EUROPA VAI REGRESSANDO AOS POUCOS À NORMALIDADE

EUROPA VAI REGRESSANDO AOS POUCOS À NORMALIDADE

Porque a vida não pode parar

Até hoje não contabilizámos as milhas náuticas que navegámos no veleiro Dee, nas Caraíbas, mas foram certamente bem mais de cinco mil, o que equivale a mais de nove mil quilómetros, em pouco menos de quatro anos. No entanto, desde que assentámos em terra firme, mais precisamente em Portugal, e adquirimos a autocaravana, também ela por nós “baptizada” Dee, rolámos bem mais de cinquenta mil quilómetros. Desta feita, em pouco mais de três anos.

Efectuámos viagens de Norte a Sul da Península Ibérica, de Norte a Sul de França, fomos à Holanda, à Bélgica, ao Luxemburgo… e muito mais virá.

Neste momento, escrevo-vos estacionado em frente da casa de um casal brasileiro, nosso amigo, na vila de Chaudfontaine, bem perto de Liège; depois de termos passado por França e Espanha, e visitado um evento de “street food” em Bruxelas. Aliás, este certame foi a razão principal da nossa decisão repentina de sair de Portugal e rumar a um país que tanto nos fascina. Não fossemos também nós apaixonados por cerveja!

Mas a Bélgica tem muito mais para oferecer do que milhares de tipos de cerveja. Na realidade, o que até nos trouxe a estas paragens foi a comida… de rua, mais propriamente. Estivemos no “Brussels Street Food Festival” que decorreu durante um fim-de-semana e que esteve quase para não se realizar devido à pandemia. Como nos explicou Mohamed, um jovem belga responsável pela organização, «há um mês não era para haver festa!». Contudo, o bom senso do Município imperou e deu luz verde à feitura do festival. Digamos, pois, que foi uma decisão acertada: todos os procedimentos de segurança foram cumpridos, as entradas limitadas e reduzido o tempo de permanência no recinto; efectuou-se o registo da identidade e dos contactos dos participantes e foram instalados vários pontos de desinfecção. Satisfeitos estavam os vendedores que não se queixaram com o volume do negócio.

Também estivemos quase para participar na edição deste ano, na qualidade de convidados, mas devido aos constrangimentos da pandemia decidimos adiar para outra altura. Ainda assim, quando o Mohamed nos informou que o evento se iria realizar, não pensámos duas vezes em visitar o espaço.

E já que iriamos efectuar mais esta viagem, aproveitámos para visitar amigos em Bruxelas, passear de bicicleta na cidade e – como não podia deixar de ser – tirar a foto da praxe com o bebé mijão (Manneken Pis – traduzido da língua flamenga: “garoto a urinar”). Em termos turísticos acabou por ser a única coisa que fizemos, pois quisemos acima de tudo usufruir da cidade e das suas gentes.

Desta vez optámos por não pagar auto-estradas. Até ao momento, conseguimos fazê-lo! Portugal e França foram os maiores desafios, mas com um pouco de paciência encontram-se sempre alternativas gratuitas. É mais lento, é verdade, mas também se acaba por ver outras realidades que as auto-estradas não permitem. No meu caso, atravessar as aldeias e vilas de França traz-me à memória os tempos de infância, levando-me a revisitar lugares antigos.

Curiosamente, na Bélgica, a condução nas estradas nacionais é muito semelhante à das auto-estradas, dado que a rede rodoviária é de muito boa qualidade e gratuita. O único senão destas viagens é o custo dos combustíveis, que em Portugal, França e Bélgica em nada difere. Apenas Espanha oferece gasóleo mais barato e o Luxemburgo tem dos combustíveis mais acessíveis de toda a União Europeia. Já a contar com a inevitabilidade do cartel das gasolineiras, trouxemos tanques extra na autocaravana. Deu para atravessarmos a França sem abastecer uma única vez!

Sempre que estamos na autocaravana adoptamos o mesmo estilo de vida que tínhamos no veleiro. Tentamos viver com o mínimo, procurando essencialmente alocar o dinheiro para as despesas de alimentação e outras referentes aos locais que visitamos. Por princípio, tentamos não pagar para visitar monumentos. E quando as entradas são pagas procuramos ir sempre no dia da semana em que não se paga. Deste modo, podemos utilizar o dinheiro para gastar no comércio local, como cafés, pastelarias, restaurantes, mercearias, etc. Isto é, ajudar quem realmente precisa, ao invés de engrossar ainda mais a conta bancária de uma qualquer fundação, seja ela pública ou privada.

Como é do conhecimento geral, a situação em Portugal está complicada a nível económico. Então na nossa actividade profissional, este ano tem sido um desafio constante. Noutros anos, em época de Verão, já teríamos participado em mais de uma dezena de eventos de grande dimensão. Este ano nem um para a contabilidade! Como tal, estamos já a olhar para outras opções e a Europa apresenta-se como uma alternativa a ter em conta. É verdade que ainda não há nada em concreto, mas nunca viramos a cara a uma nova oportunidade.

Os próximos meses em Portugal irão ser desafiantes e vão ditar o destino de muitas empresas e trabalhadores. Claro está que também nós não estamos imunes ao que venha a acontecer, até porque com o espírito nómada que nos caracteriza as surpresas são sempre mais que muitas. Exemplo disso é o facto de termos decidido vir à Bélgica em meia dúzia de dias, pois o evento em que estávamos a participar em São Martinho do Porto foi encurtado.

Agora segue-se uma passagem pelo Luxemburgo, a fim de revermos familiares e amigos, e talvez uma incursão pela Suíça e Itália. Depois, muito provavelmente, voltemos a França, quando já estivermos a regressar a Portugal.

João Santos Gomes

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