Lemos no ponto 1813 do Catecismo da Igreja Católica qualquer coisa como: “As virtudes teologais são o fundamento da actividade moral cristã (…). Elas enformam e dão vida a todas as virtudes morais”.
As virtudes estão harmoniosamente interligadas: uma à outra, sendo enformadas pelo amor, e pela caridade que é a virtude acima de todas as outras (cf. CIC n.º 25), a mãe de todas as virtudes (cf. São Tomás de Aquino, “Suma Teológica”). De facto, a caridade é a virtude!
A vida de um cristão autêntico é uma vida virtuosa: seguir o Virtuoso Jesus Cristo, Deus e Homem. Escreve Santo Astério de Amaseia: “Vós sois cristãos e esse próprio nome significa que acreditam na caridade. Devem imitar a caridade e o amor de Cristo”.
Uma vida virtuosa é a vida de um discípulo de Cristo que pratica as virtudes: as Sete Virtudes Magníficas, que segundo São Tomás de Aquino fazem um bom cristão, a saber: fé, esperança e caridade (as virtudes teologais), e prudência, justiça, fortaleza e temperança (as virtudes morais humanas cardeais).
Como seres humanos, precisamos ter virtudes humanas, ou disposições firmes da alma, como a justiça e a solidariedade. Como cristãos em particular, precisamos, acima de tudo, das virtudes teologais, que não são adquiridas por nós, mas infundidas por Deus. Elas são dons de Deus para nós – para todos. O Deus omnipotente e misericordioso dá graças suficientes a todos: para poder obter a salvação, o céu. Ninguém poderá dizer: “Senhor, não me ajudaste o suficiente!”. Ele sempre nos ajuda muito mais do que o suficiente.
O dom radical de Deus é a graça, que eleva o nosso ser à vida sobrenatural ou divina. Na Teologia, a graça é chamada de princípio estável e entitativo da vida, enquanto as virtudes teologais – e outras virtudes morais infundidas – são chamadas de princípios operativos dinâmicos, que produzem boas acções para a Salvação. São Tomás escreve: “A fé gera a esperança, e a esperança gera a caridade” (ST).
As três virtudes teologais da fé, esperança e caridade são três maneiras de responder a Deus: a fé é a raiz da vida cristã; a esperança é a sua orientação e a caridade a sua substância (Hans Urs von Balthasar). O teólogo protestante Jonathan Wilson descreve a fé de forma belíssima como sendo a maneira cristã de conhecer, a esperança como a maneira cristã de ser, e a caridade como a maneira cristã de agir.
As três virtudes teologais estão inseparavelmente unidas: dadas por Deus e focadas em Deus. A esperança está intimamente ligada à fé e à caridade; a fé garante as bênçãos da esperança (cf, Hb., 11, 1); e a esperança não é enganosa porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações (cf. Rm., 5, 5).
São Paulo fala das três virtudes teologais como a grande tríade das virtudes cristãs (cf. 1 Cor., 13, 13; Col., 3, 14). A maior das três é a caridade. Na tradição cristã, só a caridade dá perfeição à fé e à esperança – e a todas as virtudes. Sem caridade, as virtudes teologais da fé e da esperança não podem ser fecundas. A fé e a esperança sem a caridade não são capazes de alcançar o Reino. A caridade é a forma, a vida de todas as virtudes, especialmente das suas duas irmãs, ou seja, a fé e a esperança. São João da Cruz escreveu que “sem caridade, nenhuma virtude é graciosa diante de Deus” (“Noche oscura”). Três virtudes teologais, nem mais nem menos. Porquê? São Tomás de Aquino responde: porque “a salvação humana consiste em conhecer a verdade [fé] (…), na intenção de um fim adequado [esperança] (…), na observância da justiça [justiça caritativa]” (in “Compendium Theologiae”).
A fé aperfeiçoa o intelecto, e a esperança e a caridade aperfeiçoam a vontade. Uma vez que estas virtudes são inclinações sobrenaturais, elas elevam e aperfeiçoam as inclinações naturais. A fé aperfeiçoa a inclinação natural para compreender a verdade. A esperança aperfeiçoa a inclinação natural para amar a si mesmo, e a caridade aperfeiçoa a inclinação natural para amar os outros. “A fé causa uma participação sobrenatural no conhecimento divino, e a esperança e a caridade causam uma participação sobrenatural no amor divino”. “Portanto, embora a fé cause a esperança, que causa a caridade, a caridade aperfeiçoa tanto a fé como a esperança” (John Rziha, “The Christian Moral Life, Directions for the Journey to Happiness”).
A fé é considerada a virtude mais básica, a caridade a mais perfeita, e a esperança, talvez, a mais urgentemente necessária na nossa vida terrena: a esperança fiel e amorosa. Dizia-se: “Dum spiro, spero” – enquanto respirar, espero. Santo Agostinho disse e bem: “Vita vitae mortalis, spes est vitae immortalis” – a vida da vida mortal é a esperança da vida imortal.
Afinal, as pessoas não podem viver sem esperança… As pessoas podem viver sem fé e, aparentemente, muitas vivem. Muitas também vivem sem amor. Mas sem esperança, sem algo que as impulsione para a frente, simplesmente não podem continuar (Michael Downey, “Hope Begins Where Hope Begins”).
Qual é a resposta para a situação real da existência humana? É principalmente a esperança: “A virtude da esperança é a virtude primária correspondente ao status viatoris; é a virtude autêntica do ‘ainda não’” (J. Pieper).
A caridade é a virtude mais perfeita, é a virtude! A caridade como amor divino em nós (também, ao nível natural, o verdadeiro amor humano) dá o sentido mais profundo à vida: “Viver é amar” (E. Mounier). “Uma vida humana sem amor é inimaginável” (Gaspar Ortega Villaizán). Uma vida cristã sem caridade é vazia e superficial. De facto, eu amo, portanto eu realmente existo.
As virtudes humanas da fé, da esperança e do amor não conduzem às virtudes teologais, que estão – como a graça – além e acima do alcance humano: “Entre a fé humana e a fé cristã existe um abismo”. Para saltar da fé humana para a fé cristã, é necessária “uma certa experiência de Deus e da sua ajuda” (G. Ortega).
E para concluir: a caridade é a virtude número um. Ela precisa da fé como base, da esperança como anseio e das outras virtudes infundidas como pés e mãos. A fé encontra a sua expressão no amor. E a esperança não decepciona porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (cf. Rm., 5, 5). Assim, toda a vida moral do cristão está centrada na caridade. As outras virtudes, para serem verdadeiras virtudes, devem tornar-se mediações da caridade. Então, ama verdadeiramente, “e faz o que quiseres” (Santo Agostinho).
Pe. Fausto Gomez, OP