra que proferiu, dedicada ao tema “Seguindo um caminho diferente como peregrinos renovados da esperança”, o Cardeal reflectiu sobre a história dos Reis Magos, apresentando-a como narrativa de esperança – «uma virtude profundamente humana e humanizadora», afirmou. D. Antonio Tagle enfatizou que a verdadeira esperança purifica o egoísmo e a todos encorajou para serem «mais Reis Magos e menos Herodes enquanto parceiros sinodais».
No total, estiveram em Penang dez cardeais, 104 bispos, 155 sacerdotes, oito diáconos, 74 freiras e 422 leigos, bem como mais de noventa voluntários de 23 países asiáticos e de nove outras nações, o que demonstrou a notável amplitude e diversidade de participação na edição deste ano.
A “Grande Peregrinação da Esperança 2025” foi descrita, pela Rádio Veritas, como o “maior encontro sinodal” das Igrejas Católicas na Ásia nos últimos vinte anos.
O anterior Congresso Missionário Asiático foi realizado em 2006, na cidade de Chiang Mai, na Tailândia, pelo que o encontro em Penang era há muito aguardado pela Igreja em toda a região asiática.
«Em todas as circunstâncias, continuaremos a contar a história de Jesus na Ásia e no mundo. Nunca nos cansaremos de contar a sua história», disse D. Antonio Tagle, perante mais de mil delegados. Abordou a «complexa interligação» entre a história dos Três Reis Magos e a de Herodes, contextualizando-a na história de Jesus, para apontar a origem e a natureza da esperança cristã. Segundo o Cardeal, a esperança cristã não é sinónimo de optimismo absoluto, nem «a crença de que tudo vai correr bem». Não é um desejo piedoso, nem uma negação das dificuldades, nem uma fuga às provações da vida. Em vez disso, a esperança cristã – continuou – é «uma virtude teologal inspirada em nós pela graça de Deus, e cujo objecto é Deus. O seu objecto não é algo, mas alguém, a saber, Deus, que se fez homem em Jesus Cristo».
O Pró-Prefeito citou o parágrafo 1818 do Catecismo da Igreja Católica, para lembrar que a virtude teologal da esperança incute nos corações o desejo de felicidade, sustenta as pessoas nas provações e purifica a devoção à caridade das intenções egoístas. «Para sermos verdadeiros peregrinos da esperança, devemos ser mensageiros da história de Jesus. Através da nossa linguagem cristã, das nossas acções, dos nossos relacionamentos e do nosso próprio ser, tornamo-nos histórias vivas de esperança em Jesus», afirmou, acrescentando: «Por isso, ainda hoje devemos considerar-nos afortunados por termos programas de formação contínua em gestão pastoral, que promovem a transparência e a responsabilidade na administração de bens e propriedades. Mas, muitas vezes, pergunto-me se também nos ensinam a ser bons administradores dos múltiplos dons do Espírito Santo nas nossas comunidades. Os dons são desperdiçados quando são ignorados e não desenvolvidos. Mas também são desperdiçados quando não são usados para o propósito para o qual foram dados pelo Espírito Santo».
Os Três Reis Magos confirmaram, por meio da sua adoração, que Jesus é o dom de Deus para todas as nações, testemunhando assim os braços abertos de Jesus, o «novo Rei», que «acolhe a todos».
«No nosso mundo actual», lamentou ainda, «o desespero leva ao assassinato de inocentes, crianças, mães e aldeias inteiras». E as pessoas sem esperança não são alegres. «Não espalham alegria e não toleram a alegria nos outros».
Mesmo na época do seu nascimento, foi Jesus quem «guiou os Três Reis Magos a seguirem um caminho diferente». Ele próprio, o Filho de Deus, «seguiu um caminho diferente do de Herodes; esvaziou-se para abraçar a fraqueza humana. Nasceu rei como uma criança pobre numa manjedoura». No final da sua vida terrena, «foi crucificado sob a acusação de ser um falso rei. Continua a viver nos famintos, nos sedentos, nos sem-abrigo, nos prisioneiros, nos estrangeiros».
A concluir, D. Antonio Tagle fez um apelo: «Precisamos de mais pessoas sábias, peregrinas que procuram, escutam, aprendem e adoram. Precisamos de menos Herodes, aprisionado no medo, no poder e no desespero. Vinde e juntai-vos a Jesus na vossa peregrinação».
Joaquim Magalhães de Castro

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