Expectativas goradas, mudança de pilotos e uma compra
A temporada de 2018 da Fórmula 1 arrancou, à semelhança dos últimos dez anos, com o Grande Prémio da Austrália, primeira prova de um calendário superlotado, composto por 21 corridas (Austrália, Bahrain, China, Azerbaijão, Espanha, Mónaco, Canadá, França, Áustria, Inglaterra, Alemanha, Hungria, Bélgica, Itália, Singapura, Rússia, Japão, Estados Unidos da América, México, Brasil e Abu Dhabi). O aumento do número de Grande Prémios deixou algumas equipas pouco satisfeitas e com problemas financeiros.
A Ferrari, com uma apresentação super elaborada e altamente mediática dos seus novos carros, enviou à concorrência directa (Mercedes e Red Bull) uma forte mensagem: “Estamos aqui para vencer!”. Parecia que era isso, e só isso, o que iria acontecer. Mas assim não foi. Devido aos erros cometidos por Sebastian Vettel, a “armada” Ferrari não conseguiu suplantar a Mercedes no Campeonato de Construtores. A equipa alemã tem 345 pontos e a Ferrari 335, em resultado da soma dos pontos dos pilotos no final das doze corridas correspondentes à primeira parte do campeonato. Lewis Hamilton e Valtteri Bottas, os pilotos da Mercedes, têm 213 e 132 pontos, respectivamente, ao passo que Vettel e Kimi Raikkonen, os pilotos de Maranello, têm 189 e 146. Curiosamente, o grande obreiro da Ferrari é até ao momento Raikkonen, que já conta com seis terceiros lugares e um segundo.
Para além da Ferrari e da Mercedes, a única equipa que tem alcançado algum sucesso é a Red Bull, que utiliza motores Renault, afinados nas oficinas da empresa das bebidas energéticas. A marca austríaca, por intermédio de Daniel Ricciardo (118) e de Max Verstappen (105), amealhou 223 pontos. Segue-se a Renault, com apenas 82 pontos.
Quanto a conclusões sobre o capítulo “motores”, tudo faz pender a balança – muito fortemente – para o lado da Ferrari, que só não tem mais pontos devido aos erros (desnecessários e de custo elevado) cometidos por Vettel. Aliás, o piloto alemão já admitiu que a Ferrari tem muito mais para dar.
Quanto aos pilotos… primeiro há que salvaguardar que se trata de trinta pilotos, e não de vinte. É que embora só alinhem vinte carros no “grid”, há mais dez pilotos que são essenciais para o desenvolvimento dos bólides. São os denominados pilotos de reserva. Os pilotos oficiais são quem faz 75 por cento do trabalho, desde os testes oficiais da FIA (três vezes por ano), até às corridas de 90 minutos, passando pelos treinos livres e de qualificação. Para quem não sabe ou já não se lembra, as corridas de Fórmula 1 não podem durar mais que duas horas. Os pilotos de reserva – também denominados pilotos de testes – podem ser chamados a verificar os carros, em condições semelhantes às corridas, no primeiro treino livre de cada Grande Prémio, podendo ainda substituir o piloto oficial, desde que respeitados os regulamentos.
Os pilotos são classificados/avaliados através de um método que pode parecer estranho a quem não está familiarizado com os meandros da Fórmula 1. As classificações são feitas no final de cada fim-de-semana, sendo publicadas no intervalo das férias de Verão e depois de terminado o campeonato. Descrever as classificações dos vinte pilotos seria para o leitor um pouco enfadonho, mas aqui ficam alguns nomes e as respectivas avaliações. Estas são independentes da posição que cada nome ocupa no campeonato e são efectuadas por um conjunto de jornalistas da especialidade, pelo que não são em nada vinculativas. Começando do pior para o melhor: Stoffel Vandoorne (McLaren, 4.5/10 – oito pontos no campeonato), Lance Stroll (Wililams, 5/10 – quatro pts), Max Verstappen (Red Bull, 6.5/10 – 105 pts), Kimi Raikkonen (Ferrari, 7/10 – 146 pts), Sebastian Vettel (Ferrari, 7.5/10 – 189 pts), Lewis Hamilton (Mercedes, 8.5/10 – 213 pontos), Fernando Alonso (McLaren, 8.5/10 – 44 pontos), Charles Leclerc (Sauber, 9/10 – 13 pts).
A primeira parte do campeonato não esteve ao nível das expectativas dos responsáveis da Ferrari e da Mercedes. A primeira porque não atingiu o objectivo de ter uma margem de erro confortável, face aos seus rivais; a segunda porque não pode considerar que esteja livre de problemas. A Mercedes tem apenas mais dez pontos e a Ferrari estará, muito certamente, a reforçar-se com soluções aerodinâmicas e “updates”, como aliás todas as outras equipas. Na “rentrée” logo se verá o novo potencial dos carros.
Surpreendente e que deixou todos de boca aberta foi o anúncio há dias da transferência de Daniel Ricciardo da Red Bull para a Renault, o que veio agitar o mercado das contratações, quando nada o fazia prever. As perguntas sem resposta imediata aparecem como cogumelos a cada momento. No topo das questões ainda sem resposta está o porquê de Ricciardo ter decidido mudar para a Renault? Especula-se que por receio de vir a ser o número 2 de Verstappen, ou devido ao facto da Red Bull – actualmente equipada com motores Renault – estar a preparar-se para receber motores Honda. E quem vai ter de sair da Renault? Carlos Sainz ou Nico Hulkenberg? E porque é que a Red Bull prontamente avisou que não vai contratar Fernando Alonso, alegando que o bicampeão do mundo de pilotos e vencedor das 24 Horas de Le Mans é uma personagem caótica, estando em final de carreira? Será que Alonso está de saída da McLaren? E se Alonso sair, quem o irá substituir?
Entretanto, a Force India, até agora propriedade de Vijay Mallya, mudou finalmente de dono, ao fim de mais de dois de negociações fracassadas. A equipa de raiz indiana estava na bancarrota e sem possibilidade de pagar salários há algum tempo, tendo chegado a estar sob administração judicial. Lawrence Stroll, o multimilionário canadense, pai de Lance Stroll, actual piloto da Williams, formou um consórcio e comprou a Force India. Falava-se há já algum tempo que Lance Stroll poderia trocar a Williams pela Force India no final desta época. Com esta decisão, tudo aponta para que não deverá ser só este piloto a mudar de carro. Sem Lawrence Stroll o que será pois da Williams sem o seu apoio financeiro?
O Grande Prémio da Bélgica é já no próximo dia 26 deste mês. Talvez muitas das perguntas aqui formuladas tenham resposta nessa altura….
Manuel dos Santos