DOMINGO DO CORPO E SANGUE DE CRISTO – Ano A – 11 de Junho

DOMINGO DO CORPO E SANGUE DE CRISTO – Ano A – 11 de Junho

“Pão partido” é o nosso “novo nome”!

«O pão que deverei dar pela vida do mundo é a minha carne» (João 6, 51)

Conheci o padre Gianni no Quénia, era eu seminarista. Fiz parte do meu treino na sua paróquia, situada num gueto. Num ambiente desafiador, aprendi muito com a sua generosidade e alegria, mesmo em situações tensas. As suas acções eram totalmente centradas no Evangelho.

Voltei a encontrá-lo muitos anos depois. Já estava a envelhecer e havia deixado África por motivos de saúde. Uma vez que estava a iniciar uma nova etapa de vida, procurou discernir melhor sobre a vontade de Deus para com ele e realizou um retiro de trinta dias. O seu director espiritual convidou-o a descobrir qual seria o seu “novo nome”. O “novo nome” simboliza a nova identidade que adquirimos quando respondemos ao chamamento de Deus. Representa a mudança que Ele quer realizar em nós, sendo algo por vezes mencionado nas Escrituras: “Serás chamado por um novo nome que a boca do Senhor te dará” (cf. Is., 62, 2; Ap., 2, 17). Simão recebeu o nome de “Pedro” (a Rocha), e Saulo o nome de “Paulo” (o pequenino).

O padre Gianni começou a rezar ansiosamente por essa intenção, mas nenhuma revelação lhe surgiu. “Bem, estou apenas no início do retiro”, pensou. “Isto virá mais tarde”. Mas os dias foram passando, um após o outro, e continuava sem fazer ideia de qual seria o seu “novo nome”.

Finalmente, chegou o último dia do retiro e o padre Gianni mantinha-se na mesma. Qual seria então o “novo nome” que Deus havia preparado para ele? Foi, pois, na última Eucaristia que algo aconteceu. Estava a rezar perante o Evangelho da multiplicação dos pães – episódio em que Jesus alimenta uma grande multidão de pessoas, com apenas cinco pães e dois peixes que um menino lhe oferecera – e durante a fracção do pão, antes da Comunhão, o seu coração saltou de alegria: “Pão partido! Este é o nome que Deus me quer dar! Encontrei! Esta sempre foi a minha vocação e é assim que devo viver no futuro: ser ‘pão partido’ como Jesus, e partilhar a minha vida com as pessoas que Deus colocará ao meu lado”.

Nos anos que se seguiram, o padre Gianni fez jus ao novo nome que Deus lhe atribuiu (“pão partido”), direccionando constantemente o seu tempo e as suas energias para a formação de missionários e encorajando leigos a se envolverem com maior ênfase na missão evangelizadora da Igreja. Foi mentor de diversas iniciativas com vista ao apoio de projectos de desenvolvimento em áreas carentes de África. É caso para dizer que mesmo que tivesse querido, jamais se poderia ter reformado.

As pessoas que ouviram Jesus proclamar o discurso do “Pão da Vida”, que lemos no capítulo 6 do Evangelho de João, ficaram escandalizadas: «Como pode este homem dar-nos a comer a sua própria carne?» (João 6, 52). No entanto, não há melhor maneira de descrever como Jesus viveu e morreu do que através da imagem do “pão partido”. A vida de Cristo foi de doação total nos encontros e eventos que marcaram a sua existência terrena, até ao seu último suspiro na Cruz.

De certo modo, a vida do padre Gianni foi um reflexo da vida de Jesus. Apesar de sua saúde frágil, aos 78 anos de idade foi convidado a ajudar numa das nossas comunidades no Congo, o que aceitou de forma generosa. Morreu alguns meses depois, gastando as suas últimas energias na nova missão para a qual foi chamado. Foi enterrado em solo africano.

Lembremo-nos de que um dos “nomes” com os quais designamos o Sacramento que celebramos este Domingo – a Solenidade de Corpus Christi (Corpo e Sangue de Cristo) – é “A Fracção do Pão”. O Catecismo da Igreja Católica explica: “É por este gesto que os discípulos O reconhecerão depois da sua ressurreição e é com esta expressão que os primeiros cristãos designarão as suas assembleias eucarísticas. Querem com isso significar que todos os que comem do único pão partido, Cristo, entram em comunhão com Ele e formam um só corpo n’Ele” (CIC nº 1329).

Quando recebemos a Eucaristia, lembramo-nos que também a nossa vida está unida a Cristo – “o único pão partido” – e que este se torna um alimento abençoado, sendo partido e partilhado para a vida do mundo. Somos “pão partido” nas nossas famílias, pois somos chamados a dar tudo o que temos e tudo o que somos para o bem dos nossos cônjuges e filhos. Como “pão partido”, somos consumidos pelo nosso trabalho e estudo, para que possamos ser úteis na construção de uma sociedade mais justa e de um mundo melhor. Quando estamos doentes, oferecemos os nossos corpos, como “pão partido”, em união com Cristo presente no sofrimento de tantos irmãos e irmãs em todo o mundo.

Todos os aspectos da nossa existência são chamados para serem abençoados, divididos e partilhados. E ao fazê-lo, eles tornam-se mais significativos. De certa forma, “pão partido” é o “nome novo” que Deus nos dá cada vez que recebemos a Eucaristia!

Pe. Paolo Consonni, MCCJ

LEGENDA:Fiéis no interior de uma igreja no Quénia

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