Os bons livros
Conta-se de um casal que gostava muito de viajar. Certo dia, saíram de casa a grande velocidade. O marido conduzia extasiado. Tinham já percorrido bastantes quilómetros, quando a mulher avisou:
«– Acho que estamos perdidos!».
O marido não pareceu preocupar-se.
«– Qual é o problema? Estamos a fazer uma média fantástica».
Esta média fantástica, a caminho de nenhum lugar, é o que acontece a muitas pessoas na sua vida.
Enchem a existência de stress e eficácia, mas esquecem de perguntar-se para onde se dirigem com tanta pressa. Desprezam, como uma perda de tempo, o olhar para o mapa da sua vida.
Quantas vezes ouvimos dizer que é preciso parar, ir mais devagar, reflectir sobre o caminho já andado. No entanto, quão poucos são aqueles que o sabem fazer!
Porque parar não é não fazer nada. Isso é mais aborrecido do que andar de um lado para o outro em agitação constante.
Parar na vida é outra coisa.
Estou convencido de que um excelente modo de o fazer é dedicar um tempo diário à leitura. Uma leitura silenciosa que nos faça pensar, reflectir e procurar o sentido daquilo que fazemos.
Os bons livros são sempre fonte de sentido para quem os lê.
Não serve um livro qualquer. É necessário procurar aqueles que nos façam crescer em profundidade interior.
Para isso, é bom pedir conselho a pessoas que tenham experiência e sejam para nós fonte de uma certa admiração. Admiração que surge muitas vezes pelo seu modo de conversar. Se são bons leitores, a sua conversa não é nunca repetitiva, vazia ou superficial.
São pessoas que sabem transmitir conhecimentos, expressar sentimentos e compartilhar ideias com naturalidade e elegância.
Parecem fazê-lo de um modo espontâneo, mas damo-nos conta de que possuem uma profunda bagagem cultural.
São essas pessoas que nos podem indicar bons livros.
E quando tivermos o livro na mão, não nos esqueçamos de ter paciência. As melhores pérolas não costumam ser aquelas que brilham mais.
É preciso irmos adquirindo, pouco a pouco, um certo fôlego para a leitura. Fugir do perigo de nos refugiarmos no mais fácil que, habitualmente, é o mais superficial.
Estamos mergulhados numa civilização da imagem.
Isso, muitas vezes, leva as pessoas a não terem um mínimo de paciência para lerem algo que exige um pouco de esforço. E sem esforço, não se pode aprender nunca a ser um bom leitor.
Os bons livros devem ocupar um lugar fundamental na nossa vida – eles são para nós fonte de sentido. Por isso, é preciso dedicar um tempo real a ler, a pensar e a reflectir.
Alguém uma vez disse – e com razão – que a vida em si mesma não nos ensina nada. O que nos ensina é a leitura que nós façamos dela.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Doutor em Teologia