Pensas que tenho um cérebro?
Pensas que tenho um cérebro? Não achas que esta é uma pergunta estranha? Na realidade, hoje, eu vou fazer umas quantas perguntas estranhas. E todas estas perguntas estão enquadradas numa grande questão: “Como é que sabes as coisas que realmente sabes?”
E porque é que esta pergunta é importante? Porque nós somos animais naturalmente curiosos e inquisitivos, e quando nos fornecem qualquer informação ou dados, naturalmente gostamos de saber a origem desses dados, antes de os aceitarmos. Hoje, vamos falar sobre três maneiras com as quais conseguimos conhecer as coisas, e para isso farei três conjuntos de perguntas.
No primeiro conjunto serão perguntas do tipo que se segue: “Estás a ler este estudo?”, “Está calor ou frio?”, “Estás sentado, em pé ou deitado?”, “Estás dentro ou fora de casa?”, “É de dia ou de noite?”
Sei que podes responder a estas perguntas muito rapidamente. Mas deixa-me perguntar-te: “Como é que sabes tudo isso?”
Calculo que a tua resposta será algo como isto; “É óbvio”, ou “Posso ver (ou sentir) isso”. Por outras palavras, este primeiro conjunto de perguntas gera respostas baseadas na observação directa de factos. Assim, podemos dizer que o conhecimento de algumas das coisas resulta de observação directa do que os nossos sentidos podem perceber. Mas será este o único meio de conhecermos coisas? Não nos parece que assim seja.
Vamos agora ao segundo conjunto de perguntas.
Deixem-me usar a pergunta inicial: “Achas que tenho um cérebro?” Poderás rir-te desta pergunta. Poderás – espero – dizer algo como isto “Sim” ou “Penso que sim”.
Então, permitam-me que pergunte novamente: “Como é que sabes isso?” Desta vez não me poderás dizer que já o observaste directamente, porque, na realidade, não podes ver o meu cérebro. Então como é que sabes que tenho um cérebro? Bem, poderás dizer: “Eu posso reconhecer sinais de inteligência”, ou qualquer coisa parecida.
Deixa-me fazer outra pergunta: “Pensas que foi algum ser humano que escreveu este ensaio?” Talvez digas que “sim”. E que achas da possibilidade de que, quando todos estivessem ausentes do escritório, tenha aparecido um macaco e começasse aos saltos no teclado que resultassem neste estudo? Possível? Possível, mas altamente improvável.
Em ambas as perguntas, tanto sobre o meu cérebro, como sobre o ensaio, não obtivemos a resposta por observação directa, mas antes por raciocínio baseado em informações que pudemos observar.
A ciência usa tanto o primeiro como o segundo método: observa os acontecimentos que nos rodeiam e depois usa o raciocínio para chegar às causas desses acontecimentos. Vejam quão limitado seria o nosso conhecimento se apenas aceitasse a existência de coisas que fossem percebidas directamente pelos nossos sentidos.
Agora, vamos ao terceiro conjunto de perguntas.
“Sabes a data do teu nascimento? Quando nasceste?”
A pergunta que se segue: “Tens a certeza disso?” A maior parte das pessoas, dirá que sim, que estão bastante seguras disso.
“Verificaste o calendário quando deixaste o ventre da tua mãe?” Ainda não encontrei ninguém que o tivesse feito, mas todos dizem que sabem que nasceram naquele dia.
Ninguém diz: “Acredito que nasci naquela data”. Humm… não é interessante? Sabemos algo que não observámos directamente.
E nem podemos usar o raciocínio para estabelecer a data do nosso nascimento. Então, parece que podemos conhecer coisas que não podemos ver ou reflectir sobre elas. Mas como é que as conhecemos? Por intermédio de alguém que nos informe desse facto. É o conhecimento baseado no testemunho de outra pessoa: é o conhecimento baseado na confiança, ou na Fé humana.
Muito do nosso conhecimento é adquirido desta forma. É por isso que vamos à escola. Adquirimos conhecimentos de outras pessoas que, por sua vez, também os adquiriram de outras pessoas.
Assim que estabelecemos a credibilidade de uma pessoa aprendemos a aceitar as informações que ela nos dá.
A sociedade só é possível devido a esse tipo de conhecimento. A ciência também a utiliza (como é que conhecemos a distância da Terra ao sol?). A crença religiosa também emprega este tipo de conhecimento. Mas trataremos desse assunto numa outra série.
Pe. José Mario Mandía