CHEGOU A HORA DE ENCONTRAR NOVOS MEDIADORES PARA A PAZ

CHEGOU A HORA DE ENCONTRAR NOVOS MEDIADORES PARA A PAZ

Terra Santa em chamas

Um conflito não resolvido há demasiado tempo pode ter consequências imprevisíveis. É o que está a acontecer em Israel e Gaza, que toma os civis como reféns e sobre quem caem projécteis e bombas. Pode-se pensar de formas muito diferentes sobre a questão palestiniana, mas os mais de mil e 200 projécteis lançados, não apenas sobre Ashkelon mas também nas periferias de Jerusalém e Tel Aviv, não podem ser desconsiderados como uma retaliação pelos actos precedentes na Esplanada do Templo. São uma ameaça ao Estado de Israel. Como reacção houve centenas de operações aéreas contra estruturas do Hamas, mas é difícil evitar erros na densamente habitada Faixa de Gaza. O Hamas tem-se escondido no meio das pessoas e assume um aspecto multiforme, o mesmo método usado pelos terroristas contemporâneos. Os conflitos continuam na Cisjordânia e na Esplanada do Templo das mesquitas de Jerusalém, onde se reúnem milhares de fiéis. Nesta crise estão envolvidos os árabes-israelitas, como o demonstram os graves incidentes de Lod e a sinagoga incendiada. Se também eles, que vivem no meio de hebreus israelitas, entrarem nesta revolta, então a situação pode tornar-se ainda mais perigosa para Israel.

Esta crise é o resultado de uma espiral: no início esteve a questão das barreiras à frente da Porta de Damasco, colocadas pela policia no início do Ramadão. Depois a tradicional marcha de alguns grupos radicais hebreus dentro da Cidade Velha em memória da reunificação de Jerusalém. Tiradas as barreiras, explodiram os protestos contra Sheik Jarrah, em que treze famílias árabes foram despejadas. A Corte suprema de Israel remeteu para Julho a decisão para acalmar os ânimos. Parece um pormenor, mas faz parte dos equilíbrios de Jerusalém Oriental. A tensão agravou-se e tornou-se mais visível nos confrontos na Esplanada: a tentativa de limitar o acesso produziu o efeito contrário. Na última sexta-feira do Ramadão, mais de cinquenta mil homens costumam ir rezar, mas também para se manifestar. Foi o caos. Por fim, foram lançados os projécteis de Gaza e o conflito regressou.

Imediatamente o Presidente da Autoridade Palestiniana, Abbas, reenviou as eleições legislativas de 22 de Maio e as presidenciais de 31 de Julho. A justificação é a guerra, mas também é visível o receio de uma vitória do Hamas, por causa do Al Fatah em várias listas. Nesta altura o Hamas já se inseriu estavelmente na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Está a recuperar o ressentimento juvenil, enquanto a do Al Fatah é vista como uma velha política. O Hamas é cada vez mais uma referência dentro da sociedade árabe-israelita, especialmente para os jovens. O líder da lista árabe unida (que negociava com os outros partidos o nascimento de um novo governo israelita sem Netanyahu), suspendeu os encontros.

Os tradicionais mediadores (Egipto, ONU, Estados Unidos da América) estão em acção, mas a crise política israelita torna tudo mais difícil. Talvez seja o momento de fazer entrar os actores da Paz de Abraão também em Gaza: novos mediadores que possam garantir a segurança em Israel e travar o extremismo na sociedade palestiniana e o contágio aos árabes-israelitas. A Faixa de Gaza representa um grave problema. É uma situação impossível. Só o progresso sócio-económico pode ser a esperança para derrubar o radicalismo. É preciso a coragem de uma nova política que leve à paz.

ANDREA RICCARDI

Presidente da Comunidade Sant’Egídio

In Família Cristã

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