Cristãos são mais perseguidos
O Relatório 2014 sobre a liberdade religiosa no mundo, da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), revela que os cristãos são o grupo mais atingido pelas violações a este direito, em particular no Médio e Extremo Oriente.
O documento realça o impacto negativo da criação ou reforço de «Estados uniconfessionais», como é visível no caso do autoproclamado Estado Islâmico.
«O relatório reforça investigações anteriores que estabeleciam que os cristãos são de longe o grupo religioso mais perseguido», escreve Peter Sefton-Williams, presidente do Comité Editorial do Relatório da Liberdade Religiosa Mundial da AIS, recordando que «países onde os cristãos estão estabelecidos há gerações ou mesmo milénios se tornaram agora sujeitos ao extremismo».
O documento enviado à agência ECCLESIA passa em revista a situação em 196 países do mundo, dos quais 81 (41%) são identificados como locais onde a liberdade religiosa «é perseguida ou está em declínio».
No total, vinte países são designados como de perseguição «alta» em relação à liberdade religiosa; destes, 14 experimentam perseguição religiosa relacionada com o extremismo islâmico: Afeganistão, República Centro-Africana, Egipto, Irão, Iraque, Líbia, Maldivas, Nigéria, Paquistão, Arábia Saudita, Somália, Sudão, Síria e Iémen.
Nos restantes seis países da “lista negra”, a perseguição religiosa está ligada a regimes autoritários: Mianmar, China, Eritreia, Coreia do Norte, Azerbaijão e Uzbequistão.
Um total de outros 35 países (incluindo Angola) foi classificado como tendo problemas de liberdade religiosa «preocupantes», sem deterioração da sua situação.
A organização católica precisa que, no período compreendido entre Outubro de 2012 e Julho deste ano, a liberdade religiosa «entrou numa fase de declínio grave».
O documento retrata um aumento das perseguições dirigidas às «comunidades religiosas marginalizadas», não apenas cristãs, e sustenta que «os países muçulmanos são predominantes na lista de Estados com as violações mais graves à liberdade religiosa».
A análise sublinha que a liberdade religiosa está «em declínio» também nos países ocidentais predominante ou historicamente cristãos, tanto por causa do «desacordo em relação ao papel a ser desempenhado pela religião na “praça pública”» como pelo «aumento da preocupação social com o extremismo».
A fundação pontifícia aponta ainda um aumento da «iliteracia religiosa» entre os decisores políticos ocidentais e os meios de comunicação social.
O relatório apresenta uma série de casos concretos de violações da liberdade religiosa, como o do missionário sul-coreano Kim Jung-Wook, de 50 anos, «condenado a trabalhos forçados perpétuos pelas autoridades norte-coreanas».
Nesse contexto, são também lembradas as 276 alunas raptadas por membros do grupo terrorista “Boko Haram” de uma escola secundária em Chibok, no nordeste da Nigéria, em Abril deste ano, ou o caso de Meriam Ibrahim, sudanesa que foi inicialmente condenada à morte por enforcamento no Sudão e que actualmente se encontra nos Estados Unidos da América.
O relatório da fundação assinala, a respeito de Portugal, que «a liberdade de culto é uma realidade concreta na sociedade, respeitada pelos poderes instituídos».
A AIS sustenta que «a necessidade de todos os líderes religiosos proclamarem em voz alta a sua oposição à violência de inspiração religiosa e de reafirmarem o seu apoio à tolerância religiosa estão a tornar-se cada vez mais urgentes».