Simplicidade
«Nasceu-vos hoje na cidade de David um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura» (Lc., 2:11-12). Com estas singelas palavras o Anjo comunica aos pastores o sublime acontecimento da Noite de Natal.
Deus acaba de nascer. Vem ao mundo – criado por Ele – e vem para nos salvar. Não vem simplesmente para nos fazer uma visita de cortesia – isso já seria muito! No entanto, para Deus, isso seria muito pouco.
Veio para habitar entre nós. Veio revelar-nos o Seu infinito Amor. Veio para morrer na Cruz e abrir-nos assim as portas do Céu. É que cada um de nós vale muito: sejamos grandes ou pequenos, fortes ou frágeis, nascidos ou ainda por nascer.
E qual foi o sinal escolhido por Deus para nos indicar que já chegou? Um maravilhoso palácio repleto de riquezas e múltiplos confortos? Não, esse não foi o sinal anunciado pelo Anjo aos pastores. O sinal escolhido por Deus, por insólito que pareça, é um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura, porque não havia para ele lugar na pousada. O sinal de Deus é a simplicidade, disse Bento XVI numa Noite de Natal.
Sem simplicidade não conseguimos sintonizar com o mistério do Natal. É necessário parar, fomentar o silêncio interior – quanto ruído à nossa volta! – e contemplar o presépio com simplicidade. Com a simplicidade de uma criança apercebemo-nos de que tudo no Natal é maravilhoso e encantador.
Como Deus é grande! E – ao mesmo tempo e sem nenhuma contradição – como Deus é simples!
Porque é que, tantas vezes, complicamos a nossa vida e a dos outros? Porque é que, tantas vezes, procuramos o êxito a todo o custo em assuntos secundários – passageiros e efémeros – e nos esquecemos do principal? Porque é que, tantas vezes, trocamos a luz do Amor que vem do presépio – a luz de que mais necessitamos para viver – pelo brilho fugaz do nosso orgulho e do nosso egoísmo?
Lá está: falta-nos simplicidade! Simplicidade para chamar “ao pão, pão e ao queijo, queijo”. Simplicidade para não esquecer que a nossa vida vale muito mais do que o ouro – ela vale uma eternidade! Simplicidade para perguntarmo-nos: se a minha vida não servir para corresponder ao Amor de Deus por mim vai servir para quê? Para ir andando? Andando para onde?
Conta-nos São Lucas que os pastores regressaram para suas casas glorificando e louvando a Deus – cheios de alegria – simplesmente por terem visto o sinal.
Mas, atenção: eles não viram nenhum milagre! Viram somente um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura. Mas viram-no – claro está – com simplicidade de coração.
Oxalá não nos falte essa simplicidade ao contemplar o presépio na Noite de Natal! Assim, tal como os pastores, receberemos de Deus uma alegria profunda e genuína que tudo o que é passageiro não nos pode dar.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Doutor em Teologia