Dia de Macau, 24 de Junho

Data que não se esquece.

Há 18 anos, no dia 24 de Junho, comemorou-se pela última vez o dia da “Cidade do Santo Nome de Deus de Macau, Não Há Outra Mais Leal”, como os macaenses sempre se referem à sua terra natal.

Para quem não conhece a história por detrás do dia que os macaenses reconhecem como sendo o da sua cidade, o historiador Montalto de Jesus, no seu “Macau Histórico”, descreve: “Quando o padre jesuíta Rho disparou um tiro de canhão e acertou com precisão, um vagão carregado de pólvora pertencente às forças invasoras holandesas, no dia 24 de Junho de 1622, Dia de São João Baptista, iniciava-se a história que originou o Dia de Macau: Oitocentos soldados holandeses desembarcaram na praia de Cacilhas, hoje região do reservatório, para tentar tomar Macau. Sessenta europeus e noventa macaenses tiveram que retroceder das areias de Cacilhas diante da sua inferioridade numérica. Os sinos tocavam insistentemente, as senhoras refugiavam-se em São Paulo e os tesouros foram guardados no Seminário. A cidade do Santo Nome de Deus estava desprotegida. A maior parte dos portugueses viajara para o estrangeiro, comum naquela época do ano. Os holandeses, felizmente, não sabiam disso.

Avançando com cautela, sofreram pesado bombardeio de canhões da cidadela do Monte e um tiro disparado pelo padre jesuíta Rho acertou, em cheio, aquele vagão de pólvora. Isto desconcertou as forças invasoras. Dirigiram-se então ao cume da Ermida da Guia onde foram detidos pelas forças lideradas por Rodrigo Ferreira. O golpe final aos holandeses deu-se com a junção de dois grupos de combate de Macau que os atacaram quando se dirigiam a outra elevação. Em debandada, os holandeses ainda foram atacados pela população local. No combate final em Cacilhas, os holandeses, derrotados, jogaram-se ao mar na tentativa de alcançar os barcos. Muitos se afogaram e um dos barcos, superlotado, afundou-se. Dizem os registos portugueses que cerca de 350 holandeses morreram em combate ou afogados. Do nosso lado, os mortos foram 4 portugueses, 2 espanhóis e vários negros, para uma batalha que durou cerca de duas horas.

Para Macau, desprevenida, a vitória foi considerada um milagre. Após os combates, foram todos à Catedral para uma solene acção de graças, tendo o Senado e os moradores feito votos de comemorar este dia daí em diante, cuja salvação da cidade foi atribuída a São João Baptista. Conta a lenda que pelo seu manto, foram desviados os tiros dos inimigos”.

Em 2017, longe do sítio que os viu nascer, um grupo a rondar as quatro dezenas, das quais catorze eram filhos da terra, juntou-se para festejar a data, mais uma vez. Trata-se de macaenses, pessoas nascidas em Macau, de famílias mestiças, radicados há várias décadas no Centro e Norte de Portugal. A data também é lembrada na Casa de Macau em Lisboa, mas devido às distâncias este grupo de “Filo, filo di Macau” decidiu começar a organizar o seu próprio convívio. Desta forma, os que vivem mais a norte não são obrigados a rumar à capital para assinalarem esta e outras datas que a comunidade macaense em Portugal tenta manter vivas.

O grupo não tem a pretensão de se substituir a ninguém, muito menos à Casa de Macau, e tenta – de forma bem clara – distanciar-se de todas as polémicas. É apenas um conjunto de amigos que reúne, sem quaisquer outras intenções, que não seja a de manter viva a memória de tempos idos.

Este ano o encontro foi mais no Centro de Portugal e a escolha recaiu num restaurante da zona da Bairrada. Um convívio onde não faltaram iguarias de Macau confeccionadas pela exímia cozinheira Diana Guerra e por outras das participantes.

Sendo o encontro na terra do leitão assado no forno, este foi, como não poderia deixar de ser, o prato principal. As comezainas macaenses fizeram as delícias à sobremesa, onde não faltou Bolo Minino, Batatada e Pudim de Mango, entre mais algumas receitas.

Na edição deste ano vieram convivas da zona da Figueira da Foz, Coimbra, Porto e ainda de mais a norte.

O próximo encontro ficou já agendado para o dia 4 de Outubro, mas o local ainda não está decidido. No entanto, como o propósito é assinalar a Festividade do Bolo Lunar, a refeição será predominantemente chinesa e no norte do País, visto que há o cuidado de alternar entre o Centro e o Norte para agradar a todos e, democraticamente, repartir o esforço da viagem entre os convivas. A idade de cada um deles já começa a “pesar” e as distâncias contam no momento de decidir participar nos encontros.

Nos últimos anos, a organização têm estado a cargo de um pequeno grupo liderado por Diana Guerra e Irene Ansejo, incansáveis nos seus contactos e na vontade de fazer cada vez mais e melhor. Impulsionadas por uma energia invejável em senhoras de idade respeitável, Diana e Irene, juntamente com mais alguns membros da comunidade, vão dando vida à preservação da memória macaense.

Além do Dia de Macau e da Festividade do Bolo Lunar, este grupo de amigos organiza também encontros por ocasião do Ano Novo Chinês.

JOÃO SANTOS GOMES

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