Família e Fé

A beleza salvará o mundo

Observava a paisagem e pensava no que ele me tinha dito. Era uma descoberta. Estava mais do que provado por muitas experiências realizadas recentemente. As galinhas, quando ouviam música de Mozart, punham mais ovos.

Mas será que Mozart não daria voltas na tumba ao saber disto?

Ele não tinha composto a sua música com este objectivo. Era para ser apreciada e contemplada. Só o ser humano, por ser espiritual, é capaz de verdade de fazer isso.

Vivemos num mundo muitas vezes pragmático. O que importa é fazer coisas e que elas funcionem. Contemplar a beleza? Para quê? O que é que eu ganho com isso? Não será uma perda de tempo?

Vem-me à memória uma frase de Dostoievski: “A beleza salvará o mundo”.

Porque nós, seres humanos, temos necessidade da beleza para não cair no desespero. Para nos darmos conta de que a vida tem um sentido divino. Que não estamos aqui na Terra somente para fazer coisas, mas para encontrar Deus nas coisas que fazemos.

O belo fascina. Abre as almas ao sentido do eterno. “É um chamamento do outro mundo para despertar-nos e resgatar-nos da vulgaridade” dizia Platão.

Captamos a beleza não somente com os sentidos, mas também com a inteligência e os sentimentos. Ficamos maravilhados com o misterioso poder dos sons, das palavras, das cores e das formas.

A beleza é a expressão visível do bem, de que vale a pena viver, por muitas dificuldades que tenhamos de superar.

O homem sempre necessitou da arte porque ela manifesta a beleza. E a arte não se come, não se bebe e parece que não tem nenhuma utilidade. No entanto, aquieta o desejo de felicidade que possui o coração humano – e isso não é pouco!

Revela-nos que vale a pena andar para a frente com a certeza de que, Aquele que agora intuímos de modo velado, um dia será contemplado face a face. Por isso, ensinar a contemplar devia ser a cadeira mais importante.

Hoje em dia, ensinamos Inglês, informática e variadas técnicas para ganhar dinheiro. Sem darmo-nos conta, esquecemo-nos de explicar quem é o homem, qual o sentido último da sua vida para além do fim-de-semana e que fazer ao “tocar” a infelicidade de que tudo o que aprendemos não enche o coração.

Contemplar. Olhar atentamente. Admirar com o pensamento.

E aperceber-nos-emos que o autor russo tinha razão. A beleza salvará o mundo. Ela grita a existência de Deus. Ela é luz para iluminar o nosso caminho nesta Terra e também o nosso destino.

A pergunta 533 do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica fala-nos disto:

Qual é o maior desejo do homem? Ver a Deus. Este é o grito de todo o seu ser: quero ver a Deus. O homem realiza a verdadeira e perfeita felicidade na visão d’Aquele que o criou por amor e o atrai a Si no seu infinito amor.

E atrai-nos a Si através da beleza das coisas criadas. Elas não saciam completamente o coração e suscitam em nós a nostalgia do Criador.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria 

Doutor em Teologia

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