Dia Internacional da Mulher (8 de Março)

Ode ao cabelo ao vento

Temos assistido nos últimos tempos a uma campanha internacional que pretende vangloriar os benefícios e virtudes do “hijab”, essa forma “moderada” de véu islâmico. São rostos da campanha a norte-americana de origem palestina Linda Sarsour, uma das organizadoras da mais recente marcha das mulheres, iniciativa financiada pelo bolso sem fundo do “polvo” George Soros, e Yassmin Abdel-Magied, australiana de origem sudanesa, ex-engenheira civil e actual presidente da ONG “Youth Without Borders” (lá está o Soros outra vez), mulher de três em um: blogger, escritora e apresentadora de televisão. Ambas têm aparecido nos media tradicionais e nas redes sociais, bem vestidas, bem maquilhadas, espalhando charme a rodos, pois são ambas bastante atractivas. Convém lembrar que tanto uma como outra, apesar do semblante mulher-moderna, são acérrimas defensoras da “sharia”. A última teve até a descaradeza de vir dizer, negando o comummente reconhecido, que «a “sharia” não é um conjunto de leis», antes uma «forma de estar na vida que permite diversas interpretações». Acrescenta a australiana que «a “sharia” tem sobretudo a ver com compaixão e com bondade». Bom, em que é que ficamos? Na das “diversas interpretações” ou na única interpretação da “bondade” e da “compaixão”?

Que lhe chame o que quiser a senhora Yassmin, mas eu fico-me mais pela das “diversas interpretações” e convido-a a fazer um passeiozito, não pela Arábia Saudita, pois sabe-se do que a casa gasta, mas por Banda Aceh, onde há coisas ridículas como o impedimento de casais de namorados manifestarem o seu afecto publicamente sob pena de serem vergastados. Em praça pública, claro está, pois a populaça gosta de assistir a espectáculos do género. Valente compaixão, sim senhor. E que tal um apedrejamento até à morte das ditas “feministas” Linda Sarsour e Yassmin Abdel-Magied, como está prevista na “sharia” que elas tanto apregoam? Olhem, é o que fazem (ou tentam fazer) de vez em quando a certas “pecadoras” dos Emirados Árabes Unidos, Irão, Iraque, Qatar, Mauritânia, Arábia Saudita, Sudão, Iémen, norte da Nigéria, partes do Afeganistão e Paquistão, e ainda, pasme-se, em Aceh, província suis generis da ainda (talvez não por muito mais tempo) laica República da Indonésia.

Incomoda-me imenso esta gente que pretende ressuscitar tradições da barbárie “vestindo-as” de elegância. Mal anda o feminismo de hoje com figuras de proa como estas.

Como resultado da sua “jihad”, há já, em muitos países ocidentais, um dia dedicado ao “hijab”, e pelo mundo fora sucedem-se uma série de iniciativas com pobres de espírito a prestarem-se à experimentação pública do dito véu. Por que não a burca, já agora? Não tarda nada e teremos na Europa tendências de moda nesse sentido. E então, até as histéricas da Femen, Pussy Riots e quejandas bizarrias, essas que pintam o corpo com frases abjectas e gratuitamente exibem seios, umbigos e coxas, se renderão aos encantos da “sharia”, pois – não tenhamos medo das palavras – essa coisa de escrever vulgaridades no corpo e cobrir o rosto, seja com máscaras, panos ou grades de ferro, não passam de fetiches de cariz sexual, perfeitamente legítimos quando mutuamente consentidos. Deixemo-los nesse domínio e não os transformemos em cavalos de batalha de uma suposta “libertação feminina”. A liberdade de usarmos o nosso corpo como bem entendemos não pressupõe exposição pública. Quando isso acontece, entramos no domínio do puro exibicionismo, e então estaremos a falar de uma patologia e não de um direito. A Internet está cheia de produtos do género para consumo privado.

Atenção, nada tenho contra o uso do “hijab”. Em muitos dos casos até o acho bastante atractivo – que belas me pareceram as mulheres de Alexandria, com os seus véus em jeito de touca! – mas daí a vangloriar o seu uso generalizado, imposto a todas as mulheres por uma absurda lei religiosa, vai um passo muito grande, que não quero nem posso dar. Essa de nunca mostrar o cabelo em público parece-me mais um obsessão doentia de mentes perversas. O cabelo existe para esvoaçar livremente ao vento ou para ser recatadamente coberto, assim o deseje a dona do mesmo e não porque o interdita uma qualquer estúpida lei. Não podemos negar a ninguém, e sobre nenhum pretexto, esse prazer tão intenso e básico.

Depois há questão estética: atentemos ao tipo de “hijab” popularizado na Malásia, Brunei e Indonésia – se bem que neste último país abundem ainda, e espero por muitos mais anos, gaiatas com o cabelo solto na boleia das motocicletas dos rapazes. É simplesmente inestético, feio como tudo. E depois há esta perversidade a ter em conta: às moçoilas obrigam-nas a andar de cabeça e pescoço tapados, isto, num clima tropical, quente e húmido, todavia permitem que pintem as unhas e o rosto e vistam jeans apertados e lancem olhar lânguidos a quem passa.

Neste capítulo, os tarados das montanhas do Hindokush que trazem as mulheres tapadas da cabeça aos pés são muito mais coerentes. Ou se tapa tudo ou não se tapa nada.

A verdade é que a disseminação do “hijab” é cada vez mais notória. Na Malásia, por exemplo, raras são as mulheres de etnia malaia que o dispensam. Há duas décadas, cobertas andavam apenas as mulheres da costa leste; hoje o fenómeno abarca todo o País.

A pergunta final que se coloca é esta: o que é que justifica as senhoras Sarsour e Abdel-Magied virem, aqui e agora, defender o uso do “hijab” e santificar os preceitos da “sharia”? Qual a necessidade da “missionação”? Será que elas cobririam da cabeça aos pés as suas filhas de cinco e seis anos, como fazem tantos seguidores da dita? Dir-se-ia que preparam o caminho. Não sei a quem, ou a que interesses, mas que cheira a esturro, cheira.

Joaquim Magalhães de Castro

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