Cadaval

COISAS E LOISAS

Cadaval: Igreja Matriz, duques e bombeiros voluntários

O estilo de vida nómada por qual optámos desde que saímos de Macau em 2014, primeiro no veleiro, depois – por circunstâncias várias – em Portugal, tem-nos permitido visitar locais que em situações normais, provavelmente, nunca iríamos conhecer. A vila onde estivemos durante dois dias, na semana passada, é disso exemplo. Fica no distrito de Lisboa, bastante central e acessível, mas ainda assim nunca nos passaria pela cabeça sairmos da nossa habitual rota para a visitar. Para nós, claro está, os seus atractivos não nos diziam grande coisa.

Desde cedo que nos habituámos a gostar de sítios que nos ofereçam algo do nosso agrado: praia, rio, montanha, ou mesmo monumentos e muita história. Ora, a Vila do Cadaval pouco ou nada tem para oferecer nestas áreas, pelo que nunca havíamos equacionado esta visita de lazer. Trata-se de um pequeno município do distrito de Lisboa (como já referimos anteriormente), mas em nada tem a ver com a capital. É pois predominantemente rural, estando muito ligada à produção de vinho. Tem uma grande adega cooperativa que produz alguns tipos de vinho. Diga-se desde já que pela prova que efectuámos não são nada maus, tendo em conta os que ostentam o selo da região de Lisboa.

À excepção do sector vinícola, o Cadaval pouco mais tem. A própria vila, o seu centro, pouco ostenta de histórico. Não sendo novos, os edifícios também não são velhos. Das nossas deambulações pelas ruas, no tempo livre que antecedeu o início dos trabalhos no evento de música que à vila nos levou, apenas conseguimos vislumbrar que os Bombeiros Voluntários do Cadaval têm mais de cem anos de actividade, o que é de louvar. Neste momento estão a realizar uma campanha de angariação de fundos com o objectivo de renovar a frota automóvel. Segundo a corporação, a frota tem mais de trinta anos… É sempre nobre ajudar e apoiar os “Soldados da Paz”.

Querendo saber mais sobre esta localidade, uma simples busca na Internet revela-nos muitas informações. A Wikipedia, por exemplo, refere que “o Cadaval é uma vila portuguesa no Distrito de Lisboa, região Centro e sub-região do Oeste, com cerca de 3.000 habitantes. É sede de um município com 174,89 km² de área e 14.228 habitantes, subdividido em 7 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Caldas da Rainha, a leste por Rio Maior e pela Azambuja, a sul por Alenquer, a sudoeste por Torres Vedras, a oeste pela Lourinhã e a noroeste pelo Bombarral”.

A nossa curiosidade acerca do Cadaval estava relacionada com o facto de existir, em Évora, o Palácio do Cadaval. Depois de alguma pesquisa, verificámos que a cidade alentejana e a Vila do Cadaval têm como elo D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.º Duque de Cadaval. Foi senhor destas terras e de muitas outras, desde a zona da Figueira da Foz até ao Alentejo. Curiosamente, o título de Duque de Cadaval apenas durou seis gerações. Foi extinto em 1837. O último duque foi Nuno Caetano Álvares Pereira de Melo. A família ainda hoje existe e reside em Portugal, depois de ter vivido várias gerações em França e Inglaterra, sob o apelido Pereira de Melo. A ligação do Cadaval aos duques era quase inexistente.

Voltando ao passeio no Cadaval, apesar de tudo houve uma construção na vila que nos cativou: a Igreja Matriz. Não por ser exuberante, mas pela sua simplicidade e elegância. A igreja de Nossa Senhora da Conceição é um pequeno edifício que data, oficialmente, do século XIX. No entanto, ao observarmos a decoração interior, facilmente verificamos que ali existiu um outro templo religioso. As pinturas murais são século XVI, os azulejos, pelo que nos explicaram, são do século XVII e o retábulo (a parte que fica, normalmente, por detrás do altar) da capela-mor é do século XVIII. Estes e outros aspectos valeram-lhe a classificação de Monumento Nacional em 1996, tornando-se assim um dos pouco polos turísticos da vila.

Como pontos de interesse, destacamos a pintura oitocentista alusiva ao Santíssimo Sacramento e a tela representativa de Nossa Senhora da Conceição.

A intervenção realizada em 2003 serviu para realçar alguns atractivos da igreja: o lambril de azulejos que percorre grande parte da ermida no exterior e a imagem de São João Baptista, toda ela em madeira, para além de todo o conjunto de pinturas existentes que, aliás, foram a razão principal para os trabalhos de restauração, segundo explicou um funcionário do município que nos acompanhou na visita. Após a conclusão das obras, tudo ficou mais visível a quem visita o Cadaval e a sua igreja matriz.

No município há ainda a capela de Nossa Senhora das Neves e as igrejas de Nossa Senhora das Candeias, de Nossa Senhora da Conceição, de Nossa Senhora da Expectação, de São Tomé de Lamas, de São Vicente, de São João Baptista, de São Sebastião, e do Divino Espírito Santo. Ainda no campo religioso, resistem ao tempo as ruínas do Convento dos Dominicanos. Este “ex-libris”, que não tivemos tempo de visitar, fica no cume da Serra de Montejunto, próximo da ermida de Nossa Senhora das Neves. São os únicos vestígios do primeiro convento da Ordem de São Domingos em Portugal.

Embora não haja muito para visitar, a Vila do Cadaval é um bom local para se passar alguns dias perto de Lisboa. Boa comida, vinho aceitável e gente simpática.

A razão para lá termos ido foi um concerto organizado pela delegação da Cruz Vermelha no Cadaval, em que subiram ao palco bandas que prestam tributo a grupos famosos como os Queen, Nirvana ou Nightwish. Agora podemos afirmar que acabámos por ficar surpreendidos com o que fomos vendo nas horas vagas.

João Santos Gomes

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