O belo e o monstro
O arquitecto Francisco Vizeu Pinheiro dá nota positiva à preservação do património cultural listado pela UNESCO, mas adverte que ainda há muito por fazer. Cabe ao Governo da RAEM implementar medidas proteccionistas contra a poluição atmosférica e a desmesurada cota altimétrica em certas zonas do território, devendo também apresentar uma consulta pública credível sobre o legado histórico.
«O balanço [sobre os dez anos] da classificação do Centro Histórico como Património Mundial da UNESCO é positivo, mas convém não dormir à sombra da bananeira porque Macau cresceu muito, sobretudo, devido à liberalização do Jogo. Houve um “boom” na construção e no crescimento demográfico, que continua. Até 2050, Macau poderá estar perto de um milhão de habitantes», disse a’O CLARIM, Vizeu Pinheiro.«Há mais veículos automóveis a circular, mas as ruas da cidade e o espaço histórico são as mesmas. O aumento da altimetria dos edifícios corta os corredores de ventilação, o que já se verifica, e o Centro Histórico é agora uma zona muito poluída e má para a saúde dos habitantes e dos visitantes», alertou o arquitecto.
No seu entender, «há soluções», passando uma delas «por cortar o trânsito rodoviário no centro da cidade, tornando-a mais pedonal, seja temporário ou a título permanente. Deixando os carros de circular, há espaço para plantar árvores e para fomentar sombras para as crianças».
Vizeu Pinheiro também criticou «a grande concentração de visitantes em pequenas zonas, tais como entre o Largo do Senado e as Ruínas de São Paulo, o Templo de A-Má e pouco mais do que isso». Por essa razão, defendeu que «deve haver mais canais de distribuição, de evacuação, porque se há uma rede alternativa não há congestionamento, nem “inundações”».
Terá que haver «um princípio de gestão de fluidos de densidades, não só na Península de Macau, mas também criar mais zonas alternativas nas ilhas da Taipa e de Coloane, como por exemplo na fábrica de panchões, no centro histórico da Vila da Taipa e na orla costeira de Coloane, entre outras».
«O que falta, realmente, é haver uma consulta pública verdadeira sobre o “master plan” do património, porque a que houve no ano passado sobre a Lei da Salvaguarda do Património Cultural, que já estava definida e aprovada, foi apenas um exercício para responder às exigências da UNESCO. Além disso, não foi mostrado qualquer plano, mas sim alguns princípios básicos», descreveu Vizeu Pinheiro, acrescentando que «o tipo de questionário apresentado foi tendencioso de modo a manipular as respostas».
PEDRO DANIEL OLIVEIRA