Filosofia, uma dentada de cada vez (57)

Como podemos estar seguros?

Já vimos que a verdade se baseia na existência de algo, em coisas reais, no que é real. Quando somos confrontados com a realidade, por causa da nossa liberdade, podemos responder a esse facto [essa realidade] no mínimo de três maneiras; podemos ter três diferentes atitudes. Estar certo, ter uma opinião ou duvidar. Vejam bem que enquanto a verdade se refere ao “estado das coisas” (a forma como as coisas são), estas três referem-se a diferentes “estados de espírito” (o que pensamos sobre esse facto).

A relação entre o estado das coisas e o estado de espírito é a evidência. O nosso estado de espírito depende muito da quantidade de evidência que possuímos do estado das coisas. São Tomás de Aquino ensina que algumas coisas são evidentes ou óbvias por si próprias: “per se nota”. Coisas que podemos observar directamente são exemplos dessas verdades. Mas outras coisas não são directamente evidentes. São Tomás dizia que eram “per aliud nota” (“o outro conjuntivo”) – tomamos conhecimento das coisas através dos outros (ver FILOSOFIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ, nº 3).

CERTEZA. Quando eu digo que estou certo ou seguro sobre algo, significa que a minha mente adere firmemente a um julgamento, sem medo de que o contrário possa ser verdade. Por exemplo, quando estou seguro ou certo de que o tempo está muito frio (gélido), excluo qualquer possibilidade de que o tempo possa estar ameno ou muito quente.

Como vimos acima, a certeza (ou convicção) é um estado de espírito. Significa que mesmo que esteja seguro sobre algo, essa certeza pode não significar necessariamente que o que eu penso seja verdade (estado das coisas). Por exemplo, posso estar seguro que o meu amigo Bob tem setenta anos. No entanto, acontece que ele tem apenas quarenta anos. Isto não significa que nunca possamos estar certos. O que significa é que devemos ter sempre uma mente aberta. Não obstante, devemos lembrar-nos sempre do conselho de GK Chesterton: “Não tenha uma mente tão aberta que os seus miolos possam cair”.

OPINIÃO. Quando eu tenho uma opinião sobre algo, significa que estou inclinado a aceitar um certo julgamento como verdadeiro, mas sem desconsiderar o facto de que ele possa ser falso. Por exemplo, posso pensar que um colega não tenha vindo trabalhar porque está doente, mas sei que pode haver uma diferente razão para a sua ausência. Eu não estou certo da razão (porque é que ele faltou), apenas tenho uma opinião sobre isso.

Como vimos acima, a opinião, assim como a certeza, são estados de espírito. Um estado de espírito não reflecte necessariamente um estado de coisa. Ainda assim, quantas vezes impomos a nossa opinião, como se fosse a única verdade absoluta!

DÚVIDA. Quando alguém tem dúvidas, significa que está indeciso entre duas (ou mais) possibilidades; ainda não fez um julgamento (tomou uma decisão). Uma dúvida pode aparecer porque não se tem evidência suficiente que permita fazer qualquer julgamento, ou porque existem provas fortes equivalentes em ambos os lados do argumento. A primeira é chamada de dúvida negativa (não existem provas suficientes), ao passo que a segunda é chamada de dúvida positiva (as provas de ambos os lados equivalem-se).

No nosso dia-a-dia há alturas em que temos que actuar, mesmo que não estejamos completamente seguros da situação (isto acontece porque não sabemos tudo). No entanto, em casos importantes, é essencial esclarecer as dúvidas antes de fazer qualquer acção, de forma a que pelo menos possamos ter uma opinião que favoreça a maneira de agir. Diariamente temos que andar entre a pressa e a moderação, entre a covardia e a precipitação, entre a indecisão e a precipitação imprudente.

Pe. José Mario Mandía

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