COVID-19, FALTA DE CIVISMO E RACISMO

COVID-19, FALTA DE CIVISMO E RACISMO

Que Deus nos acuda!

De acordo com alguns analistas estrangeiros, o bom trabalho que tem vindo a ser feito em Portugal, em termos de controlo do Covid-19, parece que está agora a ser colocado em causa. São já muitos os países da Europa que impõem restrições à entrada de cidadãos oriundos de Portugal, devido aos números que se registaram ultimamente. Agora que até estávamos a pensar em ir passear a Espanha…

Especialmente na zona de Lisboa, pois também há outros focos nalguns pontos do País, vão surgindo casos que estão a “estragar a fotografia” (colorida) que o Governo tem andado a divulgar.

A verdade é que enquanto esteve em vigor o recolher “obrigatório” a situação foi-se desenvolvendo de forma mais ou menos controlada. Assim que as restrições foram levantadas, e com a chegada do bom tempo, foi ver os portugueses a correr para as praias e para um pé de dança em festas pela noite fora. Até nós fomos beber uma cerveja geladinha na esplanada da praia, que por acaso estava vazia pois era hora da sesta.

Todos sabemos que os portugueses gostam de festas, e se lhes juntarmos tempo quente não há quem lhes resista. Aliás, já o afirmava um camarada do Governo holandês. Na ocasião quase crucificavam o homem mas agora deve haver muito boa gente que concorda com ele. Hoje basta falar em festas populares para logo surgirem uns quantos defensores do zelo do Governo em não as permitir.

Olhando para a verdade dos números, parece que a média de novos casos de Portugal coloca o País no segundo lugar dos piores da Europa. E, não fosse o caso tão sério, até seria caricato ver toda a gente nas ruas pelo País fora, sem que ninguém pareça muito preocupado.

Afinal, até a final da Champions League vamos ter! E, pasmem-se, é um prémio para o esforço dos profissionais de saúde… Na Alemanha receberam um bónus, em França um aumento, e em Portugal levam bola – literalmente! Com um pouco de sorte ainda estreia uma novela dedicada aos nossos médicos e enfermeiros.

Em conversa com um médico amigo, que até é ferrenho adepto de futebol, neste caso da Académica, ficou indignado com o “prémio” da Champions. É que por acaso até está de serviço nesse dia, disse-nos entre sorrisos amarelos de perplexidade e um amargo de boca com tal ideia.

Mas o maior problema aqui em Portugal nem é o desnorte do Governo, pois quem cá vive já está habituado há várias gerações. O que realmente preocupa é que ninguém leva isto a sério e mesmo perante o agravar dos casos não se vê qualquer mudança de mentalidade nem de postura dos nossos líderes.

Recentemente, num fim-de-semana, estivemos em Aveiro com o intuito de irmos a uma grande superfície de materiais de construção para comprarmos alguns itens. Chegados ao parque de estacionamento demos meia-volta, após depararmos com uma fila de pessoas com mais de duzentos metros à entrada do recinto. Refira-se que actualmente o estabelecimento tem uma lotação de 250 pessoas, devido às limitações impostas pelo Covid-19. Na mesma fila, bem mais de um terço das pessoas não usavam máscara ou estavam bem próximas umas das outras.

Voltando ao tema das festas, são muitas as que vão surgindo de Norte a Sul de Portugal. Começou com uma em Lagos, no Algarve, da qual resultou um novo foco com dezenas de casos, depois uma outra na zona da Grande Lisboa e mais algumas noutras localidades. É que ainda por cima trata-se de festas realizadas em espaços fechados, sem a ventilação que a actual circunstância impõe. Na realidade, com o bom tempo que se faz sentir, se não podiam ter organizado os bailaricos ao ar-livre?!

Também é verdade que enquanto a populaça anda entretida com estes acontecimentos, que duram desde Fevereiro, pouco liga ao que de importante se vai passando. Ou quando até dedica alguma atenção nunca é pelo ângulo mais correcto. Veja-se o problema com a danificação de estátuas, à semelhança do que acontece nos Estados Unidos. Tudo começou depois da morte, após a respectiva detenção, de um cidadão negro – pessoa que por sinal já havia cometido mais crimes do que muitos de nós juntos… Mas mesmo assim foi um Deus me acuda, porque o pobre do homem morreu quando foi detido e lá estava alguém de telemóvel em punho que logo se apressou a entregar (vender, talvez…) a gravação aos Meios de Comunicação Social norte-americanos, sendo que estes não perdem uma chance para tentar destabilizar um Governo eleito democraticamente. E lá está, como a Comunicação Social divulgou insistentemente as imagens, o resto do mundo copiou. Infelizmente, Portugal foi atrás da tendência e muitas manifestações se organizaram contra o racismo, embora – note-se – muitos jovens entrevistados pelas estações de televisão não fizessem a mínima ideia do que estavam a reivindicar. Estavam ali «porque os amigos disseram para ir». Daí a vandalizarem estátuas e outro património histórico, foi um passo muito curto. Curto mas perigoso porque mostra o quanto pode ser volátil a opinião pública portuguesa – uma opinião pública facilmente manipulável porque lhe falta poder crítico e um “background” cultural que lhe dê capacidade de “separar o trigo do joio”. Engolem tudo o que lhes entra pelos olhos adentro.

Pessoalmente, tendo vivido grande parte da minha vida fora de Portugal, sendo casado com uma senhora que “não é branca” e tendo uma filha mestiça, custa-me a acreditar que Portugal seja racista. Agora, que há racismo em Portugal, acredito que sim. Basta ver as referidas manifestações que supostamente apoiam o seu combate e ver o fanatismo com que se fala e se aponta o dedo. É que o racismo não é apenas dos “brancos” para os “pretos”, é em todas as direcções! E isso, pelo que se vê, muitos esquecem.

Se em Portugal é a comunidade negra que se queixa, normalmente a que vive à custa dos subsídios, já em África são os caucasianos que sofrem. Só em Angola, nos últimos meses, foram uma dezena os portugueses mortos, o que sendo igualmente horrendo pouco é falado pelos média portugueses…

Também em Portugal, país que dizem ser racista, os negros espancam violentamente brancos e ninguém se exalta. Já ninguém se lembra, por exemplo, do jovem branco assassinado por dois jovens negros em Lisboa.

Infelizmente, o racismo surge em todas as formas e cores, muitas vezes por falta de formação cívica e de personalidade dos cidadãos. Quando todos se respeitam, as diferentes comunidades que constituem uma sociedade entendem-se e vivem em harmonia.

Também neste aspecto, Macau é um bom exemplo. Apesar de algumas crispações de tempos a tempos, que é normal na vida em comunidade, o convívio de etnias é muito bem aceite e dura há séculos. PARABÉNS MACAU!

João Santos Gomes

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