Porventura, o Santo Padroeiro dos Informáticos
O cardeal D. Agostino Vallini presidiu, no passado sábado, à beatificação de Carlo Acutis, em Assis, na presença dos pais, Andrea e Antonia, e dos dois irmãos do jovem que morreu aos quinze anos, com fama de santidade.
«Acutis testemunhou que a fé não nos afasta da vida, mas nos mergulha mais profundamente nela, indicando-nos o caminho concreto para viver a alegria do Evangelho. Cabe-nos percorrê-lo, atraídos pela fascinante experiência do Beato Carlo, para que também a nossa vida possa resplandecer de luz e esperança», afirmou o cardeal D. Agostino Vallini, presidente da celebração e representante pontifício.
Para o cardeal, que é também o representando do Papa para a diocese de Roma, Carlo Acutis «tinha o dom de atrair e era visto como exemplo». «Desde criança, sentia a necessidade da fé e tinha o olhar voltado para Jesus», acrescentou, citado pelo portal VaticanNews.
Carlo Acutis nasceu em Maio de 1991, em Londres onde os pais estavam a trabalhar, e faleceu em Setembro de 2006, em Monza, vítima de uma leucemia fulminante, tendo sido apresentado desde logo como modelo de santidade e um “génio” da informática.
No fim da celebração, o arcebispo de Assis-Nocera Umbra-Gualdo, D. Domenico Sorrentino, anunciou a instituição do Prémio Internacional Francisco de Assis e Carlo Acutis por uma Economia de Fraternidade, com o objectivo de «ser um estímulo» para a renovação da Economia.
No dia 1 de Outubro, após uma missa presidida por D. Domenico Sorrentino, no Santuário do Despojamento, o túmulo de Carlo Acutis foi aberto, no contexto da beatificação, para um período de veneração que termina amanhã, às 10 horas e 30 locais.
Os pais de Carlo Acutis esperam que «pela exposição do corpo, os fiéis possam elevar com mais fervor e fé as orações a Deus».
«O verdadeiro milagre de Carlo Acutis é a conversão de fiéis», referiu o reitor do santuário do Despojamento, frei Carlos Acácio Gonçalves Ferreira, franciscano capuchinho brasileiro.
Em Portugal foi publicado, em 2019, o livro “Não eu, mas Deus – Biografia espiritual de Carlo Acutis”, onde o padre Ricardo Figueiredo, do Patriarcado de Lisboa, apresenta a história de vida do jovem que descobriu quando foram aprovadas as suas virtudes heroicas, em Julho de 2018.
«Carlo começa desde pequenino a dar sinais de fé e de amor a Jesus, com várias histórias que se vão contando, das amas, da própria mãe», disse em entrevista à Agência ECCLESIA.
Segundo o padre Ricardo Figueiredo, autor do livro publicado pela Paulus Editora, Carlo Acutis cresceu com um percurso «normal de vida»; é um «jovem normalíssimo na escola», onde também «cuida da vida cristã» e em frente aos colegas «mostra o desejo de ter formação cristã». Por exemplo, num debate na sua turma, foi «o único contra o aborto». Revelou-se também «um grande informático» e, por isso, espera que o jovem venha a ser declarado como santo padroeiro dos informáticos, mostrando «como a informática é meio de santificação pessoal e também dos outros».
O livro “Não eu, mas Deus – Biografia espiritual de Carlo Acutis” tem também uma memória fotográfica onde mostra a passagem do agora beato por Portugal, nomeadamente Lisboa e Fátima.
PAPA FRANCISCO: «NINGUÉM ESTÁ EXCLUÍDO DA CASA DE DEUS»
Um dia após a beatificação de Carlo Acutis, o Papa afirmou no Vaticano que as comunidades católicas devem ir ao encontro dos mais desfavorecidos da sociedade, sem excluir ninguém. «Ninguém está excluído da casa de Deus», referiu Francisco, antes da recitação da oração do Ângelus, na Praça de São Pedro.
Perante milhares de peregrinos que acorreram ao Vaticano, apesar da chuva, o Papa reflectiu sobre a passagem do Evangelho, lida durante a Eucaristia em todas as igrejas do mundo: um rei que organiza uma festa e que procura convidados entre as pessoas «excluídas». «A Igreja é chamada a chegar à encruzilhada de hoje, isto é, às periferias geográficas e existenciais da humanidade, aos lugares à margem, àquelas situações em que se encontram acampados e vivem fragmentos de humanidade sem esperança», indicou Francisco.
A intervenção desafiou os católicos a abrir «portas», porque «o Evangelho não está reservado a poucos eleitos».
Neste contexto, o Papa deu como exemplo o novo beato Carlos Acutis, jovem «apaixonado pela Eucaristia». «Ele não se conformou a um imobilismo cómodo, mas acolheu as necessidades do seu tempo, porque via o rosto de Cristo nos mais fracos», observou.
Referindo-se à beatificação do jovem italiano, o Santo Padre falou de um testemunho de vida para as novas gerações: «A verdadeira felicidade encontra-se colocando Deus em primeiro lugar e servindo-O nos irmãos, especialmente os últimos», declarou, antes de pedir um aplauso para o novo «jovem beato millenial».
Numa passagem improvisada do seu discurso, Francisco relatou que na tarde de sábado conversou telefonicamente com um missionário no Brasil, que «trabalhou sempre com os excluídos, com os pobres».
«Vive a velhice em paz, gastou a sua vida com os pobres. Esta é a nossa mãe Igreja, este é o mensageiro de Deus, que vai às encruzilhadas do caminho», assinalou.
No Brasil foi noticiado, também no sábado, que o Papa telefonou ao padre Julio Renato Lancellotti, vigário-episcopal para a Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo, que tem recebido ameaças pelo seu trabalho com os sem-abrigo e outra população marginalizada.
In ECCLESIA