Viver em Cristo, para Cristo e com Cristo
O Advento, que tem início este Domingo, é um tempo de preparação para o Natal – dura quatro semanas – e marca a abertura do novo Ano Litúrgico (Ano C). O Advento encerra na tarde de 24 de Dezembro, quando começa o Tempo do Natal. Este “ano novo” não coincide com o Ano Civil, que inicia no dia 1 de Janeiro e termina a 31 de Dezembro. O novo Ano Litúrgico, que arranca no Advento, passa pelo Natal e pela Epifania; depois continua na Quaresma, Semana Santa e Páscoa; e atravessa a Ascensão do Senhor e Pentecostes, e a Festa da Santíssima Trindade, terminando com a Festa de Cristo Rei – esta foi celebrada no passado Domingo. Entre as datas e momentos festivos e mais emblemáticos, corre o Tempo Comum. O espírito do Advento é marcado por um breve percurso que nos leva ao encontro do Salvador, o menino Deus que se fez igual a nós em tudo, menos no pecado…
Nesta edição reflectimos sobre o Advento. Para tal, fomos ao encontro da sabedoria do Papa emérito Bento XVI. Em homilia, por este proferida na Basílica Vaticana, no dia 28 de Novembro de 2009, o Santo Padre debruçou-se na liturgia do dia, tendo afirmado: «Na leitura bíblica que há pouco ouvimos, tirada da Primeira Carta aos Tessalonicenses, o Apóstolo Paulo convida-nos a preparar a “vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” [5:23], conservando-nos irrepreensíveis com a graça de Deus. Paulo recorre precisamente à palavra “vinda”, em Latim, “adventus”, do qual deriva o termo “Advento”».
Ao reflectir quanto ao significado da palavra “Advento”, Bento XVI referiu que pode traduzir-se por “presença”, “chegada” e “vinda”, e que na linguagem do mundo antigo era um termo técnico utilizado para indicar a chegada de um funcionário, a visita do rei ou do imperador a uma província. No entanto, realçou o Papa, podia indicar também a chegada da divindade, que sai do seu esconderijo para se manifestar com poder, sendo intrinsecamente celebrada no culto. «Os cristãos adoptaram a palavra “Advento” para expressar a sua relação com Jesus Cristo: Jesus é o Rei que entrou nesta pobre “província”, denominada como “terra para visitar todos”. Na festa do seu advento faz participar todos quantos nele crêem; aqueles que acreditam na sua presença na assembleia litúrgica», sublinhou o Pontífice.
Logo, continuou Bento XVI, o significado da expressão “Advento” inclui o de “visitatio”, que simplesmente quer dizer “visita”. Neste caso, trata-se de uma visita de Deus: Ele entra na minha vida e quer dirigir-se a mim. O Papa afirmou que todos nós vivemos a experiência de ter pouco tempo para o Senhor.
Para o Santo Padre, o Advento, este tempo litúrgico cheio de significado que estamos a começar, convida-nos a reflectir silenciosamente para compreender a Sua presença. Segundo ele, é um convite a compreendermos que cada um dos acontecimentos do dia-a-dia é um sinal que Deus nos envia, um vestígio da atenção que Ele tem para cada um de nós. «Quantas vezes Deus faz-nos sentir algo do seu amor! Manter, por assim dizer, um “diário interior” deste amor seria uma tarefa bonita e saudável para a nossa vida! O Advento convida-nos e estimula-nos a contemplar o Senhor que está presente. Não deveria, porventura, a certeza da Sua presença ajudar-nos a ver o mundo com olhos diferentes? Não deveria a ajudar-nos a considerar toda a nossa existência como uma “visita”, um modo como Ele pode vir ter connosco e estar ao nosso lado em cada situação?», questionou o Papa, em jeito de convite à vivência da fé em Cristo.
Para Bento XVI outro elemento fundamental do Advento é a espera, a expectativa que – ao mesmo tempo – é esperança. Segundo o Papa emérito, o Advento leva-nos a compreender o sentido do tempo e da história como “kairós”, como ocasião favorável para a nossa salvação. Diz-nos que Jesus explicou esta realidade misteriosa mediante muitas parábolas: na narração dos servos convidados a esperar o retorno do dono; na parábola das virgens que esperam o esposo; ou nas parábolas relacionadas com sementeiras e colheitas.
Na sua vida – reflectiu ainda –, o homem está constantemente à espera; a esperança marca o caminho da Humanidade, mas para os cristãos ela é animada por uma certeza: «o Senhor está presente no fluxo da nossa vida, acompanha-nos, e um dia enxugará também as nossas lágrimas. Um dia, não distante, tudo encontrará o seu cumprimento no Reino de Deus, Reino de justiça e de paz».
Na celebração das Vésperas, no início do Tempo do Advento, a 27 de Novembro de 2010, na mesma Basílica Vaticana, Bento XVI, também na homilia, lembrava o que iremos celebrar: «o mistério grandioso e fascinante do Deus-connosco, aliás, do Deus que se faz um de nós, o qual celebraremos nas próximas semanas, caminhando rumo ao Santo Natal». Durante o Tempo do Advento, sentiremos que a Igreja nos toma pela mão e, à imagem de Maria Santíssima, exprime a sua maternidade, levando-nos a experimentar a expectativa jubilosa da vinda do Senhor, que a todos nos abraça no seu amor que salva e consola, apontou ainda.
Mais à frente, o Pontífice sublinhou que a liturgia não se cansa de nos encorajar e animar, pondo nos nossos lábios, nos dias do Advento, o clamor com o qual se encerra toda a Sagrada Escritura, na última página do Apocalipse de São João: «Vinde, Senhor Jesus!» (22:20).
Para Bento XVI, é precisamente o começo do Ano Litúrgico que nos faz viver novamente a expectativa de Deus que se faz carne no seio da Virgem Maria, de Deus que se faz pequenino, que se torna menino. Colocando-nos ao cuidado da Santa Mãe de Deus, concluiu: «À Virgem Maria, que recebeu o Filho de Deus feito homem com a sua fé, o seu cuidado cheio de desvelo, o seu acompanhamento solidário e vibrante de amor, confiemos a oração e o compromisso a favor da vida nascente. Façamo-lo na liturgia – que é o lugar onde vivemos a verdade e onde a verdade vive em nós –, adorando a Eucaristia divina, na qual contemplamos o Corpo de Cristo, aquele Corpo que recebeu a carne de Maria por obra do Espírito Santo, e dela nasceu em Belém, para a nossa salvação».
O Catecismo da Igreja Católica (CIC) explica que a vinda do Filho de Deus à terra é um acontecimento tão grandioso, que Deus quis prepará-lo durante séculos: “Ritos e sacrifícios, figuras e símbolos da ‘primeira Aliança’, tudo Deus faz convergir para Cristo. Anuncia-O pela boca dos profetas que se sucedem em Israel. E, por outro lado, desperta no coração dos pagãos a obscura expectativa desta vinda” (CIC nº 522). O CIC acentua que ao celebrarmos em cada ano a liturgia do Advento, a Igreja actualiza esta expectativa do Messias: “Comungando na longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo da sua segunda vinda. Pela celebração do nascimento e martírio do Precursor, a Igreja une-se ao seu desejo: «Ele deve crescer e eu diminuir» (João 3:30)” (CIC nº 24).
O padre Juan Javier Flores Arcas OSB, antigo reitor do Pontifício Instituto Litúrgico de Santo Anselmo, em Roma, numa reflexão sobre o Advento, afirmou: «O Advento é um tempo real e presente que, ao ver o ontem messiânico, nos lança para o futuro profético. Em todo o processo está a Santíssima Trindade: o Pai que cria, o Filho que vem a este mundo a recriá-lo, e o Espírito Santo que o santifica e o une no amor».
Invoquemos São José, pai nutrício de Jesus, para que nos encaminhe ao encontro do menino Deus, ainda no seu Ano convocado pelo Papa Francisco, que irá encerrar no próximo dia 8 de Dezembro.
CAIXA
O Ano Litúrgico e os seus três ciclos: A, B e C
Num artigo publicado em “aleteia.org” é-nos explicado que cada ciclo litúrgico tem a sua sequência própria nas leituras do Antigo e do Novo Testamento, na liturgia diária da Igreja, de modo que a distribuição dos textos bíblicos ao longo de três anos permita aos fiéis uma visão abrangente de toda a História da Salvação.
A publicação “online” cita a Constituição Sacrosanctum Concilium: “Prepare-se para os fiéis, com maior abundância, a mesa da Palavra de Deus: abram-se mais largamente os tesouros da Bíblia, de modo que, dentro de um período de tempo estabelecido, sejam lidas ao povo as partes mais importantes da Sagrada Escritura”.
O “site” refere que o rito romano organiza as leituras bíblicas da Celebração Eucarística de modo a completarem-se em ciclos de três anos:
No ano “A”, a leitura principal do Evangelho segue o Evangelho de São Mateus;
No ano “B”, o Evangelho de São Marcos;
No ano “C”, o Evangelho de São Lucas.
E o Evangelho de São João? Este é reservado para ocasiões especiais; ocorre continuamente – nos três ciclos –, principalmente nas grandes festividades e solenidades, com ênfase para a Semana Santa.
Como saber se o actual ciclo do Ano Litúrgico é o A, B ou C? Segundo a Aleteia, basta somar os algarismos do ano, o que dá como referência o ciclo C, que se aplica aos anos cuja soma de algarismos é divisível por 3.
Tomamos o ano que se avizinha, 2022: 2+0+2+2 = 6
Como 6 é divisível por 3, temos aqui um Ano do ciclo C. Regra geral podemos dizer que “todo o múltiplo de três é ano C”, sendo o múltiplo de três + 1, ano A; e o múltiplo de três + 2, ano B.
A Loyola Press, recorda que estes ciclos são resultado do Concílio Vaticano II, que ordenou uma mudança nas leituras dominicais da Missa, para que os católicos ficassem mais familiarizados com o texto bíblico. Como resultado, agora temos um ciclo de leituras de três anos construído em torno dos três Evangelhos sinóticos – Mateus, Marcos e Lucas.
Miguel Augusto
M.A. com Aleteia